Primeiro orador “desmonta” conceitos e desafia cristãos a serem irmãos em Cristo
A XXI Semana Bíblica Diocesana nos Açores, organizada pelo Secretariado Bíblico de São Miguel, em colaboração com a Diocese de Angra e o Movimento de Dinamização Bíblica Nacional, começou esta segunda feira com um apelo a todos os cristãos para viverem um verdadeiro amor fraterno em Cristo.
“Deus é Pai porque Jesus se fez nosso irmão e isso faz com que todos os cristãos, cada um de nós, trate o outro como irmão”, disse o Pe Marco Gomes, que inaugurou o ciclo de conferências da Semana Bíblica que decorre até sexta feira, dia 27, na igreja de Nossa Senhora de Fátima em Ponta Delgada.
Inspirada no tema “Santificados pela Palavra”, o sacerdote, que é pároco na Fajã de Cima, apresentou uma comunicação intitulada “Jesus Cristo, consagrado do Pai para o mundo”, onde procurou desmontar cada um destes termos.
Para o sacerdote o termo “pai” vem dos tempos ancestrais mas sempre houve nos primeiros textos uma “resistência” a esta palavra.
“É com os profetas que Deus aparece como pai, no sentido da proteção, da segurança, da defesa e da eleição”, frisou o sacerdote sublinhando a importância deste conceito não no sentido fisiológico da criação mas no sentido da eleição.
“Deus é pai porque nos elegeu como filhos e nos conduz”, referiu ainda.
“Jesus refere-se a Deus como `Abbâ´- papá- e relaciona-se com Ele com uma enorme liberdade, diria mesmo com uma enorme intimidade”, disse o Pe Marco Gomes.
Depois, referindo-se à ideia de Cristo, “que quer dizer Messias, ungido, enviado” , o padre da Fajã da Cima alertou para o facto de Jesus “nunca se colocar nessa condição, no sentido guerreiro ou militar”, mas no sentido de um “Cristo sofredor, alguém que dá a vida por nós, é eleito pelo Pai e mantém com ele uma relação de profundidade”.
A XXI Semana Bíblica dos Açores foi aberta pelo ouvidor de Ponta Delgada, em representação do Bispo de Angra.
O Cónego José de Medeiros Constância começou por fazer uma saudação ao trabalho feito pelo Secretariado Bíblico, que a nível local quer a nível nacional- “que bom o que se tem feito”- mas alertou para a necessidade de haver um maior “recentramento” na Palavra de Deus.
“Pela Bíblia mais e mais. Às vezes dá a ideia de que estamos de costas voltadas para ela; seguimos as tradições mas não as alimentamos com a palavra de Deus”, frisou o responsável pela ouvidoria de Ponta Delgada.
E deixou um aviso: “Se continuarmos a viver as tradições inseridas numa religiosidade popular sem lhes dar substância perde-se o sentido teológico da palavra de Deus”.
“São precisas leituras plurais da palavra para além das catequeses muito viradas para a preparação dos sacramentos”, disse ainda, lembrando que “é necessária uma mobilização de todos” no conhecimento, meditação e interpretação da palavra de Deus para que na “essa interiorização corresponda uma aplicação prática”.
Esta terça feira falar-se-á de Comunicação e amanhã será proferida uma conferência “O Povo de Deus, um Povo de Consagrados num mundo secularizado”, pela Irmã Tânia da Encarnação (religiosa de São José de Cluny); no quarto dia será a vez de Frei Herculano Alves que proferirá uma conferência sobre “O Profano, o Religioso, o Sagrado e o Consagrado” e a encerrar as conferências o Pe Ricardo Tavares falará sobre “Profetas, os Consagrados à Palavra”.
Todas as sessões serão animadas por grupos de jovens a saber do primeiro ao último dia: Grupo de Jovens “Shalom” Água de Pau; Grupo de Jovens “Os Samaritanos”, Fajã de Cima; Grupo de Jovens “Jovens Caminhantes”, dos Arrifes e o Grupo de Jovens da Catequese da Maia.
A Semana Bíblica terminará com uma Eucaristia que será presidida pelo novo assistente deste serviço o Pe Vitor Medeiros, Pároco da Ribeirinha, na Ribeira Grande, na ilha de São Miguel.
A Semana Bíblica é aberta a toda a comunidade e foi despertada a nível nacional por Frei Inácio de Vegas, que há 60 anos deu origem ao Movimento Bíblico, procurando contagiar as pessoas com a Palavra de Deus. As Semanas Bíblicas começaram em 1956, no entanto só começaram a ter regularidade anual em 1979.
Desde então, todos os anos, este encontro procura ser uma “matriz inspiradora” para o trabalho dos diversos grupos bíblicos ao longo dos próximos 12 meses, respondendo aos desafios dos Papas, dos Sínodos e do próprio Movimento Bíblico.
Um dos focos desta reflexão tem sido a ideia de que a “Palavra de Deus não pode ser teoria, tem de ser uma vida que contagie outras pessoas”.
A Semana Bíblica Nacional decorre anualmente na última semana de agosto e atrai a Fátima muitos daqueles que, regularmente, estudam os textos bíblicos em pequenos grupos de reflexão.