Opinião é do Pe João Chaves, açoriano, que esteve 15 anos ao Serviço da Congregação para o Culto Divino e Sacramentos, em Roma
Os Bispos portugueses iniciam no próximo dia 4 uma visita ad limina a Roma, na qual participará o Bispo de Angra (que fará a terceira visita ad limina do seu episcopado), mas para o Pe João Chaves trata-se de um “momento simbólico” para “reforçar a ideia de comunhão entre a igreja Universal e a particular”.
Numa entrevista ao Sítio Igreja Açores, o sacerdote lembra um pouco da história destas visitas para sublinhar que hoje “face à facilidade e aos canais de comunicação ”que existem entre a Santa Sé, as conferências Episcopais e as Dioceses, “ninguém está à espera desta visita para resolver problemas” pois quando existe algum “o Bispo respetivo mete-se no avião e vai a Roma”.
Por isso, “há mais valor simbólico do que utilidade” nestas visitas que se realizam de cinco em cinco anos, com o intuito de visitar o tumulo dos apóstolos Pedro e Paulo e encontrar-se, particularmente, com o sucessor de Pedro.
Assim, a visita ad limina pressupõe uma paragem no tumulo de Pedro, outra no de Paulo, na Basílica de São Paulo Fora de Muros e ainda visitas às basílicas de São João Latrão e Santa Maria Maior. Estas visitas são em grupo, embora com o Papa haja uma visita em grupo e depois outra individual que dura entre 10 e 15 minutos. Em Roma de 15 em 15 dias há uma visita ad limina, cabendo ao Papa receber todos os bispos católicos do mundo inteiro.
O périplo da visita é quase “sempre o mesmo”. No encontro privado com o Papa, “há um diálogo sobre a diocese”; depois vai-se à Secretaria de Estado e à Congregação dos Bispos, sem esquecer a Congregação para a Doutrina da Fé, ou a do Culto Divino e Sacramentos ou a do Clero, refere o padre açoriano até há bem pouco tempo o responsável pela pastoral missionária na diocese de Angra.
O sacerdote da Congregação dos Padres do Sagrado Coração de Jesus é natural de Santa Maria, a terra natal do Bispo de Angra e com ele saíu dos Açores para estudar no Colégio dehoniano do Funchal. Depois seguiram para Coimbra juntos e ambos pertencem à Congregação fundada pelo Pe Dehon.
“Gostei imenso dos 15 anos que servi na Congregação do Culto Divino onde preparei muitas visitas ad limina, e isso deu-me um grande conhecimento sobre o funcionamento da Igreja e a forma como se vive a liturgia dentro da Igreja”, disse ainda o Pe João Chaves.
No entanto reconhece que hoje, devido aos novos canais de comunicação, estas visitas “têm porventura uma eficácia mais simbólica”.
“Ninguém espera por elas para resolver o que quer que seja. Hoje, a Santa Sé, quando tem dúvidas sobre uma determinada igreja contacta a nunciatura ou a Conferência Episcopal e resolve o assunto rapidamente”, reconhece.
As Visitas ad Limina foram estabelecidas de uma forma “mais clara” no Pontificado de Sisto V, em 1585, através da constituição Romanus Pontifex. Essas regras foram revistas em dezembro de 1909 pelo Papa S. Pio X, através de um decreto sobre a Congregação Consistorial, fixando que cada bispo deveria enviar ao Papa um relatório sobre o estado da sua diocese de 5 em 5 anos, começando em 1911.
Estas visitas remontam, no entanto, aos primeiros séculos do cristianismo, embora sem este carácter obrigatório. De resto, o Concilio de 743, presidido pelo Papa Zacarias, decretou que os bispos no Ocidente deviam ser consagrados pelo Papa e anualmente os que residissem perto de Roma deveriam visitar a Santa Sé e os que estavam longe deveriam escrever anualmente ao Santo Padre. A visita só se tornaria obrigatória, por assim dizer, no século XI.
A visita continua a ser precedida do envio de um relatório sobre o estado de cada diocese, que é lido pelos vários responsáveis da Cúria Romana, distribuídos pelos diferentes dicastérios, por onde também se estende a visita dos bispos nesta ocasião. Os dicastérios mais visitados são os do Clero, dos bispos, do Culto Divino e Sacramentos e também a Congregação para a Doutrina da Fé.
“Nos 15 anos que passei em Roma tive a possibilidade de perceber o estado de muitas igrejas locais. Os problemas culturais da igreja na Europa; a vitalidade da América Latina; as dificuldades em África e na Ásia… é uma experiência que enriquece qualquer pessoa” e, sobretudo, “deixava-me tempo livre para refletir ao contrário do que acontece num trabalho pastoral, ligado a uma paróquia em que os problemas dos nossos paroquianos não nos deixam dormir”.
O Pe João Chaves Bairos esteve em Roma durante dois pontificados, “distintos na forma” mas no que “era essencial estavam próximos”, refere.
“No Pontificado de João Paulo II a Secretaria de Estado era uma aliada da nossa congregação: bebia ainda muito no Vaticano II; com Bento XVI, talvez tenha havido um avanço de algumas correções mais paternalistas sobretudo contra alguns abusos que aqui ou ali vinham sendo praticados, mas no essencial não divergiram muito”, conclui.