O compromisso do Conselho Pastoral de ouvidoria será apresentado amanhã na Igreja das Lajes, na festa em honra de Nossa Senhora do Rosário
A Igreja da ilha das Flores prepara-se para dar um passo importante na construção de uma “comunhão eclesial” assente na corresponsabilidade de leigos e padres na condução pastoral, litúrgica e económica das comunidades paroquiais.
O Conselho Pastoral, reativado este ano e que reúne representantes de todas as comunidades paroquiais da ilha (11 no total), passará a integrar também representantes de serviços e movimentos. Por outro lado, as paróquias irão ter conselhos para os assuntos económicos, liderados por leigos, devolvendo-lhes a capacidade de gestão e administração dos bens da Igreja juntamente com o pároco.
“Penso que assim poderemos implementar uma Igreja mais laical: equipas compostas por leigos que assistidos por sacerdotes prosseguem as atividades pastorais da Igreja” afirmou o bispo de Angra ao Sítio Igreja Açores este sábado, quase que em jeito de balanço desta visita pastoral, a primeira que efetuou como bispo titular da diocese, um ano e meio depois de ter entrado em Angra, e que termina amanhã, domingo com uma celebração em honra de Nossa Senhora do Rosário, nas Lajes.
“Queremos na diocese que os leigos assumam as suas responsabilidades: o que sabe fazer um leigo não deve fazer o padre . Os leigos são homens e mulheres fantásticos que estão por toda a diocese e são pessoas capazes, e com formação, poderão coordenar aquilo que a todos diz respeito”, afirma D. Armando Esteves Domingues.
“O Sínodo dos bispos aponta para isto: todos são chamados a envolver-se e a decidir – era aqui que o problema se colocava- e hoje vemos que é esse o caminho. Já não é só o Papa, o bispo ou o padre que decide mas todos são corresponsáveis pela decisão de acordo com aquela que é a realidade própria de cada lugar e de cada ambiente”, clarifica ainda o prelado realçando que esta “leitura da realidade já se faz há muitos anos” embora “ não a ponhamos sempre em prática”.
“A Igreja Povo de Deus é isto: uma Igreja que não está centrada nos sacerdotes, que considera os leigos e com eles, em conjunto, caminha”.
Durante esta semana, D. Armando Esteves Domingues recorda que “colheu” dos leigos esta vontade de “caminhar em conjunto”.
“Os leigos não substituem os padres mas há ministérios laicais que estão subvalorizados e agora é preciso retomar” acrescenta o bispo de Angra lembrando que na ilha já existem sinais claros de que o caminho está a ser trilhado, nomeadamente no Centro de Bem Estar Social, Creche e Jardim de Infância o Girassol, na Cáritas, que agora assume uma nova direção presidida por um leigo, à semelhança do que já acontece no serviço da família que é liderado por um casal.
“Uma visita pastoral é também um momento de auto exame: aprendemos todos a partir da realidade e refletimos sobre ela e o que encontrei aqui nas Flores foi uma baixa prática religiosa, com uma assiduidade a devoções particulares intensa e quem quem está nas comunidades são autênticas jóias de doação, de entrega e de generosidade. Senti aqui muitas pessoas verdadeiramente missionárias”, afirmou ainda D. Armando Esteves Domingues, que reafirmou ter querido começar as suas visitas pastorais “no lugar onde começa a Europa”.
“Vim para caminhar com as pessoas, procurando com elas formar uma comunidade de discípulos como Jesus também fazia. Vim com intenção de encontrar, conhecer, relacionar-me com as pessoas e, no início, devo confessar que até me faltavam as palavras mas a partir do momento em que comecei a conhecer as pessoas e a mergulhar com elas nas suas próprias vivências, na forma como estão umas com as outras, estamos todos mais à vontade”, refere.
“Uma das coisas mais importantes é o relacionamento. A Igreja é isto: conhecermo-nos e considerarmo-nos. Há muitas prioridades mas a prioridade do Cristão é amar e nós só podemos amar o que conhecemos”, refere.
Neste balanço da visita pastoral, o prelado reconhece os problemas de uma ilha pequena e periférica: o envelhecimento dos que ficam, a saída dos mais jovens, que não regressam, a desertificação de muitas comunidades, mas também o zelo dos que trabalham.
“A desertificação é um desafio dos meios pequenos, afirma sublinhando contudo a ideia de que a proximidade física existente não pode depois traduzir-se numa indiferença face ao outro.
“A proximidade física, de viver ao lado da porta, não significa depois proximidade afetiva e julgo que isso tem de ser melhor trabalhado”, refere defendendo novas formas de relação com a população mais idosa e até com a população imigrante que começa a ser uma presença significativa na ilha das Flores.
“Aqui sente-se muito a insularidade” acrescenta.
“ Para um padre, um professor ou um médico viver aqui não será porventura uma tentação, mas nas Flores ainda temos 3 sacerdotes que são estimados pelas pessoas”, mas no futuro “duvido que possamos ter aqui tantos sacerdotes”.
“A sociedade de hoje já não é centrada numa pessoa e as comunidades não vivem centradas apenas numa pessoa; são todos os que nela habitam que contam. Por isso, uma das prioridades é que esta ilha seja uma comunidade de comunidades, onde o sacerdote, sendo importante, é mais um membro dessa comunidade”.