O Vaticano confirmou hoje o programa da visita de Francisco ao Iraque, a primeira de um Papa ao país do Médio Oriente, de 5 a 8 de março, com passagens por localidades destruídas pelo Estado Islâmico.
A agenda papal inclui encontros com a comunidade católica, que tem 590 mil pessoas, cerca de 1,5% da população iraquiana, além de cristãos de outras Igrejas e confissões religiosas, líderes políticos e o grande aiatola Ali Sistani, a maior autoridade xiita do país.
O porta-voz do Vaticano, Matteo Bruni, sublinhou hoje, num encontro com jornalistas, que esta é a primeira viagem de um pontífice a um país muçulmano de maioria xiita.
Em 2019, nos Emirados Árabes Unidos, Francisco assinou uma declaração sobre a Fraternidade Humana com o xeque Ahmed al-Tayeb, grande imã de Al-Azhar, a mais alta instituição do Islão sunita.
O Papa vai passar por Bagdade, Najaf, Ur – a terra natal do patriarca Abraão, figura de referência para judeus, cristãos e muçulmanos, Erbil – capital do Curdistão iraquiano – Mossul e Qaraqosh.
Em 2003, havia cerca de 1,4 milhões de cristãos no Iraque, mas estima-se que hoje sejam cerca de 250 mil, uma diminuição de mais de 80% em menos de duas décadas.
Antes do exílio, a maioria dos cristãos estava na província de Nínive, cuja capital é Mossul, particularmente atingida pela ação do Daesh.
A viagem do Papa começa em Bagdade, capital do país, esta sexta-feira, onde decorrem encontros com o presidente do Iraque, autoridades políticas e representantes da sociedade civil, antes do primeiro encontro com os membros da comunidade católica, na catedral de “Nossa Senhora da Salvação” – onde 48 pessoas foram mortas em 2010.
No sábado, o Papa viaja até Najaf, para a visita de cortesia ao grande Aiatola Sayyid Ali Al-Husayni Al-Sistani, seguindo-se o encontro Inter-religioso na Planície de Ur.
Ainda no sábado, de regresso a Bagdade, o Papa preside à Missa, em rito caldeu, na Catedral de São José, que em 2010 foi alvo de um ataque terrorista da Al-Qaeda.
A comunidade caldeia (rito oriental da Igreja Católica) no Iraque reza na mesma língua de Jesus, o aramaico, e sobrevive há cerca de 2 mil anos sem nunca ter tido um rei ou um império cristão no território; o porta-voz do Vaticano sublinhou que Francisco será o primeiro Papa a presidir a uma Missa neste rito.
No domingo, Francisco encontra-se com autoridades religiosas e civis da Região Autónoma do Curdistão Iraquiano, no aeroporto de Erbil, antes da simbólica oração de sufrágio pelas Vítimas da Guerra no ‘Hosh al-Bieaa’ (praça da igreja) em Mossul.
Este local, próximo da cidade bíblica de Nínive, tem quatro igrejas danificadas ou destruídas pelo autoproclamado Estado Islâmico.
A viagem prossegue com uma visita à comunidade de Qaraqosh, na Igreja da Imaculada Conceição, que também tinha sido destruída pelos jihadistas, antes da Missa no Estádio “Franso Hariri”, em Erbil, com participação prevista de 10 mil pessoas.
A celebração vai contar com a exposição da imagem de Nossa Senhora de Karemlesh, danificada pelos terroristas do Estado Islâmico.
A visita conclui-se a 8 de março, com a cerimónia de despedida no Aeroporto Internacional de Bagdade.
Toda a comitiva papal e os jornalistas que acompanham a viagem foram vacinados contra a Covid-19.
Matteo Bruni considerou “provável” que o Papa use um carro blindado, nas suas deslocações, e admitiu que, por causa da pandemia, esta será uma viagem “diferente”, considerando-a como uma das “mais interessantes” do pontificado.
Francisco vai ter a companhia, entre outros, do cardeal Fernando Filoni, antigo núncio apostólico no Iraque que decidiu permanecer em Bagdade, durante os bombardeamentos de 2003; a comitiva inclui ainda uma enfermeira dos serviços de saúde do Vaticano, como sinal de agradecimento pelo seu trabalho durante a crise de Covid-19.
(Com Ecclesia)