A Congregação para o Clero (Santa Sé) publicou hoje a Instrução “A conversão pastoral da comunidade paroquial a serviço da missão evangelizadora da Igreja”, propondo paróquias centradas na sua ação missionária.
“Um tal projeto missionário comum poderia ser elaborado e realizado em relação a contextos territoriais e sociais contíguos, isto é, em comunidades confinantes ou unidas pelas mesmas condições socioculturais ou em referência a âmbitos pastorais afins, por exemplo, no quadro duma necessária coordenação entre pastoral juvenil, universitária e vocacional, como já acontece em várias dioceses”, refere o documento, divulgado hoje pelo Vaticano.
O texto leva em consideração a tradicional ligação das paróquias a um território específico, sublinhando que em muitos lugares as mesmas têm hoje “contextos sociais e culturais profundamente mudados”.
A instrução defende que a paróquia seja um “lugar” que favorece “o estar juntos e o crescimento das relações pessoais duradoras”, desenvolvendo a “arte da proximidade”.
As comunidades paroquiais, “casas no meio das casas”, são desafiadas à “criatividade” para que se tornem “centro propulsor da evangelização”.
“A ação pastoral tem necessidade de ir além somente da delimitação territorial da paróquia, de fazer transparecer mais claramente a comunhão eclesial através da sinergia entre ministérios e carismas diversos e, não menos, de estruturar-se como uma ‘pastoral orgânica’ a serviço da diocese e da sua missão”, indica o Vaticano.
“Trata-se dum agir pastoral que, através de uma efetiva e vital colaboração entre presbíteros, diáconos, consagrados e leigos e entre diversas comunidades paroquiais de uma mesma área ou região, preocupa-se de individuar junto as questões, as dificuldades e os desafios relativos à evangelização”, afirma o documento.
O guia para as paróquias, em 124 pontos, aborda a pastoral das comunidades paroquiais e os vários ministérios clericais e leigos, procurando maior corresponsabilidade, sem deixar de destacar o papel central do pároco como “pastor adequado” da comunidade.
“O ofício de pároco não pode ser confiado a um grupo de pessoas, constituído por clérigos e leigos. Por consequência, devem-se evitar denominações como, ‘equipa guia’ ou outras semelhantes, que pareçam expressar um governo colegial da paróquia”, adverte a Santa Sé.
O documento rejeita que leigos ou diáconos possam “presidir à comunidade paroquial”, por considerar que essa missão compete ao pároco.
“Parece ser mais apropriada, por exemplo, a denominação de ‘diácono cooperador’ e, para os consagrados e os leigos, de ‘coordenador pastoral’”, indica a instrução.
Em circunstâncias excepcionais, os leigos podem celebrar a Liturgia da Palavra e o rito das exéquias, administrar o Batismo e auxiliar nos matrimónio, com a permissão prévia da Santa Sé, e pregar na igreja ou no oratório, em caso de necessidade, mas “não podem em nenhum caso proferir a homilia durante a celebração da Eucaristia”.
O texto recomenda a criação de um Conselho Pastoral Paroquial, com o objetivo de “pesquisar e estudar propostas práticas em ordem às iniciativas pastorais e caritativas que dizem respeito à paróquia, em sintonia com o caminho da diocese”.
O organismo da Santa Sé toma em consideração vários projetos de reforma das comunidades paroquiais e reestruturação diocesana, que decorrem em vários países do mundo, incluindo Portugal, dedicando particular atenção à questão da “unidade e áreas pastorais”.
“A fim de valorizar uma ação evangelizadora de conjunto e um cuidado pastoral mais eficaz, convém que se constituam serviços pastorais comuns para determinados âmbitos (por exemplo, catequese, caridade, pastoral da juventude ou familiar) para as paróquias do reagrupamento, com a participação de todos os componentes do Povo de Deus, clérigos, consagrados e fiéis leigos”, indica a Congregação para o Clero.
Mons. Andre Ripa, subsecretário da Congregação para o Clero, destaca num comentário à instrução enviado à Agência ECCLESIA, que o sentido do documento é recordar que “na Igreja há lugar para todos e todos podem encontrar o seu lugar”, procurando valorizar cada carisma e preservar a Igreja de algumas possibilidades de “desvios”, como “clericalizar” os leigos ou “laicizar” os clérigos.
O documento remete às indicações do Papa Francisco, na “perspetiva de uma Igreja em saída, capaz de ir ao encontro das almas que têm fome e sede de Deus, com o olhar voltado principalmente aos mais necessitados e aos pobres”.
Outro tema abordado é o da finalidade das coletas e ofertas recolhidas na celebração da Missa e dos Sacramentos, como “uma importante forma de consciencializar a participação dos fiéis e o compromisso para com as necessidades da Igreja e sustentar a sua missão evangelizadora”.
“Trata-se de uma oferta que, por sua natureza, deve ser um ato livre da parte do ofertante, deixando a sua consciência e ao seu senso de responsabilidade eclesial, não um ‘preço a pagar’ ou uma ‘taxa a exigir’”, sublinha o Vaticano.
(Com Ecclesia)