Secretário-geral espera discussão aberta após consulta alargada às comunidades católicas por iniciativa do Papa
O Vaticano apresentou esta sexta feira as novidades e o programa da próxima assembleia extraordinária do Sínodo dos Bispos, que começa no domingo, convocado pelo Papa para debater os ‘desafios pastorais da família no contexto da evangelização’.
O cardeal Lorenzo Baldisseri, secretário-geral do Sínodo, disse aos jornalistas que o processo iniciado em 2013 mostrou uma “grande liberdade de expressão”, que também vai caraterizar esta assembleia sinodal, entre os dias 5 e 19 deste mês.
Este responsável admitiu que “as pessoas têm muitas expectativas” e disse que “têm de esperar” pelo desenrolar do debate que visa apresentar a “doutrina autêntica da Igreja” no “contexto presente”, que mudou nas últimas décadas.
O cardeal italiano deixou votos de que a discussão decorra num “clima de respeito por cada posição”, com “verdadeiro sentido construtivo” e evitando “fazer prevalecer” o ponto de vista de cada um.
D. Lorenzo Baldisseri assume a intenção de olhar para os “desafios globais” em busca de “convergência”.
A assembleia geral extraordinária, primeira em quase 30 anos, visa enfrentar um “tema particularmente urgente” com indicações adequadas ao “momento atual”, acrescentou.
O secretário-geral do Sínodo precisou, por isso, que o Sínodo quer “falar da família, não do divórcio”, pedindo que se evite a “monopolização” mediática com “temas do Ocidente”.
“A Igreja deve abeirar-se de todos estes problemas, com misericórdia, como disse o Papa”, acrescentou.
O Papa Francisco, que vai inaugurar os trabalhos do Sínodo, intervirá quando “julgar oportuno”, na assembleia conciliar.
O cardeal Baldisseri elogia a opção de “interpelar” as pessoas, num inquérito global, sobre os temas que lhes dizem respeito e sustenta que “é importante expressar-se claramente e com coragem” durante este Sínodo “inovador”.
Cada sessão de trabalhos (congregação), a partir de segunda-feira, vai começar com o anúncio do tema e a intervenção de um casal, seguindo a ordem do documento de trabalho (‘instrumentum laboris’).
Os participantes, nos quais se inclui o presidente da Conferência Episcopal Portuguesa, D. Manuel Clemente, enviaram a sua intervenção antecipadamente e as suas observações vão ser tidas em consideração no relatório prévio (‘relatio ante disceptationem’).
No final da primeira semana será publicado um relatório de síntese das intervenções (‘relatio post disceptationem’), para servir como base de trabalho nos “círculos menores” para a elaboração do relatório final.
Entretanto, sabe-se que as propostas pastorais para os católicos divorciados que voltaram a casar foram um dos temas que geraram maior debate na preparação para a próxima assembleia extraordinária do Sínodo dos Bispos, com início marcado para domingo.
A discussão tem estado centrada nas propostas do cardeal Walter Kasper, que introduziu os trabalhos do consistório de 21 e 22 de fevereiro deste ano, convocado pelo Papa Francisco.
O cardeal alemão foi alvo de várias críticas, na sequência da sua posição em relação à possível admissão de divorciados recasados à Comunhão, depois de um período de “nova orientação (metanoia)” e da Confissão.
A intervenção foi publicada em livro, com o título ‘O Evangelho da Família’, propondo “uma aplicação realista da doutrina à situação atual da grande maioria dos homens e para contribuir para a felicidade das pessoas”.
Após o consistório, o cardeal Gerhard Müller, prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, reafirmou em entrevista o que tinha escrito no jornal do Vaticano: os que vivem num estado de vida contrário à “indissolubilidade” do Matrimónio estão impedidos de receber a Comunhão.
O teólogo alemão assina juntamente com outros quatro cardeais (D. Raymond Leo Burke, D. Walter Brandmüller, D. Carlo Caffarra e D. Velasio De Paolis) o livro ‘Permanecendo na verdade de Cristo: Casamento e Comunhão na Igreja Católica’, no qual se questionam as propostas do cardeal Kasper.
O cardeal Raymond Leo Burke, prefeito do Tribunal da Assinatura Apostólica, da Santa Sé, considera que não só seria errado permitir a Comunhão aos divorciados recasados mas também contesta a simplificação do processo de reconhecimento da nulidade matrimonial, por entender que “encorajaria uma visão defeituosa do matrimónio e da família”.
Numa entrevista ao jornal ‘Il Foglio’, o cardeal-arcebispo de Bolonha, D. Carlo Caffarra, questiona “o que acontece ao primeiro casamento, ratificado e consumado”, no caso da admissão à Comunhão dos divorciados em segunda união.
Já o cardeal Velasio de Paolis, presidente emérito da Prefeitura dos Assuntos Económicos da Santa Sé, disse diante do tribunal eclesiástico regional da Úmbria, na Itália, que “o acesso ao sacramento da Eucaristia está aberto somente a quem não está consciente de nenhum pecado grave” e que “ a confissão sacramental só pode estar à disposição de quem está arrependido do próprio pecado e se empenha em não cometê-lo mais”, uma intervenção citada pelo site do Conselho Pontifício da Família.
O secretário-geral do Sínodo dos Bispos, D. Lorenzo Baldisseri, afirmou à Agência ECCLESIA que a família vive atualmente “problemas e desafios novos” a que a Igreja tem de dar “respostas adequadas”.
“Há posições diferentes que parecem distantes mas não são, porque se acentua um ou outro aspeto. O importante é colocar os problemas com muita tranquilidade e serenidade”, referiu o cardeal italiano.
O cardeal português D. José Saraiva Martins, por sua vez, disse à Agência ECCLESIA que a Igreja tem de saber “falar ao homem de hoje com a linguagem de hoje” e isto “torna necessário uma contínua revisão de certas normas”.
O cardeal Baldisseri anunciou que no final dos trabalhos desta assembleia extraordinária haverá uma “grande proposta” num documento único que será apresentado ao Papa e publicado, juntamente com um “pequeno questionário” para servir de orientação para os trabalhos da assembleia geral ordinária de 2015 do Sínodo, dedicada ao tema ‘A vocação e missão da família na Igreja, no mundo de hoje’.
O Sínodo dos Bispos pode ser definido, em termos gerais, como uma assembleia consultiva de representantes dos episcopados católicos de todo o mundo, a que se juntam peritos e outros convidados, com a tarefa ajudar o Papa no governo da Igreja.