Francisco lamenta «indiferença» face ao sofrimento humano e elogia ação de congregações religiosas em defesa das vítimas
O Papa apela a um “compromisso comum” para combater o comércio de pessoas, o tráfico ilegal de migrantes e outras formas “conhecidas e desconhecidas da escravidão”, criticando a “indiferença geral” face a estas situações.
“São necessárias leis justas, centradas na pessoa humana, que defendam os seus direitos fundamentais e, se violados, os recuperem reabilitando quem é vítima e assegurando a sua incolumidade, como são necessários também mecanismos eficazes de controlo da correta aplicação de tais normas, que não deixem espaço à corrupção e à impunidade”, escreve Francisco, na sua segunda mensagem para o 48.º Dia Mundial da Paz (1 de janeiro de 2015)-
O texto deixa uma palavra de apreço pelo trabalho que muitas congregações religiosas, especialmente femininas, “realizam silenciosamente, há tantos anos, a favor das vítimas”.
“Tais institutos atuam em contextos difíceis, por vezes dominados pela violência, procurando quebrar as cadeias invisíveis que mantêm as vítimas presas aos seus traficantes e exploradores”, pode ler-se.
O Papa explica que a atividade das congregações religiosas está articulada em três níveis principais: “o socorro às vítimas, a sua reabilitação sob o perfil psicológico e formativo e a sua reintegração na sociedade de destino ou de origem”.
“Este trabalho imenso, que requer coragem, paciência e perseverança, merece o aplauso da Igreja inteira e da sociedade”, acrescenta.
Francisco enumera várias causas que concorrem para explicar as formas atuais de escravatura, a começar “na pobreza, no subdesenvolvimento e na exclusão”, especialmente quando os três se aliam à “falta de acesso à educação ou com uma realidade caracterizada por escassas, se não mesmo inexistentes, oportunidades de emprego”.
“As vítimas de tráfico e servidão são muitas vezes pessoas que procuravam uma forma de sair da condição de pobreza extrema e, dando crédito a falsas promessas de trabalho, caíram nas mãos das redes criminosas que gerem o tráfico de seres humanos”, adverte.
Outras “causas da escravidão” referidas pela mensagem papal são os conflitos armados, as violências, a criminalidade e o terrorismo.
A reflexão de Francisco aponta o dedo à “corrupção” como uma das causas da escravatura, criticando aqueles que, “para enriquecer, estão dispostos a tudo”.
As organizações da sociedade civil, acrescenta, “têm o dever de sensibilizar e estimular as consciências sobre os passos necessários para combater e erradicar a cultura da servidão”.
“Globalizar a fraternidade, não a escravidão nem a indiferença” é o apelo do Papa, que convida cada pessoa a “realizar gestos de fraternidade a bem de quantos são mantidos em estado de servidão”.
“A globalização da indiferença, que hoje pesa sobre a vida de tantas irmãs e de tantos irmãos, requer de todos nós que nos façamos artífices duma globalização da solidariedade e da fraternidade”, defende Francisco.
Na segunda mensagem para esta celebração anual, assinalada a 1 de janeiro, o Papa escolheu como tema ‘Já não escravos, mas irmãos’.
CR/Lusa