O Vaticano lançou hoje um documento com orientações pastorais sobre as pessoas deslocadas pela crise climática, apresentando os recentes ciclones na Beira, em Moçambique, como exemplo da crise provocada por estas alterações.
“São as comunidades pobres e vulneráveis do mundo inteiro quem mais sofre com as crises ecológica e climática. São os inocentes que, à partida, menos contribuíram para a origem do problema. Esta é uma questão profundamente moral que exige ecojustiça”, indica o texto publicado pela ‘Secção Migrantes e Refugiados – Setor de Ecologia Integral’ do Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral (Santa Sé).
O Papa assina o prefácio do novo documento, alertando para os “números impressionantes e crescentes de deslocados pela crise climática” para falar numa “emergência grave” que está à vista de todos.
“Ao contrário da pandemia, que nos atingiu subitamente, sem aviso, quase em toda a parte e afetando todos em simultâneo, a crise climática tem vindo a manifestar-se desde a Revolução Industrial”, adverte.
Muitos estão a ser devorados em condições que tornam impossível a sobrevivência. Forçadas a abandonar campos e zonas costeiras, casas e aldeias, as pessoas fogem à pressa, levando consigo apenas algumas lembranças e tesouros, fragmentos da sua cultura e património”.
Francisco convida a remover “as barreiras que bloqueiam o caminho dos deslocados”, denunciando a “tragédia do desenraizamento prolongado”.
“Não vamos superar crises como as alterações climáticas ou a Covid-19 refugiando-nos no individualismo, mas apenas com o esforço de ‘muitos em conjunto’, através do encontro, do diálogo e da cooperação”, aponta.
A nota considera as Pessoas Deslocadas pela Crise Climática (PDCC) como “indivíduos ou grupos de pessoas forçados a abandonarem o seu local de residência habitual devido à crise climática aguda”.
A conferência de imprensa desta manhã contou com o depoimento de D. Claudio Dalla Zuanna, arcebispo da Beira, que falou do impacto, na região moçambicana, de três ciclones em menos de dois anos.
O responsável católico falou na formação de uma “espécie de lago” de 2000 km2 de área inundada, à volta da cidade, que a isolou durante vários dias, “causando mais de 800 mortes”, sobretudo por causa das próprias inundações, e deslocando centenas de milhares de pessoas.
“Com essas deslocações forçados, perdem-se casas, bens, oportunidades de trabalho, acesso à escola e serviços de saúde” advertiu o arcebispo da Beira.
D. Claudio Dalla Zuanna considerou que “esses movimentos forçados fragilizam a comunidade e o tecido social com suas relações”, deixando por sua conta “as pessoas mais frágeis”.
“Pela nossa experiência, as alterações climáticas não são uma ameaça hipotética, mas já são uma realidade que exige ação imediata, também na criação de condições para acolher os deslocados”, apelou.
A transmissão online teve o testemunho de Maria Madalena Issau, moçambicana de 32 anos que tem cinco filhos e cuida de outros dois sobrinhos órfãos, vítimas do Idai.
Matteo Bruni, porta-voz do Vaticano, evocou ainda a situação no norte do país lusófono, “exposto à violência do terrorismo”.
(Com Ecclesia)
Orientações pastorais sobre as pessoas deslocadas pela crise climática
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