A última encíclica de Francisco aponta para a “fraternidade social” como forma de alcançar a Paz
Um grupo de católicos vai entregar hoje a cada um dos 230 deputados parlamentares um exemplar da encíclica Fratelli Tutti, uma síntese do pensamento social do Papa Francisco onde apela à fraternidade e amizade social.
O objetivo desta entregar é “dizer aos deputados que têm um instrumento à sua disposição para reforçar uma prática política mais de acordo com aquilo que é o mandato de cada um”: a defesa do bem comum e dos mais fragilizados da sociedade portuguesa”, explicou Eugénio Fonseca, presidente da Confederação do Voluntariado e ex-presidente da Cáritas Portuguesa e um dos dinamizadores da ideia.
O texto, assinado pelo Papa no dia 03 de outubro sobre o túmulo de São Francisco, em Assis, é nas suas palavras uma “encíclica social”, a sua contribuição para a reflexão sobre o caminho da Humanidade e para a reação aos “sinais de regressão” da história.
A ideia de entregar um exemplar da encíclica Fratelli Tutti partiu de um grupo de católicos que se juntou para adquirir mais de 300 exemplares da carta para distribuir pelos 230 deputados e pelos membros do Governo.
A noticia foi avançada na quarta-feira pelo ‘site’ de informação religiosa 7Margens.
Em declarações à agência Lusa, Eugénio Fonseca, explicou que dada a relevância da encíclica consideraram importante avançar com esta iniciativa simbólica.
“Tratando esta carta de temas que apontam para aquilo que nos parece ser uma urgência para a nova civilização, como o Papa indica, quisemos ter este gesto simbólico de entregar a cada deputada e deputado um exemplar e dizer-lhes que têm um instrumento à sua disposição para reforçar uma prática política mais de acordo com aquilo que é o mandato de cada um que é a defesa do bem comum e dos mais fragilizados da sociedade portuguesa”, explicou.
Eugénio Fonseca considera que de todas as cartas encíclicas esta é a que, apesar de ser escrita com convicções cristãs, deve ser acessível a todos e tem um capítulo que lhe parece importante: colocar o diálogo no centro de todas as procuras de soluções para problemas que podem até ser considerados intransponíveis como a economia, o diálogo inter-religioso e a ecologia.
A iniciativa, sublinha, não é feita em nome de qualquer instituição, mas apenas de crentes enquanto tais.
A entrega dos exemplares da encíclica está marcada para as 14:30 de hoje, antes do plenário parlamentar, no átrio exterior da entrada principal do Parlamento.
Segundo o 7Margens para arranjar o dinheiro necessário para a compra dos livros, os dinamizadores recorreram a pedidos de apoio, que foram correspondidos por dezenas de pessoas.
Entre as pessoas que participam na iniciativa, estão Manuela Eanes, a escritora Alice Vieira, a reitora da Universidade Católica, Isabel Capeloa Gil, o antigo dirigente do CDS José Ribeiro e Castro, bem como a antiga deputada Maria do Rosário Carneiro ou o jurista Pedro Vaz Patto, presidente da Comissão Justiça e Paz.
A encíclica papal intitulada ‘Fratelli Tutti’ (Todos Irmãos), é a terceira encíclica do pontificado do Papa Francisco, após ‘Lumen Fidei’(A luz da fé), em 2013, e ‘Laudato si’, em 2015, sobre a ecologia integral, e remete para os escritos de São Francisco de Assis, o religioso que inspirou o líder dos católicos na escolha do seu nome.
Na carta o pontífice argentino critica o reacendimento de populismos, racismo e discursos de ódio, lamentando a perda de “sentido social” e o retrocesso histórico que o mundo está a viver.
Naquele que é o primeiro documento do género em cinco anos, o Papa Francisco identifica o surgimento de “novas formas de egoísmo e de perda do sentido social mascaradas por uma suposta defesa dos interesses nacionais”.
A encíclica associa os discursos de ódio a regimes políticos populistas e a “abordagens económico-liberais”, que defendem a necessidade de “evitar a todo o custo a chegada de pessoas migrantes”.
Sobre o racismo, Francisco diz ser um “vírus que muda facilmente” e “está sempre à espreita”, em “formas de nacionalismo fechado e violento, atitudes xenófobas, desprezo e até maus-tratos”.
O Papa exorta os países a abandonarem o “desejo de domínio sobre os outros” e a adotarem uma política “ao serviço do verdadeiro bem comum”, afirmando que os responsáveis políticos se devem preocupar mais em “encontrar uma solução eficaz” para a exclusão social e económica do que com as sondagens e defende ainda que o “desprezo pelos vulneráveis” pode esconder-se em formas populistas que, “demagogicamente, se servem deles para os seus fins”, ou em formas liberais “ao serviço dos interesses económicos dos poderosos”.
(Com Lusa)