Por Renato Moura
Conheci, há imensos os anos, um homem que emigrara para os Estados Unidos quando era ainda novo.
Ele próprio, já depois de regressado, me contou parte marcante da sua vida. Apesar de ter emigrado apenas com a instrução primária desse tempo (4.ª classe), por lá construiu a sua vida profissional, que culminou com a criação de uma empresa de jardinagem, que dava emprego a algumas pessoas.
Trabalhava bastante, mas atingira o sucesso que lhe permitiu criar e proporcionar educação aos seus filhos. Aos poucos adquiriu o hábito de beber com regularidade e quase sem se aperceber atingiu uma fase em que ingeria, por dia, uma garrafa de litro de aguardente, que o acompanhava para o trabalho.
Numa ida ao médico foi-lhe recomendado que deveria deixar de beber, mas, não tomando muito a sério o conselho, continuou. As advertências sucederam-se nas consultas seguintes, até que voltou a procurar o médico por sentir já os danos do álcool; então o médico fez-lhe saber que aquela era a última oportunidade, pois se não abandonasse a aguardente teria vida muito curta; mas ele continuou, pois que não acreditava que privado da aguardente pudesse gerir a empresa.
Mais tarde, perante sintomas de que estaria já gravemente doente, voltou ao médico pedindo ajuda, pois nesse dia tinha finalmente arranjado coragem de lançar ao lixo a garrafa que, seguindo o hábito de sempre, na véspera tinha acautelado, como fazendo parte da ferramenta. Não recebeu do médico – já cansado de insistir e sem acreditar na força do doente – a ajuda psicológica que buscava, mas veio medicado, instruído e com garantia de novas consultas.
A privação causou-lhe dificuldades iniciais e chegou a pensar que seriam insuperáveis, mas aos poucos foi recuperando, tornando-se mais fácil não beber, começou a sentir francas melhoras ao nível da saúde beneficiando da ajuda do médico.
Liberto do vício reparou então que tinha arrumado como sucata algumas máquinas, que recuperou de pequenas avarias, as quais voltaram a realizar bom serviço e a dispensar a aquisição de outras.
Saudável, entusiasmado, voltou a ser feliz. Na sua terra contava a história com pormenor e sinceridade. Para ele a chave do sucesso era o facto de, desde criança, nunca se deitar sem antes rezar e por muito alcoolizado que estivesse, sempre manteve a oração antes de adormecer.
Dizia “foi por aquela pequena oração que Deus me salvou”. Pela fé agradeceu construindo uma ermida. Legou um exemplo edificante, que por isso sinto o dever de transmitir, apesar de volvidos muitos anos.