Pelo Pe. Hélder Miranda Alexandre
“Queres honrar o Corpo de Cristo? Então não O desprezes nos seus membros, isto é, nos pobres que não têm que vestir, nem O honres no templo com vestes de seda, enquanto O abandonas lá fora ao frio e à nudez. Aquele que disse: «Isto é o Meu Corpo» (Mt 26, 26), e o realizou ao dizê-lo, é o mesmo que disse: «Porque tive fome e não Me destes de comer» (cf. Mt 25, 35); e também: «Sempre que deixastes de fazer isto a um destes pequeninos, foi a Mim que o deixastes de fazer» (Mt 25, 42.45). Aqui, o corpo de Cristo não necessita de vestes, mas de almas puras; além, necessita de muitos desvelos. […] Deus não precisa de vasos de ouro, mas de almas que sejam de ouro”.
Estas palavras de São João Crisóstomo provocam até os mais piedosos dos fiéis, parecem contradizer a Eucaristia, que estes dias celebramos especialmente na Solenidade do Corpo e Sangue de Cristo, mas tocam o mais fundo deste Sacramento e da própria consciência cristã. Assim se vive e assume autenticamente o Corpo de Cristo. A tensão escatológica da Eucaristia não é uma alienação mas uma responsabilidade pela terra presente. João Paulo II já o dissera claramente: “Foi também para Isto que o Senhor quis ficar connosco na Eucaristia, inserindo, nesta sua presença sacrificial e comensal, a promessa duma humanidade renovada pelo seu amor” (Ecclesia de Eucharistia, 20). Não é por acaso que São João, no relato da última Ceia, coloca o lava-pés no lugar em que os outros evangelistas narram a Instituição da Eucaristia.
Entre nós, as Festas do Divino Espírito Santo manifestam desde a sua origem este sentido de partilha e fraternidade. Contudo, não será que se estão a tornar mais tradição – sem dúvida, muito rica – do que devoção? A dimensão fraterna parece ser um parente pobre daquele que deveria ser o “império da caridade”, como afirmava o Bispo emérito. D. António Braga.
No dia 13 de Junho saiu a mensagem para a I Jornada Mundial dos pobres, apontada para o dia 19 de Novembro! O Papa Francisco surpreende de novo! O texto, embora simples, é cheio de vitalidade e de desafios! O Papa não quer que seja um dia mais, mas um estilo: “Estas experiências… deveriam abrir a um verdadeiro encontro com os pobres e dar lugar a uma partilha que se torne estilo de vida”. “Para os discípulos de Cristo”, a “pobreza é uma vocação a seguir Jesus pobre… uma atitude de coração”. Chama a atenção para as novas formas de pobreza encoberta do mundo contemporâneo e convida as comunidades cristãs a inserir os pobres na Eucaristia e na oração do Pai Nosso, nesse dia. Mais que tudo, a intenção é clara, que a Igreja assuma sempre mais a cultura do encontro. “Os pobres não são um problema: são um recurso de que lançar mão para acolher e viver a essência do Evangelho”.
“Este é, sem dúvida, um dos primeiros sinais com que a comunidade cristã se apresentou no palco do mundo: o serviço aos mais pobres”. O caminho feito pela Igreja até ao presente é, sem dúvida, incomensurável e de uma vitalidade sem paralelo em outras instituições, mas há mais a fazer! A Igreja só se renova pela caridade!