O Vaticano apresentou ontem a segunda etapa do Sínodo dos Bispos 2021-2023 – a Fase Continental – onde se destacou a importância do processo inédito, da sua adesão e da necessidade de continuar a ouvir e discernir em comunidade.
“Estou convencido de que estamos diante de um diálogo eclesial sem precedentes na história da Igreja, não apenas pela quantidade de respostas recebidas ou pelo número de pessoas envolvidas, mas também pela qualidade da participação”, disse D. Jean-Claude Hollerich, relator-geral da XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, na conferência de imprensa no Vaticano.
“Independentemente dos conteúdos que vão emergir da leitura das sínteses, as experiências ouvidas ou vividas mostram uma Igreja viva, necessitada de autenticidade, cura e que anseia, cada vez mais, ser uma comunidade que celebra e anuncia a alegria do Evangelho, aprendendo a andar e discernir juntos”, salientou por sua vez o secretário-geral da Secretaria do Sínodo dos Bispos.
O cardeal Mario Grech explicou que a partir das sínteses das Conferências Episcopais vão reunir um grupo “qualificado de especialistas”, para elaborar um documento de síntese que dará início à fase continental, após a “conclusão de dois momentos decisivos”, na primeira fase do processo sinodal, a “consulta do Povo de Deus” e o discernimento nas Conferências Episcopais.
“O importante é ter mostrado e continuar a mostrar que o caminho da Igreja começa e se fortalece na escuta”, realçou, manifestando “um sentimento de gratidão e muita esperança pelo futuro da Igreja sinodal”.
‘Para uma Igreja sinodal: comunhão, participação e missão’, é o tema do processo sinodal, convocado pelo Papa, que decorre até outubro de 2023.
Dividido em três fases, o arranque desta assembleia sinodal aconteceu sob a presidência do Papa Francisco, nos dias 9 e 10 de outubro de 2021, e em cada diocese católica, sob a presidência do respetivo bispo, a 17 de outubro; após esta primeira etapa diocesana, vai começar a fase continental, antes do encontro mundial, no Vaticano.
Nas respostas aos jornalistas, sobre possíveis mudanças e convulsões deste processo sinodal, o cardeal Jean-Claude Hollerich, arcebispo do Luxemburgo, afirmou que não têm como “tarefa causar um choque na Igreja, mas ouvir o que diz o povo de Deus”, tendo lugar, depois, “um discernimento que é mas eclesial”.
“Há muitos elementos, há o apelo para coisas novas, mas também a tradição da Igreja até agora. Um assunto muito complexo que não pode ser reduzido a posições. O modelo sinodal é um modelo de consenso eclesial: Escutar o que o Espírito diz à Igreja e encontrar respostas. Não é um Parlamento onde se vota e a maioria decide o que se faz”, desenvolveu, observando que “na Igreja há uma direita e uma esquerda” mas a sua imagem é que o caminho é “com Cristo, há os da direita, os da esquerda, alguns adiante, alguns atrasados”.
A irmã Nathalie Becquart, subsecretária do Sínodo dos Bispos, começou por destacar a “impressionante mobilização em todo o mundo” para responder ao apelo do Papa Francisco de participação neste processo, afirmando que sinodalidade “é verdadeiramente o chamamento de Deus para a Igreja do 3º milénio, cada vez mais de escuta e de diálogo”.
A religiosa francesa revelou estar “particularmente emocionada e marcada” pelo envolvimento neste processo sinodal de países que passam por “situações sociopolíticas extremamente difíceis”, como a Nicarágua, Ucrânia, Haiti, Mianmar, Líbano, República Centro-Africana, e “infelizmente”, poderia citar outros, porque o “mundo é atravessado por múltiplas crises”.
O também subsecretário da Secretaria Geral do Sínodo, D. Luis Marín de San Martín (Espanha), fez uma avaliação “claramente positiva” da primeira fase de um “processo irreversível, com diferentes velocidades, mas sem retrocesso”, de realçou “cinco dimensões da sinodalidade”: “Um processo espiritual; solidário; aberto; integrador”, e “dinâmico”.
“A fase diocesana construiu um tecido de relações entre pessoas ou grupos até ao nível paroquial, dentro e fora da comunidade cristã. A etapa continental visa ampliar essa dinâmica, investindo as relações entre Igrejas vizinhas e Conferências Episcopais, dentro do que chamamos de ‘Continentes’, mas que não deve ser entendido em um sentido puramente geográfico, à escala global, as situações são as mais diversas”, explicou o padre Giacomo Costa, consultor da Secretaria Geral do Sínodo.
O sacerdote, que é responsável pelo grupo de trabalho para a preparação do documento para a Etapa Continental do Sínodo dos Bispos 2021-2023, a segunda etapa do processo sinodal, explicou que uma ‘task force’ no secretariado do sínodo é responsável por “acompanhar de perto cada continente”, não para impor um modelo igual para todos, mas para garantir que cada um “encontre o caminho adequado às suas circunstâncias para criar uma oportunidade de intercâmbio e comparação”.