Por Carmo Rodeia
Ao longo de toda a vida somos confrontados com imensos desafios. Numa sociedade competitiva como a nossa nunca queremos ficar em último lugar. Aliás, começamos por nunca ensinar aos nossos filhos o valor do último. Pelo contrário, queremos e incentivamo-los a serem sempre os melhores, a ficarem em primeiro lugar. De preferência, até, no primeiro de entre os primeiros, porque o segundo já é só o primeiro dos últimos. Em tudo. Na escola, no trabalho, na catequese, na amizade, na vida…Contudo, quando numa cerimónia pública, por exemplo, queremos distinguir uma pessoa deixamo-la para último lugar e aí recuperamos a ideia de que afinal os últimos até são os primeiros. E enfatizamo-lo como se fosse necessário justificar, porque afinal toda a vida nos ensinaram que nunca devíamos ser os últimos em nada.
Se lermos o Evangelho, a ordem é outra e ouvimos falar sempre do último da fila: do mais pobre, do mais simples, do mais excluído, do mais ostracizado, do mais esquecido.
Então impõe-se uma pergunta que nem precisaria ser jornalística: porque nos escapa esta medida? Porque é que o nosso coração é tão pouco humilde? Porque é que abusamos da liberdade do nosso coração para querer mais do que a vontade de Jesus?
Em 40 dias é fácil refletirmos sobre isto porque temos tão presente a sedutora misericórdia divina. E, nos outros 325 dias do ano? Seremos capazes de abrir o ouvido do nosso coração como abrimos na Quaresma, em busca de uma conversão?
Entrámos na Semana Santa, momento propício para a contemplação do mistério de Jesus Cristo.
Somos convidados a viver esta semana como a Virgem Maria, “seguindo o Senhor mesmo quando o seu caminho leva à Cruz” como nos interpelou o papa Francisco no Domingo de Ramos. Todos seguimos, passo a passo, os seus passos dolorosos até ao Calvário e todos nós nos devíamos perguntar qual é o nosso lugar nesse caminho. Se queremos continuar a segurar pedras, ou se estamos dispostos a uma oferta radical de nós mesmos. Cientes de que qualquer que seja a nossa opção haverá sempre alguém disponível para nos acolher. Apesar da culpa, das condenações dos diferentes tribunais do mundo, há sempre alguém que nos ama nos caminhos da vida, nos nossos passos perdidos.
Este é o verdadeiro significado da Páscoa. Mesmo quando a vida se parte. Haverá sempre um abraço para nos aconchegar. E não é por sermos os primeiros mas porque somos os últimos. Porque sofremos por esta ou aquela razão. Porque fizemos esta ou aquela opção. Porque não nos demos nem fomos irmãos. Por isto e por aquilo. Esse abraço estará lá sempre. À nossa espera. Consigamos nós doar-nos aos outros como Ele.
Feliz e Santa Páscoa.