Por Carmo Rodeia
O Expresso curto desta sexta feira, dia 13, começava assim: “O Ocidente parece já não ser o Ocidente e o centro do mundo, muito provavelmente, já não se encontra no Atlântico”. Talvez por isso a Base das Lajes tenha entrado no esquecimento. Até dos Governos Regional e da República, acrescento eu.
Donald Trump veio à Europa, a uma reunião da Nato e destratou os alemães. À partida da Casa Branca já tinha sido grosseiro, para não utilizar outro adjetivo. Em Londres irritou Theresa May que espera e desespera com um acordo comercial bilateral com o velho aliado depois do famigerado Brexit. Entretanto Trump vai encontrar-se com Putin, aquele com quem o presidente norte americano diz que será mais fácil negociar. Mas antes, interesses privados à parte, passará pelos seus próprios campos de golfe na Escócia, no decurso de uma visita que está a fazer à Grã Bretanha.
Trump vê o mundo como o palco de uma competição permanente, onde o ganho de curto prazo é a única coisa que lhe importa. Como se estivesse a gerir uma empresa. As suas empresas. A estratégia funcionou no ramo imobiliário, onde a especulação dá sempre resultado, na industria do jogo ou nos reality show. Aliás o presidente norte americano faz da Casa Branca um verdadeiro mercado da fama. No pior sentido. Ainda não percebeu (e julgo que nunca percebrá, se calhar) que a liderança de um país como os Estados Unidos da América exige outra postura e outra forma de estar. Sobretudo quando a humanidade está politicamente fragmentada, e a Europa, em particular, está política e institucionalmente derrotada. A maior potência do planeta em vez de contribuir para a estabilidade incendeia posições, agrava as tensões e, de cada vez que fala, o presidente dos EUA assume uma postura de kamikaze.
Precisamos de líderes sábios e competentes, capazes de congregar os povos e instituições na busca do bem comum, no respeito pela liberdade e dignidade da pessoa. Não podemos andar entretidos com os que semeiam palavras de divisão e gestos de ódio e com os que querem condicionar a liberdade e a justiça. Precisamos, sobretudo, de escutar os profetas, aqueles que inspirados por Deus, apontam verdadeiramente o futuro; precisamos de aprender com os simples e os pequenos e de atender aos gritos dos pobres e das vítimas das várias tragédias que assolam o mundo.
70% dos norte americanos são cristãos; a maior parte deles votou em Trump nas últimas eleições presidenciais por oposição a Hilary Clinton que era a favor do aborto. Mas o lema quase isolacionista da América de Trump cheira a desumanidade. O Papa Francisco na recente exortação sobre a santidade- Alegrai-vos e exultai- sublinha que a vida cristã é luta, vigilância e discernimento contra as “tentações do demónio”, a “mentalidade mundana que nos torna medíocres” e para saber se as novidades são mesmo “vinho novo que vem de Deus ou uma novidade enganadora do espírito do mundo” (GE,168). Quem sabe precisaríamos de ler melhor esta exortação.
Como dizia recentemente Viriato Soromenho Marques no Diário de Notícias, “se a União Europeia quiser resistir a Trump deve realmente ser melhor do que ele. Se preferir permanecer no narcisismo moralista, então, no espelho desmesurado de Trump espreitará uma feia caricatura: o reflexo da nossa própria hipocrisia”. Com a Nato é a mesmíssima coisa.