“Tomei verdadeiramente consciência de que a minha vida era muito boa e a minha gratidão a Deus, por tudo de bom que me acontecia, deveria ser traduzida junto dos irmãos, a  ajudar quem precisasse”

 

Foto: Missão País/Vila Franca do Campo

José Oliveira é um dos chefes da Missão País, que chegou este ano pela primeira vez aos Açores. Está em Vila Franca com mais 54 jovens universitários “a espalhar a fé que tem”

Não conseguem dizer se a chegada aos Açores, este ano, é uma consequência da Jornada Mundial da Juventude mas acreditam que a “rede foi lançada”.  Em 21 anos de Missão País, é a primeira vez que jovens universitários estão nos Açores numa acção de evangelização: “ser para o outro: para quem tem dificuldades, para quem precisa de companhia, para quem vive tribulações” ou “simplesmente para quem precisa de ir às compras e não tem quem o acompanhe”.

Entre o desejo de envolver mais gente e expandir a missão e o facto de ser num lugar que a maioria dos missionários deste ano não conhecia tornou tudo mais fácil, não fossem as peripécias em torno da escolha do lugar exato da missão e “os nãos “ que obtiveram, quando angariavam donativos para a colocar em marcha.

José Oliveira e Sofia Resendes são dois dos chefes da Missão País, que está a decorrer até domingo em Vila Franca do Campo, integrada no projecto nacional, nascido em 2003, de uma dupla vontade de 3 estudantes universitários da Universidade Nova de Lisboa: “entregar parte do seu tempo à missão; ter na sua faculdade algo que os aproximasse de Deus”.

Os pressupostos fundadores são os mesmos que movem os dois chefes que falaram com o Sítio Igreja Açores: José Oliveira é de Coimbra, já fez duas missões e estuda atualmente Medicina na Universidade dos Açores; Sofia Resendes é de São Miguel e também estuda na mesma Universidade, mas frequenta a licenciatura em Gestão. No grupo de 55 voluntários estão quatro chefes açorianos, num total de 15 locais do arquipélago entre São Miguel e o Faial.

Ambos são `caloiros´ na chefia de uma missão, mas reconhecem que embora tenham menos contacto com as pessoas, “que é o que move verdadeiramente o nosso espírito missionário”, tomar decisões e equacionar o que há a fazer “para que a missão corra bem, também é um desafio”, refere José Oliveira.

“São algumas noites sem dormir, muitas peripécias para que tudo fique acertado mas depois a alegria de ver tudo a funcionar, para além do stress, é muito gratificante”, refere ainda o estudante de Medicina.

Este é o único requisito formal para integrar a Missão País: ser estudante universitário. Mas, na verdade, são precisos outros requisitos de natureza pessoal. Desde logo, disponibilidade para servir o outro.

“A Missão País, para mim, começou  quando tomei verdadeiramente consciência de que a minha vida era muito boa e a minha gratidão a Deus, por tudo de bom que me acontecia, deveria ser traduzida junto dos irmãos, ajudar quem precisasse” afirmou José Oliveira.

Assim, seguindo o exemplo da Grande Missionária – Nossa Senhora – deixam tudo e partem com Cristo por Portugal fora. À primeira vista, poderá não ser claro como uma semana de missão poderia satisfazer tal desejo. No entanto, durante a semana de missão, o grupo e a amizade aí criados dão frutos no dia-a-dia da faculdade.

“Ainda hoje tenho contactos com pessoas que acompanhei na primeira missão” refere José Oliveira com algum brilho nos olhos. “É muito gratificante percebermos que contamos e podemos fazer a diferença na vida de uma pessoa”, acrescenta.

Sofia, ainda não tem esta experiência de forma tão maturada porque a Missão de Vila Franca é a primeira em que participa.

“Ser chefe logo na minha primeira missão desinstalou-me e tirou-me da minha zona de conforto, mas tem sido muito bom” referiu, destacando que espera que “depois do lançamento da rede se possam colher outros frutos”.

“Espero bem que sim”, afirma.

“O que acontece é que nós fazemos o nosso percurso até uma determinada idade e, depois, quando chegamos à Universidade afastamo-nos. A Missão País mantém-nos ligados à Igreja e assim espalhamos a nossa fé mantendo-nos ligados através da fé e da amizade”, sustenta José Oliveira.

“Procuramos sempre intervir em zonas mais rurais e mais afastadas dos grandes centros urbanos e depois agimos” explica.

O Guião está pré determinado: os jovens devem estar nas escolas, nos lares de idosos; devem rezar- fazem orações várias vezes ao dia; a missão diária e a oração do terço são fundamentais- e apresentam uma peça de teatro, no fim da semana em que termina a missão. Também aqui o guião está definido para todas as missões, mas podem existir algumas variações, adaptadas ao local e às pessoas com quem se cruzaram.

“por exemplo aqui na Vila acrescentamos os ATLS e as Creches e andamos na Rua no porta-a-porta, como fazemos sempre”.

A organização de uma missão é exigente. No caso dos Açores, o lugar para albergar tantos jovens num só espaço, por causa das dinâmicas de grupo, e os patrocínios para refeições, por exemplo, foram factores que pesaram na escolha do lugar. Estão na Casa do Agrupamento de Escuteiros da Vila e regressarão para o ano e para o outro.

“Isso já é certo e é engraçado porque as pessoas já nos perguntam isso: se regressamos para o ano, o que significa que gostam de nos ter aqui”, refere a Sofia.

Os estudantes que estão nos Açores são de várias proveniências: alguns estudam na Nova em Lisboa, outros no Porto, outros no Alentejo, em Coimbra ou em Santarém.

“Há de tudo porque a Missão País também percorre o país inteiro”, acrescenta José Oliveira.

“Nós lançamos as redes, como sempre fazemos e colhemos aquilo que vem”, enfatiza Sofia.

Este é, de resto, o tema do ano : “Lança as redes e encontrarás”, inspirado no Evangelho de São João, no episódio da Pesca Milagrosa de Jesus.

“É uma chamada à ação. É um convite a sairmos da nossa zona de conforto e a partirmos ao encontro do próximo partilhando aquilo que recebemos em abundância” insiste José.

“Com Cristo a pesca é sempre abundante!” referem os jovens no seu site reforçando que “ A Santidade é a vida de Cristo em nós, deixarmos que a vontade de Deus se faça em nós, só assim encontramos aquilo que procuramos”.

Existem 69 Missões em 57 faculdades diferentes!

A Missão Pais está presente em Lisboa, Porto, Coimbra, Évora, Aveiro, Braga, Leiria, Santarém, Algarve, Madeira, Covilhã e Setúbal! E agora também, nos Açores, em São Miguel.

“Quem sabe se conseguimos intensificar a pesca aqui”, diz meio a brincar Sofia, que conheceu a Missão País, através da irmã.

Desde a sua criação,  a Missão País tem vindo a crescer ano após ano, contando atualmente com: 164 locais missionados, 4140 universitários mobilizados e 69 missões.

Os chefes desta missão de Vila Franca foram enviados numa missa presidida pelo padre Norberto Brum, na Igreja de Nossa Senhora de Fátima, no lajedo, no dia 11 de janeiro. Agora são assistidos diariamente pelo ouvidor de Vila Franca, padre José Borges.

“São jovens universitários que professam uma fé espiritualizada no concreto: eles fazem aquilo em que acreditam e acreditam no que fazem e isso faz toda a diferença” refere o sacerdote que além doa colhimento aos jovens, diariamente celebra com eles a Eucaristia e já participou numa Vigília de oração, numa meditação e na oração da noite, que todos os dias realizam.

“Nós somos seres espirituais e estes jovens vivem a sua fé e testemunha-na sem vergonha, anunciando Jesus de porta em porta e isso é bonito”, refere ainda o sacerdote.

“Alegra-me a forma como rezam, cantam e interagem com a comunidade. Jesus diz que nós não somos do mundo mas estamos no mundo; eles não abdicam daquilo que é a Igreja mas não estão alienados do mundo; estão lá para o servir”, salienta ainda sublinhando que “este é o gancho” necessário para uma viv~encia autêntica da fé no mundo atual.

“Uma fé espiritualizada , seja nos jovens ou nos idosos ou noutra faiuxa etária é fundamental e nós devemos acolher”.

A Missão País em Vila Franca do campo termina no domingo. No Sábado, no Centro Cultural da Vila haverá uma encenação aberta ao público em geral.

 

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