Francisco falou aos jornalistas no voo de regresso da visita à Terra Santa e abordou a questão do celibato dos sacerdotes.
O Papa disse hoje que a Igreja Católica vai manter uma política de ‘tolerância zero’ em relação a casos de abusos sexuais, anunciando um encontro com vítimas de pedofilia, em junho.
Francisco falava no voo de regresso a Roma, após três dias de viagem à Terra Santa, numa conferência de imprensa que durou cerca de uma hora.
“Neste momento, há três bispos sob investigação e um deles, já condenado, tem a pena em estudo. Não há privilégios neste tema dos menores”, declarou, acrescentando que este é “um problema muito grave”.
O Papa disse que os abusos cometidos por membros do clero são como uma “Missa negra” [satânica] e revelou que a 6-7 de junho vai presidir a uma Missa para vítimas destes casos, na Casa de Santa Marta, no Vaticano, e reunir-se com elas.
“Nisto devemos ter tolerância zero”, observou.
Francisco respondeu a questões sobre o celibato sacerdotal, recordando que há padres católicos casados, nos ritos orientais, e que não se está perante um “dogma de fé”, embora valorize esta regra de vida como “um dom”.
O chefe do Vaticano disse , ainda, que “a porta está sempre aberta” para tratar o tema mas que, no entanto, esta não é uma questão com “prioridade imediata”.
“O celibato não é um dogma de fé, é uma regra de vida, que aprecio muito e creio que é uma oferta á Igreja”, disse o chefe do Vaticano durante o voo de regresso a Roma desde Israel, segundo a agência noticiosa italiana Ansa.
A afirmação do Papa Bergoglio foi feita dias depois de se conhecer uma carta a solicitar uma revisão da disciplina do celibato, escrita por um grupo de 26 mulheres, que vivem ou viveram uma relação com um sacerdote. Até hoje, a Santa Sé não tinha feito qualquer comentário sobre esta carta.
Na Igreja Católica de rito latino, o celibato eclesiástico, isto é, a renúncia ao matrimónio, e a promessa de castidade, são uma obrigação para os sacerdotes desde o II Concílio de Letrán, em 1139. Ao contrário, nas igrejas católicas, de rito oriental, esta obrigação não se verifica.
Francisco falou ainda da alegada investigação sobre um desvio de 15 milhões de euros dos fundos do Instituto para as Obras de Religião, em que estaria envolvido o antigo secretário de Estado do Vaticano.
“A questão desses 15 milhões está ainda em estudo, não é claro o que aconteceu”, adiantou.
O Papa disse que quer “honestidade e transparência” na administração financeira do Vaticano e que a nova Secretaria para a Economia, dirigida pelo cardeal Pell, vai “levar por diante as reformas que foram sugeridas” por várias comissões para evitar “escândalos e problemas”.
Nesse sentido, recordou que cerca de 1600 contas foram fechadas no chamado ‘Banco do Vaticano’ nos últimos tempos.
Francisco confirmou que, além da viagem à Coreia do Sul em agosto, se vai deslocar à Ásia em janeiro de 2015 para visitar o Sri Lanka e as regiões afetadas pelo tufão nas Filipinas.
O Papa mostrou-se preocupado com a falta de liberdade religiosa neste continente, falando num número de “mártires” cristãos que supera os dos primeiros tempos da Igreja.
Em relação ao convite que dirigiu aos presidentes de Israel e da Palestina para um encontro de oração pela paz no Vaticano, Francisco quis esclarecer que não tem a intenção de “fazer uma mediação”.
“Vamos reunir-nos apenas para rezar”, precisou, pedindo que Shimon Peres e Mahmud Abbas “tenham a coragem de ir em frente” no processo de paz.
O Papa não quis comentar os resultados das eleições europeias, mas lembrou as críticas que deixou na exortação apostólica ‘Evangelii Gaudium’ a um sistema económico “desumano”, que “mata”.
O Pontífice argentino recordou ainda o encontro com o patriarca ecuménico de Constantinopla (Igreja Ortodoxa) e referiu ter discutido com ele a questão do calendário da Páscoa, considerando “um pouco ridículo” que as Igrejas celebrem a sua principal festa em dias diferentes.
Francisco afirmou ainda que o próximo Sínodo sobre a família quer abordar “as suas riquezas e a situação atual”, lamentando que muitos, mesmo na Igreja, centrem o debate no acesso à Comunhão dos divorciados que voltaram a casar, realçando que que é preciso estudar os processos de nulidade e que os divorciados “não estão excomungados”.
O Papa elogiou Bento XVI, que “abriu uma porta” ao renunciar ao pontificado, e disse que “um bispo de Roma que sente que está a ficar sem forças” deve questionar-se da mesma forma que o seu antecessor.