Por Carmo Rodeia
A Sala de Imprensa da Santa Sé informou hoje que o Papa Francisco vai receber um segundo grupo de vítimas de abusos no Chile, constituído por nove pessoas, entre 1 e 3 de junho, no Vaticano.
“Com este novo encontro, marcado há um mês, o Papa Francisco quer mostrar sua proximidade às vítima, acompanhá-los na sua dor e escutar as suas valiosas visões para melhorar as atuais medidas preventivas e combater os abusos na Igreja”, informa a Santa Sé.
O comunicado da sala de imprensa explica que o grupo de nove pessoas é constituído por sacerdotes e leigos da Paróquia do Sagrado Coração da Providência, a mesma onde ocorreram os abusos por parte do padre Fernando Karadima e seus seguidores.
De resto, o diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé, Greg Burke, já confirmou que, várias vezes por mês, o Papa se encontra com vítimas de abusos sexuais informando que Francisco ouve as vítimas e tenta ajudá-las a curar as graves feridas causadas pelos abusos sofridos, sem que disse faça alarde.
Na sexta feira da semana passada fomos surpreendidos com a demissão em bloco dos 34 bispos da Conferência Episcopal Chilena , que colocaram o seu futuro à disposição do pontífice argentino, na sequência da investigação aos casos de pedofilia que envolvem a Igreja Católica naquele país, acusada de encobrir abusos cometidos contra crianças.
Desde que esteve em visita ao Chile, no mês de abril, e depois da conclusão de uma investigação que solicitou acerca deste caso, o Papa já promoveu também vários encontros com as vítimas e as famílias.
“É a maior desolação que a Igreja está sofrendo – disse Bergoglio – Isso nos impele à vergonha, porém devemos lembrar que a vergonha é também uma graça bem inaciana. Por isso, vamos assumi-la como graça e sintamo-nos profundamente envergonhados. Devemos amar uma Igreja com chagas. Muitas chagas …”.
Numa conversa com uma jornalista Francisco relatou mesmo um episódio que se terá passado consigo: “Em 24 de março na Argentina celebra-se a memória do golpe militar, da ditadura, dos desaparecidos, e a Plaza de Mayo fica lotada para lembrar isso. Num desses dias 24 de março, estava atravessando a rua e havia um casal com uma criança de dois ou três anos de idade, e a criança estava correndo para a frente. O pai disse-lhe: “Vem, vem, fica perto … Cuidado com os pedófilos!”. Que vergonha eu senti! Que vergonha! Eles não perceberam que eu era o arcebispo, eu era um padre e … que vergonha”. E, prosseguiu: “Se o abuso foi cometido por um sacerdote, a marca na vítima permanece ainda mais profunda, há uma confiança espiritual que é destruída, uma fé que é aniquilada”.
O abuso sexual de menores é um crime, independentemente de quem o pratique. Ponto final!
Neste combate à pedofilia, iniciado em grande escala por Bento XVI, Francisco prossegue a política de “tolerância zero”, tendo criado uma espécie de tribunal onde são julgados, de forma urgente, abusos cometidos por membros do clero. Para estes, foram também agravadas as penas aplicadas pela Igreja que, só entre 2004 e 2013 afastou 848 religiosos por estarem envolvidos em escândalos sexuais.
E deste pontificado fica já outra medida inédita: a ordem de prisão domiciliária ao ex-núncio da República Dominicana, o polaco Jozef Wesolowski. Também o bispo da diocese paraguaia de Ciudad del Este, Rogerio Livieres, foi afastado do cargo por ser suspeito de encobrir casos de pedofilia de um sacerdote nos Estados Unidos.
A única prioridade que pode haver, por parte da igreja, é justamente esta: garantir a proteção dos menores e dos adultos vulneráveis, dando respostas de justiça e misericórdia, abrindo caminho à reconciliação dos que foram abusados. Até nisto Francisco tem sido e é diferente, como não podia deixar de ser…