Por Tomaz Dentinho
Todas as Mães estão no Céu. Foi assim que respondi à mensagem de um amigo quando me disse que a sua mãe tinha morrido. É estrangeiro, de outra religião, a comunicação é em inglês,… mas foi o pensamento que me surgiu quando uma resposta se impunha. Ainda hesitei no envio por receio de estar a dizer algum disparate porque os disparates potencialmente bons são para sair da boca para fora e para se fazerem, não vá algum bem ficar retido cá dentro ou algum gesto bom ficar omitido pelo medo.
Encontrámo-nos por estes dias quando convidou uns tantos a participar no pensamento e lançamento da Academia de Ciência Regional. Também para apresentarem trabalhos recentes sobre desigualdade, sobre inovação e sobre as cidades do século XXI. Gente simpática da América e da Europa, do Brasil e do Médio Oriente, de África e da Ásia. Novos e velhos, nomes de livros e nem tanto, que todos os anos são desafiados a pensarem ciência regional no Tinbergen Institute em Amsterdão.
Já não me lembrava da mensagem que tinha enviado e fiquei naturalmente espantado e comovido quando, no discurso que fez durante o jantar, relembrou as mensagens que tinha recebido relevando a que lhe tinha mandado “Todas as Mães estão no Céu”. Vale a pena tirar duas ilações sobre esta pequena história. Primeiro é bom expressar o que nos sai da alma. Segundo, não será mau pensar um pouco mais sobre o que se disse saído da alma; sobretudo escutar o que outros têm a dizer sobre isso.
Em princípio faz sentido que as pessoas que se predispõem para viver um amor natural e constante com os seus filhos devem estar no Céu. A experiência que temos com as nossas mães diz-nos isso. É verdade que percebemos que o amor que nos chega não é extensível ao mundo todo, mal fora, mas também fomos aprendendo que esse amor redentor é o que surge na proximidade. E a maternidade garante essa proximidade mesmo quando à distância, para além de estar seguro no que é natural e real. Em suma podemos concluir que ser mãe é um grande passo para a santidade.
Por outro lado a história também nos conta da existência de muitas mulheres santas e também de pecadoras que se tornaram santas mas creio que nunca refere mulheres e mães condenadas. A mulher que pediu a cabeça de São João Baptista é o caso mais estranho que me recordo mas nada diz que a história dela tenha acabado com o pecado que fez. Igualmente os casos que algumas notícias relatam e a morte provocada de prematuros certamente contrariarão a proposição que estabelece a santidade de todas as mães mas, a verdade é que se trata de pessoas que renunciaram a ser mães.
Em suma julgo que a frase que me saiu quando morreu a mãe do meu amigo estrangeiro tem muito sentido: Todas as Mães estão no Céu. Pelo menos aquelas com quem falamos depois de terem morrido. E é por isso que não se percebe o adiar dessa condição facilitadora da santidade, para além do mais tão natural e maravilhosa como será a de ser mãe. Nós, os pais, temos uma satisfação única em sê-lo mas já não nos parece tão claro e tão natural que isso nos dê a mesma potencialidade para a santidade, pelo menos por via da paternidade.
Talvez um dia me saia uma frase semelhante sobre os pais mas para já fiquemos com a certeza das mães, predestinadas e naturalmente estimuladas para o Céu.