Por Renato Moura
Há dias escrevi sobre o poder da comunicação social: para o bem como para o mal. Esta semana assistimos a mau jornalismo e má política, a propósito da moção de censura proposta pelo Chega, na Assembleia da República.
Nem políticos, nem jornalistas ou comentadores (que às vezes são dois em um, ou nenhum!) têm o direito de contribuir para a confusão das pessoas.
Uma moção de censura ao Governo nunca é inútil. Serve para apreciar “a execução do seu programa ou um assunto relevante de interesse nacional”; é apresentada pelos deputados quando consideram haver motivos para censurar o Governo. Não se pode dizer que não faz sentido, se existe uma maioria e se prevê que o Governo não cairá. A censura é um dos actos políticos de fiscalização. É uma das oportunidades legais para denunciar o que vai mal na governação e isso é um dos importantes deveres dos deputados. A obrigação do Governo é justificar-se face às censuras, aceitando ou explicando em concreto a falta de razão ou verdade das críticas. Se o Governo cairia ou não, seria a incógnita, se os deputados fossem independentes, se imperasse o interesse nacional. São depois os cidadãos a julgar se as censuras dos deputados foram oportunas, justas ou injustas, e sobre se as defesas do Governo foram consistentes.
Os canais televisivos de informação dão em directo debates do Parlamento; muitos portugueses não têm tempo para os ver e poucos paciência para assistir a esses espectáculos algumas vezes degradantes.
Os órgãos de comunicação social tentam adivinhar e propalar o resultado de todas as votações parlamentares. Os próprios partidos anunciam previamente como mandarão os deputados votar: as eventuais opiniões dos deputados são inúteis para alterar a decisão! Já não vale a pena ver televisão. Os partidos até ganham em não se ver como se esgueiram os “supostos” representantes do povo. Televisões, partidos e Parlamento dão tiros nos pés!
O povo limita-se a ver os resumos da comunicação social e a ouvir os comentadores. Para muitos deles o campo é inclinado, como é frequente no futebol. Criam uns ódios de estimação e é dar-lhes em cima, a torto e a direito, quase furiosos contra quem elegeu: mas há eleitores que não escolhem governos, só permeiam com votos quem tem engenho e coragem de proclamar verdades.
Há atitudes que enlameiam a política: linguagem torpe, substituição de respostas por propaganda, desbragamento perante justas críticas, palmas para a vitória dos números que abafam a razão. Esses e tantos tiros no pé da descredibilizada política!