Casal reflete sobre o mundo atual e deixa pistas sobre o que é ser Equipa de Nossa Senhor
Num Mundo que se vai desumanizando e onde Deus tem, cada vez mais, um lugar restrito, num Mundo em que o culto do “ter” é mais importante do que o do “ser”, num Mundo em que a ganância e a corrupção são incentivados como meios de “crescimento”, num Mundo em que o respeito pelo outro é, muitas vezes, tido como subserviência, ou mesmo falta de inteligência, num Mundo em que a competitividade leva à supressão da entreajuda e da partilha, num Mundo egoísta é difícil ser Casal se não exponenciarmos a nossa “parte” divina, a nossa espiritualidade. Como diz Teilhard de Chardin: “não somos seres humanos vivendo uma experiência espiritual, somos seres espirituais vivendo uma experiência humana”. Para nós, casal cristão, esta máxima faz todo o sentido, pois não esquecemos que fomos feitos à imagem e semelhança de Deus. Mistério? Sem dúvida. Tudo em Deus é mistério. Mas, como alguém disse, “o mistério não pode ser um muro onde a nossa inteligência esbarra, mas sim um oceano onde ela mergulha”. Em breve celebraremos, se Deus quiser, 42 anos de Matrimónio, de vida em comum. Foram 42 anos de união, partilha, muitos risos e algumas lágrimas. Somos dois seres distintos, diferentes e irrepetíveis (costumamos dizer, em tom de brincadeira, que no céu não há fotocopiadoras), plenamente conscientes da sua individualidade e que alicerçou em Cristo a sua união. Com Ele, por Ele e n’Ele tudo é mais fácil. Tem sido um tempo para aprender que amar pressupõe respeitar, ser bom ouvinte, perdoar, aceitar, em suma, ser uma morada para o outro. “Os homens caminham pela Terra em fila indiana, carregando um saco à frente e outro atrás. No saco da frente estão os talentos e virtudes de cada um; no de trás os defeitos e más qualidades. Por isso, durante a jornada da vida, mantemos os olhos fixos nas virtudes que possuímos no saco que está ao nosso peito. Porém, e ao mesmo tempo, reparamos de forma impiedosa no saco pendurado nas costas do companheiro que está à nossa frente, vendo todos os defeitos que ele carrega. Assim nos julgamos melhor do que ele, sem perceber que a pessoa que vem atrás de nós está pensando o mesmo a nosso respeito”. A imagem remete-nos para a reflexão. E se é importante tê-la em mente nas nossas relações sociais é premente e imprescindível transpô-la para a nossa vivência em casal. É importante que saiamos da “fila indiana” e nos posicionemos ao lado um do outro. Melhor seria ainda que nos colocássemos frente a frente, onde só veremos as virtudes e talentos do outro, que serão alavanca de progresso para uma convivência harmónica e feliz. E como é através das nossas relações interpessoais que a nossa realidade espiritual emerge e se robustece, só teremos a ganhar com a nova visão que adquirimos ao mudarmos de posição. Viver a dois, mais do que preparação para a situação, exige um profundo conhecimento e aceitação de si próprio, exige viver a conjugalidade. A conjugalidade é uma palavra nova para um conceito antigo. Para nós, é a capacidade que tem o amor para se adaptar a novas circunstâncias, nem sempre favoráveis, e que, por vezes, podem pôr em risco a harmonia do casal. É a capacidade de ceder sem ter a sensação de perda; de aceitar sem impor; de perdoar e pedir perdão; de não se defraudar, lembrando-se que as expectativas são de quem as tem e que o outro não é obrigado a cumpri-las. Em suma, a conjugalidade é o reflexo do Amor com que Deus nos ama. Testemunho como casal Por definição Equipa é um conjunto de pessoas seleccionadas para uma prova desportiva, trabalhos de investigação ou qualquer outro assunto de interesse comum entre os seus membros. Partindo desta definição resolvemos meditar e tentar descobrir até que ponto somos Equipa. Não fomos seleccionados. Não nos submeteram a testes de avaliação. Não nos mediram o QI nem o QE. Fomos, tão somente, convidados por outro casal, a aderir às ENS, um Movimento que desconhecíamos e ao qual aderimos com algumas reservas. É que o elitismo dos Movimentos Católicos era, muitas vezes, para nós, tema de “conversa de sala”. Entramos para o Movimento a 11/10/98 e connosco mais 4 casais, com os quais formamos a Equipa PD 25. Não os conhecíamos nem sabíamos se nos iríamos dar bem. Então, por que aderimos? Provavelmente por curiosidade e por sabermos que não era um “contrato” para a vida e que, portanto, a qualquer momento nos poderíamos desvincular dele. Passados que foram estes 17 anos continuamos a reunir. A pouco e pouco a confiança e o intimismo entre os casais da Equipa foi gerando uma profunda amizade e começamos a entender melhor o apelo de Jesus: “sede todos Um como Eu e o Pai somos Um”. E porque somos e nos sentimos Equipa resolvemos redefinir esta palavra. Ser Equipa é sermos Um, sem perder a nossa identidade ou a nossa individualidade. É dar. Dar muito – pois “é dando que se recebe” – para nos esvaziarmos e, assim, criarmos espaço para receber. Receber tudo o que nos quiserem dar e, neste intercâmbio amoroso, ficarmos mais perto do que Jesus nos pediu: “amai-vos uns aos outros como Eu vos amei”. Ser Equipa é ser atento, silencioso, bom ouvinte e, sobretudo, orante. São os atributos de Maria, a mãe amada em quem Jesus se apoiou para levar a cabo a Sua Missão Redentora. Pela fé incomensurável no seu Deus, Maria, antes de ser Senhora nossa foi Senhora de si mesma. Ser Equipa é aprender a ver no outro o rosto de Deus. É ajudar e ser ajudado a descobrir o “eu” profundo, esse manancial de riqueza que é o selo de Deus em nós, o nosso Deus imanente, o nosso Cristo interno, a nossa rocha. Ser Equipa é ir percebendo, a pouco e pouco, que o nosso Deus não é o inatingível mas sim o inevitável e, por conseguinte, motivarmo-nos mutuamente a partir à descoberta do Pai que nos ama sem conta, peso ou medida. Ser Equipa é não nos afadigarmos nem nos esgotarmos com “as coisas do mundo” e escolhermos sempre “a melhor parte”, tal como fez Maria de Betânia. Ser Equipa é aprender, constantemente, que tudo o que temos não nos pertence, antes é bênção de Deus em nós para pormos ao serviço do outro. Ser Equipa é sonhar que um dia se possa dizer do nosso Movimento “vede como eles se amam”. Por tudo o que vamos aprendendo estamos gratos ao Movimento das Equipas de Nossa Senhora, que nos desinstalou dos nossos comodismos e abriu as portas do nosso lar aos outros e ao serviço.