Subsecretário do Dicastério para a Cultura e a Educação apresenta, em Lisboa, obra “Uma trama divina”, com prefácio do Papa
O padre Antonio Spadaro, subsecretário do Dicastério para a Cultura e a Educação (Santa Sé), disse à Agência ECCLESIA que o diálogo com o mundo contemporâneo exige, dos católicos, uma redescoberta do caráter “revolucionário” da mensagem de Jesus.
“À força de o ouvir, tomamos tudo como garantido, mas temos de recuperar a força verdadeiramente revolucionária do Evangelho. E isso é também um desafio”, referiu o sacerdote jesuíta, que apresenta em Lisboa a obra ‘Uma trama divina. Jesus em contracampo’, com prefácio do Papa Francisco.
O autor participa, esta tarde, numa mesa-redonda sobre ‘Literatura e Cristianismo – A Palavra em Comum’, promovida pelas Paulinas Editora e o Instituto Italiano de Cultura.
A obra do padre Spadaro apresenta as reflexões que publicou, no jornal ‘Il Fatto Quotidiano’, com comentários ao Evangelho de domingo.
“Isso obrigou-me, de alguma forma, a reler os Evangelhos de uma maneira diferente, porque me apercebi que a minha maneira de falar estava habituada ao confronto com a comunidade cristã. Mas o Evangelho é para todos, para um primeiro anúncio”, observou.
“Temos de encontrar uma linguagem para comunicar a beleza do Evangelho, a força, o poder revolucionário da sua Palavra. E isso só pode ser feito se, de alguma forma, apagarmos os nossos hábitos, até os nossos tiques linguísticos, o nosso modo habitual de falar no seio da Igreja, para termos uma linguagem mais universal”.
O entrevistado admite que o convite de um jornal “laico” representou um “grande desafio” que o ajudou a “reler o Evangelho” e a centrar-se no “essencial”.
“Uma das coisas que compreendi imediatamente foi o facto de Jesus ter sido incompreendido pelos seus”, aponta.
O padre Antonio Spadaro realça que o Evangelho é um texto literário, “rico em poesia e rico em história”, que beneficia da experiência do leitor no contacto com a literatura e da sua capacidade de se identificar com as personagens.
“Diante do texto evangélico, que consideramos inspirado, a atitude fundamental é ser humilde na escuta, na aprendizagem. E isto, numa sociedade em que queremos ser sempre protagonistas, em que queremos ser sempre o centro das atenções, ajuda-nos a deslocar-nos para as histórias dos outros, se as levarmos a sério”, sustenta.
No prefácio de ‘Uma trama divina’, o Papa escreve que “artistas e escritores, pela natureza própria da sua inspiração, conseguem preservar a força do discurso evangélico”.
“Neste tempo de crise da ordem mundial, de guerra e grandes polarizações, de paradigmas rígidos, graves desafios climáticos e económicos, precisamos da genialidade de uma linguagem nova, de histórias e imagens poderosas, escritores, poetas e artistas capazes de gritar ao mundo a mensagem do Evangelho, de nos fazer ver Jesus”, apela Francisco.
Esta mensagem foi entregue pelo padre Spadaro ao realizador Martin Scorsese, que “sentiu a necessidade de responder”.
“Escreveu um primeiro guião, um primeiro argumento de um possível filme sobre Jesus. Isto para mim foi um sinal forte: a palavra do Papa, que compreendeu muito bem a dimensão cinematográfica que há neste livro, tocou o coração de um grande realizador e fê-lo querer retratar Jesus de uma maneira nova”, indica o autor.
Para o subsecretário do Dicastério para a Cultura e a Educação, perder a dimensão das histórias é “terrível”, porque leva a “reduzir o Evangelho a um manual teórico de abstrações, de ideologias”.
(Com Ecclesia)