Vigário Episcopal para São Miguel e Santa Maria presidiu esta manhã à missa da festa do Senhor Bom Jesus da Pedra, com transmissão no canal 1 da RTP
O vigário Episcopal para São Miguel e Santa Maria afirmou hoje que o “tradicionalismo e o legalismo excessivo” dentro da Igreja e da sociedade são os maiores inimigos do amor, durante a homilia proferida na missa solene da festa do Senhor Bom Jesus da Pedra, em Vila Franca do Campo.
“Dentro da Igreja, tradição é o depósito da fé e esse é um legado que Jesus nos deixou; esta é a fonte original que chamamos a tradição da Igreja, à qual devemos ir beber sempre”, mas “não podemos confundir a tradição da Igreja com o tradicionalismo nem com o legalismo” disse o cónego Adriano Borges.
A partir da liturgia deste domingo, que nos apresenta o paradoxo , por vezes existente, entre o excesso de legalismo e tradicionalismo em detrimento do amor e da misericórdia, o sacerdote salientou que “o tradicionalismo não permite ler os sinais do tempo e impede-nos de avançar”.
“A expressão `sempre foi assim´ é o pior pecado contra o Espírito Santo” afirmou ao salientar que “não podemos ter medo da mudança”, mesmo que ela “nos coloque em crise e nos desinstale”.
Por outro lado, as leis “são importantes” mas quando “se tornam absolutas e não servem como um caminho, perspetiva de solução, uma abertura de uma nova via para o encontro com Deus e com os irmãos essa lei não deve existir pois é obsoleta e deve desaparecer”, afirmou o sacerdote, que aproveitou a oportunidade para se referir à caminhada sinodal que a Igreja diocesana vem fazendo há dois anos.
“Se somos de Jesus temos de ir beber na fonte para nos refrescarmos” afirmou ao desafiar os cristãos a abandonarem uma certa postura de maledicência e má língua e optarem pelo compromisso.
“Temos de esquecer um certo síndrome da janela que é ver a banda passar, criticar o músico e a escolha da música; temos de estar na banda, todos sem excepção. Temos de estar no caminho e todos juntos descobrirmos a direção e isso só se faz se com Jesus aprendermos a ir ao coração”, referiu.
“É mais fácil cumprir as leis e ficarmos com a consciência tranquila: já fui à missa, já rezei o terço, já dei uma esmola… não chega. Temos de olhar para o nosso coração e purificá-lo”, disse o cónego Adriano Borges.
E, se é do nosso coração que sai o mal, também é dele que pode sair o bem. Por isso, adiantou, “precisamos de olhar para dentro; temos de deixar de nos preocupar com as mãos sujas e preocuparmo-nos com o invisível”, numa alusão à liturgia de hoje.
“É no coração e pelo coração que mudamos o mundo”, frisou deixando uma prece: “ que cada um de nós, olhando para o Bom Jesus da Pedra, consiga ter este olhar com cada um dos seus irmãos”.
Na festa do Bom Jesus da Pedra, além de inúmeros emigrantes, participaram também as autoridades políticas e civis da região e do concelho, embora sem a tradicional procissão solene que durante esta tarde deveria percorrer as principais artérias de Vila Franca do Campo.