Opinião é do assistente do CPM na ilha Terceira, Cónego Gregório Rocha
Se o caminho que leva ao sacramento do matrimónio “não pode ser feito de véspera em regime intensivo”, os temas que hoje são seguidos pela igreja também deveriam ser “reformulados e ajustados” diz o responsável pelos Cursos de Preparação para o Matrimónio(CPM) na ilha Terceira.
O Cónego Gregório Rocha é o convidado deste domingo do programa de rádio Igreja Açores, que passa no Rádio Clube de Angra e na Antena 1 Açores, e defende o inicio do trabalho de “reformulação” dos temas e da forma como estes cursos são ministrados.
“Os CPM devem ser uma partilha de experiência assente em duas coisas: numa partilha de testemunho por parte dos casais e numa vertente da fé” disse o sacerdote.
“A forma e a linguagem utilizadas é concreta e direta e está atual porque os casais têm uma vida concreta; os temas é que devem ser ajustados em função da realidade dos nossos dias mas isso não depende de nós mas da igreja universal”, refere sublinhando que a própria exortação pós sinodal do Papa Francisco aponta para este caminho.
“É um desafio muito grande que não se consegue de um dia para o outro no entanto isso não quer dizer que não comecemos já a trabalhar” alerta o sacerdote que dá o exemplo do primeiro tema do CPM que se refere a `avisos´ sobre a vida conjugal quando a maior parte “90% dos casais já vive junto e por isso teve de encontrar mecanismos de partilha e de ajustamento a uma vida em comum”.
Mas há outros aspetos que precisam de ser mudados:”temos de envolver as famílias, as paróquias e as comunidades a preparar os jovens para a importância do matrimónio. Se não for assim não iremos a lado nenhum”, disse.
“O testemunho na família é muito importante porque, pela negativa, também conhecemos casos de jovens que não querem casar porque a experiência familiar foi negativa”, acrescenta.
“O caminho que leva ao sacramento não pode ser feito na véspera” diz, pois “há toda uma caminhada para se perceber e interiorizar o significado deste sacramento”, tal como há a necessidade de fazer o “acompanhamento dos casais no inicio de vida para os quais temos de criar estruturas para que deem continuidade à sua caminhada conjugal”.
Na ilha Terceira este ano houve um aumento do número de casais que frequentou os dois turnos de Curso que se realizaram e, na sua maioria, as “expetativas foram além daquilo que os noivos tinham em mente”, disse o sacerdote.
Ainda hoje, o Papa Francisco alertou para a fragilidade atual dos matrimónios que tem na sua base o facto dos noivos não compreenderem o compromisso que vão assumir, e realça que a Igreja Católica tem muito trabalho a fazer nesta área.
“Uma parte dos casais que hoje se casam não sabem o que fazem”, salientou Francisco durante uma visita à residência universitária “Villa Nazareth”, para estudantes desfavorecidos, em Roma.
Numa iniciativa que teve lugar este sábado à tarde, o Papa argentino lamentou a “cultura do provisório” que marca hoje a sociedade e que atinge também os casais, que muitas vezes estão juntos “enquanto o amor durar”.
“E quando o amor não prevalece, o matrimónio acaba”, salientou.
Mas os noivos “sabem que o matrimónio é para toda a vida? Sim, sim, dizem. Mas eles não sabem”.
Para Francisco, esta situação tem de apelar a uma ação pastoral mais efetiva por parte da Igreja Católica.
“Creio que a Igreja tem muito a fazer nesta área da preparação dos casais para o matrimónio”, admitiu o Papa, acrescentando que uma escolha que é para toda a vida “não pode ser preparada em três ou quatro reuniões”.
“É preferível não casar, não receber o sacramento, se não se está seguro do mistério que se tem pela frente, se não se está bem preparado”, se só se encara o matrimónio como “um acontecimento social”, declarou.