Temas da Bíblia “são sempre atuais” e retratam “sociedade de hoje” – Frei Herculano Alves

Foto: Ecclesia

Autor de “Raízes da Fé – Temas Bíblicos” apresenta obra, resultado de vários estudos apresentados em conferências, congressos e formações bíblicas

Frei Herculano Alves, investigador em ciências bíblicas e autor da coleção de livros ‘Raízes da Fé – Temas bíblicos’, afirmou que os temas desenvolvidos na Bíblia “nunca são velhos” e que espelham a sociedade de hoje, marcada pela violência.

“Esta publicação é atualizada, é nova. Temas velhos dá uma coleção nova. E os temas da Bíblia nunca são velhos. Portanto, são sempre atuais. Mesmo agora estou a falar da Aliança na Bíblia e nós vemos que a Bíblia retrata já antecipadamente, por exemplo, a sociedade de hoje”, destaca o frade franciscano capuchinho.

Frei Herculano Alves salienta que a sociedade atual, em vez de viver da “aliança”, do “diálogo”, da “concórdia”, da “paz entre instituições e Estados”, é, pelo contrário, “violenta”.

No presente, existe a ajuda “das novas tecnologias da violência para matar ainda mais do que se matava no tempo do rei David, que era a pedrada e agora é com mísseis e bombas atómicas”, ressalta o doutor em Teologia Bíblica e professor jubilado de Sagrada Escritura na Universidade Católica Portuguesa.

Em entrevista transmitida hoje, no Programa ECCLESIA (RTP2), o autor apresenta a coleção de livros ‘Raízes da Fé – Temas Bíblicos’, que inclui um leque de 124 temas e abrange um diversos assuntos do Antigo e do Novo Testamento, assim como outras temáticas fundamentais, e que tem como objetivo tratar a “explicação dos textos bíblicos”.

“Os critérios que deram esta coleção como consequência, como resumo, foram, de facto, critérios de trabalhos feitos, ou em congressos, ou em semanas bíblicas, ou em momentos muito específicos do meu trabalho pastoral bíblico. E também, não só trabalho pastoral, mas também trabalho académico”, explica.

O entrevistado refere que as temáticas presentes nos livros “já estavam previamente escolhidas” e que foram tratadas de forma “a serem editadas corretamente”.

A ecologia, uma questão que inquieta a sociedade atualmente, está assente na obra, através dos Salmos.

“A perspetiva ecológica é fundamental. Mas nos Salmos também. O Deus da natureza, o Deus da terra, o Deus que cuida de nós, o Deus que está ao nosso lado, etc”, reflete.

Também a violência está inscrita na coleção de livros, considerada pelo autor um dos “grande temas da Bíblia”.

“Muitas vezes as pessoas confundem a violência humana com a violência de Deus. E diz que o Deus da Bíblia é violento. E há pessoas que não leem o Antigo Testamento por causa disso, que não é verdade. Deus não é violento, ponto final. Quem é violento somos nós, os seres humanos é que fazem os dilúvios, dilúvios de sangue, dilúvios de lágrimas”.

Frei Herculano Alves dá o exemplo do Salmo 137, “interpretado por muitos autores da literatura portuguesa”, que traduz o sofrimento que, sublinha o Frei Herculano Alves, “não é Deus que o manda fazer”.

“É o ser humano que faz ao outro ser humano. O país vizinho que faz ao país vizinho, etc. Temos atualmente na Europa, na própria Europa, temos isto. Temos a Rússia, que é, neste caso, o Caim, e temos a Ucrânia, que é o Abel. O Caim quer matar o Abel. Isto não é Deus que tem a culpa. Não é Deus que é violento. Nós é que somos sempre violentos”, enfatiza.

O autor assinala que a obra é resultado de “muito investimento”, “não tanto de investigação”, mas dos métodos que existem e que são necessários pôr em prática.

“Eu mesmo tenho vários textos que ajudam, dão pistas de como ler a Bíblia, como ler a Igreja […] Ou seja, a hermenêutica está aqui também retratada em vários textos destes. Agora, é pena é que não haja espaço na Igreja onde esta hermenêutica e este ensino do modo de ler a Bíblia possa ser ensinado às pessoas comuns, aos católicos. Esse é o falhanço geral”, comenta.

Frei Herculano Alves considera que “o povo já não sabe o que é ser cristão, “já não sabe o que é que vai fazer na Igreja, não sabe porque é que recebe sacramentos”.

“Não há ensino”, lamenta.

“Raízes da Fé – Temas bíblicos” é, segundo o investigador, uma ajuda e um “serviço à comunidade, à Igreja Portuguesa”, para que servir “de ensinamento mínimo às pessoas da Igreja Católica”.

 

46ª Semana Bíblica Nacional dos Franciscanos Capuchinhos realiza-se de 26 a 29 de agosto, no Centro Bíblico, em Fátima, com o tema “O Evangelho da Esperança”. 

“Vivemos de facto num mundo sem grande esperança. Um mundo de desânimo, tristeza, um mundo com ameaças de guerras. Quer dizer, falta esperança. E sobretudo, falta esta esperança e este ânimo também dentro da Igreja. É natural que os pastores das comunidades, das dioceses, etc., sintam também este desânimo”, referiu, justificando a escolha do tema.

A pandemia física Covid-19 trouxe, de acordo com Frei Herculano Alves, a pandemia espiritual, tendo como consequência o facto de as pessoas habituarem-se a não ir à Igreja.

“E agora não vão. Já não vão sequer à Missa dominical. […] Mas, de facto, é triste ver que as igrejas estão muito vazias. Ou seja, os pastores estão preocupados porque, de facto, não sabem como agarrar novamente, como apanhar novamente, os que saíram da comunidade da Igreja”, sublinha.

(Com Ecclesia)

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