Novo cardeal português recebeu barrete e anel cardinalício em momento “afetuoso” na praça de São Pedro
D. Américo Aguiar disse hoje, após receber o barrete e o anel cardinalício das mãos do Papa Francisco, que este lhe pediu para ter “Setúbal no coração”.
“Em razão da minha igreja titular, de Santo António de Pádua na Via Merulana, disse umas piadas, de Lisboa ou de Pádua, e falou de Setúbal: «Tem Setúbal no seu coração», que é particularmente bonito e inspirador”, confidenciou o novo cardeal português aos jornalistas após a cerimónia do consistório.
O Papa Francisco entregou hoje, pelas 10h39 (menos uma em Lisboa) o anel e o barrete cardinalícios ao bispo português D. Américo Aguiar, numa cerimónia que decorreu na Praça de São Pedro.
D. Américo Aguiar foi criado cardeal-presbítero, recebendo o título de Santo António de Pádua na Via Merulana (Sancti Antonii Patavini de Urbe), em Roma, igreja de que foram titulares, entre 1973 e 1998, o cardeal-patriarca de Lisboa, D. António Ribeiro, e de 2001 a 2022 o cardeal brasileiro D. Claudio Hummes, uma figura muito próxima do Papa Francisco.
“Para mim é significativo que esta igreja tenha sido titular do cardeal António Ribeiro e também do cardeal Hummes, o culpado do nome Francisco, «não te esqueças dos pobres». Tudo são sinais, recados e provocações que coloco no coração”, indicou.
Durante esse encontro e aproximação, D. Américo Aguiar afirma reagir com o Papa Francisco como sempre costuma fazer: “Sempre que nos encontramos, eu tenho este gesto de simpatia e carinho, de avó e de neto, de pai e filho, de sucessor de Pedro e de colaborar próximo. Sempre o fiz porque sim, não sei fazer de outra maneira”, reconhece.
Durante a cerimónia do consistório, cada um dos novos cardeais ajoelhou-se para receber o barrete cardinalício, de acordo com a ordem de criação.
“Quando estava a subir aquela rampa lembrei-me daquele dia, da vigília, que o Papa sozinho no contexto da pandemia e do confinamento, (rezou na praça de São Pedro sozinho), senti partilhar o peso, dessa caminhada. Depois, «In manus tuas», a partir do momento em que nos entregamos nas mãos de Deus, e assim, aconteceu”, explicou.
D. Américo Aguiar quis ainda valorizar as palavras do Papa Francisco que pediu aos novos cardeais para serem uma “orquestra sinfónica e sinodal”.
“Um homem do norte adapta-se a qualquer instrumento e agora vamos dar música”, disse aos jornalistas.
Sobre a fórmula dita em latim durante a cerimónia de criação de cardeal, D. Américo Aguiar referiu que a língua liga à tradição mas aponta para a diversidade que a Igreja hoje é.
“A diversidade de línguas do Pentecostes leva-nos à Igreja de hoje, não pode ter a tentação de ser um museu e devemos em cada tempo estar próximos e sensíveis, com os métodos e expressões em cada tempo, saber estar, falar e comunicar com cada um na sua língua, cultura”, finalizou.
D. Américo Aguiar, novo bispo de Setúbal, tornou-se, assim, o sétimo cardeal português do século XXI e quarto a ser criado no atual pontificado.
O responsável junta-se a D. José Saraiva Martins, D. Manuel Monteiro de Castro, D. Manuel Clemente, D. António Marto e D. José Tolentino Mendonça no Colégio Cardinalício; D. José Policarpo, falecido em 2014, foi criado cardeal em 2011.
A nomeação cardinalícia do presidente da Fundação JMJ Lisboa 2023 foi anunciada a 9 de julho; a 21 de setembro, o Papa nomeou o então auxiliar de Lisboa como novo bispo de Setúbal.
Portugueses acompanham D. Américo Aguiar
Centenas de portugueses acorreram hoje à Praça de São Pedro, desde as primeiras horas da manhã, para participar no Consistório em que o Papa criou D. Américo Aguiar como cardeal.
Num ponto de encontro, decorado com a bandeira nacional, foram distribuídas pequenas bandeiras da JMJ 2023, além de uma pagela com a “oração do encontro”, de São Charles de Foucauld, eram distribuídas aos convidados do bispo eleito de Setúbal.
Rui Moreira, presidente da Câmara do Porto, sublinhou à Ecclesia e à Lusa o “percurso eclesial” do novo cardeal português, que se formou como sacerdote na diocese nortenha.
“Basta pensar o trabalho que fez, por exemplo, para resolver o problema dos Clérigos”, assinalou o autarca, realçando que o monumento se transformou num “ícone da cidade”.
Para Rui Moreira, este é “um dia feliz para Portugal e para a Igreja, um dia feliz para os amigos”.
“Acho que é o reconhecimento de um homem excecional, um homem diferente, com grande capacidade de mobilização”, concluiu, evocando a experiência de D. Américo Aguiar como presidente da Fundação JMJ Lisboa 2023.
O padre Filipe Diniz, assistente do Departamento Nacional da Pastoral de Juvenil, que acompanhou o setor na preparação e celebração da JMJ, fala num “sinal de reconhecimento” do trabalho dos jovens neste encontro mundial.
Miguel Ângelo Ribeiro, de Santa Maria da Feira, foi colega de seminário de D. Américo Aguiar, já então tratado por “cardeal”, como o próprio explicou – por causa da coincidência do nome com D. Américo Ferreira dos Santos Silva GCNSC (1830-1899), bispo do Porto que foi criado cardeal pelo Papa Leão XIII.
Sandra Bastos sublinha a proximidade com o antigo colega do marido e o facto de um dos filhos ter participado na JMJ 2023.
“Para nós, estar aqui significa mesmo muito, é uma homenagem fantástica que o Papa faz ao nosso país, escolhendo um cardeal ainda tão jovem”, declarou.
Ivo Faria, chefe nacional do Corpo Nacional de Escutas, disse que a criação cardinalícia de um antigo escuteiro é “uma alegria muito grande”.
“O Escutismo promove percursos diferentes na vida dos nossos jovens, na vida das pessoas, e o jovem Américo encontrou a sua vocação, como ele diz, também no Escutismo. Para nós, é importante dar esse testemunho de alegria e presença na renovação da promessa escutista que ele hoje vai fazer”, indicou.
Este é o nono consistório do atual pontificado, após os realizados a 22 de fevereiro de 2014, 14 de fevereiro de 2015, 19 de novembro de 2016, 28 de junho de 2017, 28 de junho de 2018, 5 de outubro de 2019, 28 de novembro de 2020 e 27 de agosto de 2022.
(Com Ecclesia)