Francisco evocou vítimas da violência no mais jovem país africano, incluindo vários missionários católicos
O Papa disse hoje na capital do Sudão do Sul que a Igreja tem o dever de “erguer a voz” contra a violência e a injustiça, falando a membros do clero e de institutos religiosos, no mais jovem país africano.
“Também nós somos chamados a erguer a voz contra a injustiça e a prevaricação, que esmagam as pessoas e se valem da violência para, à sombra dos conflitos, melhor gerir os próprios negócios”, denunciou, na Catedral de Santa Teresa, em Juba.
No segundo discurso da sua “peregrinação ecuménica pela paz”, iniciada esta sexta-feira, Francisco sublinhou que os responsáveis católicos “não podem permanecer neutrais face ao sofrimento provocado pela injustiça e as violências”.
“Onde quer que uma mulher ou um homem sejam feridos nos seus direitos fundamentais, é ofendido Cristo”, acrescentou.
O Papa apresentou uma reflexão a partir do simbolismo do Rio Nilo, evocando “as lágrimas dum povo imerso no sofrimento e na dor, martirizado pela violência”.
“As águas do grande rio recolhem os dolorosos gemidos das vossas comunidades, o grito de dor de tantas vidas destroçadas, o drama dum povo em fuga, a aflição do coração das mulheres e o medo gravado nos olhos das crianças”.
Francisco refletiu com todos os presentes sobre o que significa ser “ministros de Deus”, numa história “permeada pela guerra, o ódio, a violência e a pobreza”.
“Como exercer o ministério nesta terra, ao longo das margens dum rio banhado por tanto sangue inocente, enquanto nos aparecem sulcados por lágrimas de amargura os rostos das pessoas a nós confiadas?”, questionou.
O Papa sustentou que é necessário rejeitar a violência e os “instrumentos humanos” para resolver as crises, “como o dinheiro, a astúcia, o poder”.
“Temos de dar a primazia não a nós, mas a Deus, para nos confiarmos à sua Palavra em vez de nos servir das nossas palavras, para acolhermos docilmente a sua iniciativa em vez de apostar nos nossos projetos pessoais e eclesiais”, prosseguiu.
A Catedral de Juba acolheu 5 mil pessoas para este encontro, das quais cerca de um milhar no interior da igreja, que acolheram o Papa num clima de festa.
Francisco pediu uma Igreja capaz de “sujar as mãos em favor das pessoas”.
“Nunca devemos exercer o nosso ministério visando o prestígio religioso e social, mas caminhando juntos no meio do povo”, explicou.
Nos testemunhos apresentados, antes do discurso papal, foram recordadas Maria Abud e Regina Roba, duas religiosas da Congregação do Sagrado Coração de Jesus no Sudão do Sul, mortas em agosto de 2021 num ataque realizado por homens armados.
O Papa rezou em silêncio por todos os membros da Igreja que “caíram vítimas de violências e atentados em que perderam a vida” no país, agradecendo aos sacerdotes, religiosos e missionários pela sua dedicação.
Francisco é acompanhado no Sudão do Sul pelo arcebispo da Cantuária e líder da Igreja Anglicana, Justin Welby, e do moderador da assembleia-geral da Igreja da Escócia (Igreja Presbiteriana), pastor Iain Greenshields.
O programa da viagem prevê, esta tarde, um encontro com deslocados internos do Sudão do Sul e uma oração ecuménica, na companhia dos líderes da Igreja Anglicana e da Escócia.
Os católicos representam mais de 52% dos 13,7 milhões de habitantes do mais jovem país africano, segundo dados do Vaticano; estima-se que os cristãos sejam cerca de 70% da população.
Esta é a quinta viagem de Francisco ao continente africano, onde esteve em 2015, 2017 e 2019, por duas vezes, tendo passado pelo Quénia, Uganda, República Centro-Africana, Egito, Marrocos, Moçambique, Madagáscar e Maurícia.
A visita, iniciada esta terça-feira, na República Democrática do Congo, prolonga-se até domingo.
(Com Ecclesia)