Papa inicia primeira viagem ao país, independente desde 2011, em busca de acordos que promovam a reconciliação e o fim da guerra
O Papa apelou hoje no Sudão do Sul ao cumprimento dos acordos de paz assinados entre o governo nacional e a oposição, a fim de travar a violência que afeta o mais jovem país africano, independente desde 2011.
“Basta de sangue derramado, basta de conflitos, basta de violência e acusações recíprocas sobre quem as comete, basta de deixar à mingua de paz este povo dela sedento. Basta de destruição; é a hora de construir! Deixe-se para trás o tempo da guerra e surja um tempo de paz”, referiu, no Palácio Presidencial de Juba, perante autoridades políticos, representantes da sociedade civil e líderes religiosos.
Francisco iniciou esta tarde uma visita ecuménica, acompanhado pelo primaz anglicano e o líder da Igreja da Escócia.
“Empreendemos esta peregrinação ecuménica de paz depois de ter escutado o clamor dum povo inteiro que, com grande dignidade, chora pela violência que padece, pela perene falta de segurança, pela pobreza que o aflige e pelos desastres naturais que assolam”, precisou.
O governo do Sudão do Sul e a Aliança dos Movimentos de Oposição (Ssoma) assinaram em janeiro de 2020 a Declaração de Roma, onde assumiram o compromisso de terminarem as hostilidades no país africano, com a mediação da comunidade católica de Santo Egídio.
“É tempo de passar das palavras aos atos. É tempo de virar página; é o tempo do empenho em prol duma transformação urgente e necessária. O processo de paz e reconciliação exige um novo salto”, sustentou Francisco.
“Que não seja em vão este sofrimento extenuante; que a paciência e os sacrifícios do povo sul-sudanês, desta gente jovem, humilde e corajosa, interpelem todos”, pediu o Papa, para quem é fundamental “impedir a chegada de armas”.As duas partes têm trocado acusações de violação dos acordos, com o país a viver uma crise de refugiados: segundo dados da ONU, desde dezembro de 2013, o conflito – agravado por inundações e secas extremas – provocou milhares de mortos e expulsou quase quatro milhões de pessoas das suas casas.
Sete meses após a data inicialmente prevista para a viagem – adiada por causa de problemas de saúde do Papa -, Francisco evocou a ligação histórico deste território africano ao Nilo: “Assim como o rio deixa as nascentes para começar o seu curso, assim também o curso da história deixará para trás os inimigos da paz”.
Estes anos de guerras e conflitos parecem não ter fim, e ainda recentemente se verificaram duros confrontos, enquanto os processos de reconciliação parecem paralisados e as promessas de paz permanecem por cumprir”.
O Papa disse aos responsáveis políticos que a sua missão é “servir a comunidade”, colocando os recursos naturais ao dispor de todos, com “uma distribuição equitativa das riquezas”.
O discurso apelou ao “desenvolvimento democrático” do país, no respeito pela separação de poderes, sustentando a necessidade combater a corrupção e de assegurar maior proteção para as mulheres.
“A jovem história deste país, dilacerado por conflitos étnicos, tem necessidade de voltar a encontrar a mística do encontro, a graça do conjunto”, prosseguiu.
Francisco agradeceu aos missionários e agentes humanitários que trabalham pelo Sudão do Sul, antes de manifestar a sua solidariedade às vítimas de inundações e da desflorestação.
“A urgência dum país civilizado é cuidar dos seus cidadãos, particularmente dos mais frágeis e desfavorecidos. Penso sobretudo nos milhões de deslocados que aqui vivem: quantos tiveram de abandonar a sua casa encontrando-se relegados à margem da vida na sequência de confrontos e deslocações forçadas”, acrescentou.O encontro teve intervenções do presidente da República do Sudão do Sul, Salva Kiir, do arcebispo da Cantuária e líder da Igreja Anglicana, Justin Welby, e do moderador da assembleia-geral da Igreja da Escócia (Igreja Presbiteriana), pastor Iain Greenshields.
“Desejamos sinceramente oferecer a nossa oração e o nosso apoio para que o Sudão do Sul se reconcilie e mude de rumo, a fim de que o seu curso vital deixe de ser impedido pelas cheias da violência, obstaculizado pelos pântanos da corrupção e malogrado pelo transbordamento da pobreza”, concluiu o Papa.
Este sábado, além de um encontro com responsáveis católicos na Catedral de Santa Teresa, o programa da viagem prevê um encontro com deslocados internos do Sudão do Sul e uma oração ecuménica, na companhia dos líderes da Igreja Anglicana e da Escócia.
Os católicos representam mais de 52% dos 13,7 milhões de habitantes do mais jovem país africano, segundo dados do Vaticano; estima-se que os cristãos sejam cerca de 70% da população.
Esta é a quinta viagem de Francisco ao continente africano, onde esteve em 2015, 2017 e 2019, por duas vezes, tendo passado pelo Quénia, Uganda, República Centro-Africana, Egito, Marrocos, Moçambique, Madagáscar e Maurícia.
A visita, iniciada esta terça-feira, na República Democrática do Congo, prolonga-se até domingo.
(Com Ecclesia)