Presbítero e mártir, é o padroeiro principal da Diocese de Angra e celebra-se esta quinta feira.
Amanhã, os sinos das igrejas açorianas dobrarão em homenagem ao Beato João Batista Machado, Padroeiro principal da Diocese de Angra, cujo processo de canonização está em renovação porque foi beatificado há 150 anos, juntamente com os designados Mártires do Japão.
Reconhecido pela Igreja Universal, e conhecido a nível mundial, a devoção à sua causa foi impulsionada na segunda metade do século XX, com um pedido de canonização entregue em mão a São João Paulo II, quando esteve nos Açores, em 1991 e, desde então destacam-se várias iniciativas que materializam a devoção a este beato por parte dos católicos açorianos.
João Baptista Machado é um dos sete mártires do Japão, juntamente com Ambrósio Fernandes (Porto), Francisco Pacheco (Ponte de Lima), Diogo de Carvalho (Coimbra), Miguel de Carvalho (Braga), Vicente de Carvalho e Domingos Jorge que aguardam a canonização.
João Baptista Machado nasceu nos Açores na ilha terceira 1582, filho de Cristóvão Vieira e de Maria Cota da Malha, uma família ligada à mais antiga e distinta aristocracia da ilha Terceira. Foi baptizado na Sé de Angra, em 15801 2 cuja escola frequentou até aos 15 anos, idade com que parte para Lisboa e depois Coimbra.
Estudou no colégio da Companhia de Jesus de Coimbra, a onde chegou no ano de 1597, com apenas 17 anos de idade. Depois partiu para a Índia em 1601, com outros 15 companheiros jesuítas.
No Oriente continuou a frequentar os estudos dos colégios da Companhia de Jesus, tendo estudado Filosofia em Goa e Teologia em Macau, sendo ordenado sacerdote em Goa.
Partiu como missionário para o Japão em 1609, já quando ordens do imperador japonês determinavam que os missionários cristãos deveriam abandonar o território nipónico.
Depois de estudar a língua japonesa no Colégio Jesuíta de Arima, iniciou as suas tarefas de missionação, acabando por se fixar na cidade de Gotō, no sul do arquipélago japonês.
Resolveu permanecer no Japão após ter recebido em 1614 ordem imperial para abandonar as ilhas. Passou, então, a missionar na clandestinidade, trabalhando, disfarçado, para acudir às necessidades espirituais das comunidades cristãs japonesas existentes no sul do arquipélago. Em Abril de 1617 foi descoberto e preso quando confessava um grupo de cristãos.
Foi levado para a cidade de Omura, nos arredores de Nagasaki, e encarcerado na prisão de Cori, sendo executado por decapitação a 27 de Maio de 1617, no monte Obituri, juntamente com cerca de 100 cristãos de várias congregações.
Por coincidência, aquele dia era o Domingo da Santíssima Trindade, nos seus Açores natais o dia do Segundo Bodo, do ano de 1617.
Com ele foi executado o franciscano português frei Pedro da Assunção. Rezam as crónicas que aceitou com serenidade a morte, considerando-a um martírio. Tinha então 37 anos de idade, estando há 20 anos na Companhia de Jesus, há 16 anos no Oriente e há 8 anos no Japão.
O Papa Pio IX beatificou-o, a 7 de Maio de 1867, juntamente com outros 205 mártires vítimas da mesma perseguição, num grupo que ficou conhecido como os Beatos Mártires do Japão.
Esta designação engloba 205 mártires executados no Japão entre 1617 e 1632, durante a repressão anticristã desencadeada pelos shoguns Tokugawa Hidetada e Tokugawa Iemitsu em Nagasaki e Tóquio.
No Martirológio Romano, são conhecidos sob o nome de Beato Carlos Spínola e Companheiros Mártires no Japão, com comemoração a 8 de Junho. Ao todo, são 166 cristãos leigos, quase todos japoneses, e 39 sacerdotes, dos quais 13 são jesuítas, 12 são dominicanos, 8 franciscanos, 5 agostinhos e 1 sacerdote diocesano japonês.
Por diligências do bispo D. João Maria Pereira de Amaral e Pimentel realizou-se a 30 de Abril de 1876, na igreja do Colégio dos Jesuítas de Angra, a primeira festividade Pontifical em honra do glorioso mártir cristão beato João Baptista Machado, cuja imagem aquele bispo ofertara e nesse dia benzera, proclamando-o patrono da cidade, da ilha e da diocese.
Em 1962 foi declarado pelo papa João XXIII protetor especial da Diocese de Angra, sendo 22 de Maio a sua data de veneração. Quando houve em Angra do Heroísmo uma exposição dedicada ao emigrante açoriano, a comissão, presidida por José Agostinho, com o apoio das autoridades eclesiásticas, escolheu João Baptista Machado para patrono dos emigrantes açorianos.
A Junta Geral do Distrito Autónomo de Angra do Heroísmo, na altura presidida por Agnelo Ornelas do Rego, declarou beato João Baptista Machado como patrono do Distrito de Angra e promoveu, durante anos, no dia 22 de Maio, uma sessão solene em sua homenagem. Com a extinção do distrito, tal prática caiu em desuso.
A primeira obra conhecida que biografa João Baptista Machado deve-se ao jesuíta António Francisco Cardim, que louvou João Baptista Machado na sua obra Elogios, e ramalhetes de flores borrifado com o sangue dos mártires da Companhia de Jesus, a quem os tiranos do Império de Japão tiraram as vidas, publicada em 1650.
O tema foi retomado recentemente na obra Mártires do Japão, do arquitecto Eduardo Khol de Carvalho, durante anos Conselheiro Cultural de Portugal no Japão e Professor de Estudos Portugueses na Universidade de Estudos Estrangeiros de Quioto. Para além destes, estão publicados dois livros sobre a sua vida, obra e martírio, para além de variados artigos dispersos.
Além de ter sido declarado Padroeiro principal da Diocese de Angra, a sua imagem está exposta em várias igrejas da diocese e na diáspora açoriana, em esculturas e vitrais.
Dá nome a uma rua na cidade de Angra e a uma «canada» na freguesia da Ribeirinha. Empresta, ainda, o seu nome a um Jardim-de-infância, a uma Escola do 1º Ciclo, um Centro Residencial Juvenil e uma Cooperativa de Consumo. Tem um monumento estátua numa praça pública da cidade de Angra. A sua vida está representada em peça de teatro e em dança de espada.
Há uma comissão diocesana para a Causa da canonização, estando publicados dois livros sobre a sua vida, obra e martírio, para além de variados artigos dispersos.