Missa Crismal na Catedral foi precedida da tomada de possa de quatro novos cónegos capitulares do Cabido da Sé de Angra, criado em 1534
O bispo de Angra afirmou esta manhã que a sociedade atual precisa de “homens de Deus” com uma dimensão espiritual que saiba, por um lado, interpretar a linguagem de uma sociedade plural e, por outro, evite o cansaço e desânimo diante das “fadigas e do peso da carga pastoral”.
“Não é um desperdício, amigos, o tempo que dedicamos ao Senhor: a nossa oração, a permanência no silêncio das nossas igrejas, o amor à Palavra de Deus e à Eucaristia. Não é um desperdício, é uma condição para ler os factos humanos com olhos de fé”, afirmou D. Armando Esteves Domingues na homilia da Missa Crismal, na Catedral, antecipada por questões de natureza logística que se prendem com a geografia e a necessidade de permitir que os sacerdotes das diferentes ilhas estejam junto do bispo e, simultaneamente, possam regressar às suas comunidades a tempo de com elas viverem o Tríduo Pascal.
“Os irmãos precisam de nós como homens de Deus, num ministério que muitas vezes se desenrola entre muitas fadigas e pouco reconhecimento” explicitou o prelado que já ontem, segunda-feira, presidiu a uma missa em Ponta Delgada em que 45 sacerdotes, sobretudo da ilha de São Miguel, renovaram as suas promessas sacerdotais.
“Sentimos o peso das estruturas, herdadas de um passado que já não existe. Sofremos o peso da carga pastoral, o peso do fim de um certo modelo de Igreja que também não é isento de consequência” prosseguiu o bispo de Angra, que alerta para os desafios colocados por uma sociedade “plural com linguagens que não são imediatas e, ao mesmo tempo, com a necessidade de não ficar à espera, mas de saber ir ao encontro das pessoas”.
“Não é fácil”, disse D. Armando Esteves Domingues alertando para “um sentimento de inutilidade” e até de “amargura” pela “falta de reconhecimento”, agravados em momentos de “solidão e incompreensão”.
“Onde ir buscar confiança e alento pastoral para atravessar esta época?” interpelou o Bispo que apresentou dois caminhos: o aprofundamento da “fraternidade e colaboração” entre padres, alimentada “pela amizade e fidelidade” à oração e uns aos outros e, por outro lado, o estímulo e fortalecimento de comunidades “fraternas e ministeriais”, que ajudem a promover novas vocações laicais e consagradas.
“De seguida, renovaremos as promessas do dia da ordenação, precisamente para dizer de novo quem somos, em quem pusemos a nossa esperança, a quem confiámos a nossa vida. Oxalá seja um sim renovado, feliz. Dele nasce o poder de nos inclinarmos para lavar os pés dos nossos irmãos e irmãs, para levar a boa nova aos infelizes, curar as feridas dos corações partidos, promulgar o ano da graça do Senhor”, disse ainda D. Armando Esteves Domingues.
“Ele está na origem do ministério, da vida e da vitalidade de cada pastor”, concluiu.
A Missa Crismal tem um significado muito especial: nela o Bispo concelebra com os seus presbíteros, que renovam a promessa feita no dia da ordenação sacerdotal, mas tem também um outro sentido que é o da bênção dos santos óleos dos catecúmenos e dos enfermos e a consagração do óleo do crisma.
“É uma verdadeira celebração do sacerdócio ministerial no seio de todo o povo sacerdotal” afirmou o prelado, depois de agradecer a todos o presbitério.
“Caros sacerdotes, quero manifestar-vos a minha gratidão pelo serviço que prestais ao povo santo de Deus, tantas vezes escondido. Sois o rosto da Igreja disponível para ir ao encontro de cada pessoa e família, para escutar a sua voz, para partilhar as suas feridas, preocupações e esperanças”, disse.
“Precisamos que o nosso ministério continue a ser um caminho de santidade abraçado com a ordenação; uma santidade que não se extingue com as nossas fraquezas nem com as nossas misérias, se soubermos entregar-nos com humildade e confiança à misericórdia de Deus. A vida de um sacerdote é missão” frisou D. Armando Esteves Domingues.
Antes do início da Missa Crismal, o Bispo presidiu à tomada de posse de quatro novos cónegos do cabido da Sé: Monsenhor António Manuel Saldanha, padre Jaime Silveira, padre João António Bettencourt e padre Manuel António das Matas.
O Cabido da catedral foi criado em 1534 pela mesma bula Aequum Reputamus do Papa Paulo III que criou a diocese. Atualmente, o seu papel principal é o de manter a dignidade das celebrações litúrgicas mais solenes na catedral, ser conselheiro ao lado dos novos órgãos consultivos de presbíteros e leigos nascidos da eclesiologia do Concílio Vaticano II, cuidar com o pároco e paróquia da Sé do património artístico, espólio dos bispos e Museu da sé, lembrou o prelado, que salientou, assim, a responsabilidade desta instituição de conciliar tradição com novas exigências numa época que mudou.
“Outro horizonte a não perder de vista, será o de preservar o património espiritual que nos faz ser diocese viva e com uma história. Nesta fidelidade à história, peço que ajude o presbitério a caminhar em unidade com a Igreja Local e Universal, a fomentar a comunhão com todo o povo de Deus e a encontrar respostas para a urgência evangelizadora no mundo de hoje”, concluiu.
O bispo de Angra irá presidir ao tríduo pascal na catedral.
Na quinta-feira santa depois de celebrar a Missa da Ceia do Senhor no Estabelecimento Prisional de Angra, voltará a presidir na Sé. Na Sexta-feira Santa preside à celebração da Paixão, às 15h00 e no sábado santo à Vigília Pascal, às 21h00. Ainda presidirá à Missa da Ressurreição do Senhor no Domingo de Páscoa, às 11h00.