“Só pessoas com muita fé podem manter paróquias a funcionar sem o mínimo de condições”

Ao fim de 15 anos, as quatro comunidades paroquiais de Flamengos, Pedro Miguel, Ribeirinha e Salão vão ter as suas igrejas reconstruídas.

A fé e agora o acordo de cooperação financeira, que foi assinado esta terça feira, entre a Diocese e o Governo Regional dos Açores, são o bálsamo necessário para que o ânimo regresse às quatro comunidades paroquiais (Flamengos, Pedro Miguel, Ribeirinha e Salão) que desde o sismo de 1998, na ilha do Faial, esperam e desesperam pela reconstrução de um lugar de culto.

 

“Só pessoas com muita fé podem estar durante 15 anos com paróquias a funcionar sem o mínimo de condições” disse esta quinta feira ao Portal da Diocese o Ouvidor da ilha do Faial, Pe Marco Luciano.

 

Além da igreja, propriamente dita, “tem faltado  tudo menos a vontade”, diz o responsável pela ouvidoria que lembra com alguma tristeza que foram 15 anos, “literalmente com os santos às costas a funcionar em passais paroquiais transformados em salas de catequese, casas do povo que recebiam o culto e a noite serviam de salões de baile. Tem sido muito difícil” diz Marco Luciano com a convicção de que a partir de agora, tudo será diferente.

 

As quatro igrejas, integradas nas grandes reparações (ou seja construção de raíz de um edifício novo)- Flamengos, Pedro Miguel, Ribeirinha e Salão- vão ser finalmente reconstruídas.

 

São obras orçadas em 8,6 milhões de euros, que serão feitas de forma faseada de dois em dois anos. A Região compromete-se a pagar 75% do empréstimo bancário e as paróquias avançam, cada uma, com os restantes 25%, sendo que os juros do capital serão pagos na íntegra pelo Governo nos primeiros dois terços do tempo de duração do financiamento.

 

“Este protocolo permite-nos de facto avançar com alguma segurança, embora estejamos conscientes de que não vai ser fácil conseguirmos o dinheiro”, diz Marco Luciano, lembrando que em muitos casos, “25% corresponde a meio milhão de euros”.

 

Ainda assim, o Ouvidor sublinha a generosidade das pessoas, que ao longo deste 15 anos têm-se manifestado “muito solidárias”.

 

“A crise é grande mas até agora não se tem refletido nas receitas dos vários eventos que as comissões de angariação de fundos, criadas em cada uma das paróquias, têm realizado e esse dinheiro tem sido capitalizado o que nos permitirá partir para estas obras com algum conforto”, acrescenta.

 

A primeira igreja a avançar é a dos Flamengos.

 

“Avaliámos a situação e de facto esta era a mais premente. A igreja funciona num pré fabricado, há 15 anos, sem o mínimo de condições quer de inverno quer de verão. Além disso serve uma população de 1800 pessoas”, justifica o Ouvidor.

 

O projeto já está na Câmara para renovar as licenças de construção e “estamos a tratar do lançamento do concurso para a empreitada”. Simultaneamente a Paróquia, com a ajuda da Diocese, está a tentar encontrar a instituição financeira que apresente as melhores condições de forma a arrancar com a obra “o quanto antes”, adianta ainda Marco Luciano.

 

A reconstrução destas quatro igrejas será faseada, ao ritmo de uma por cada dois anos.

 

Na sequência do sismo de 98, além do parque habitacional do Faial que ficou muito destruído, deixando dezenas de famílias sem casa, o património religioso edificado também sofreu muitos danos.

 

Depois de um levantamento aos estragos, concluiu-se que “teria de haver prioridades” e a primeira prioridade “até por motivos financeiros porque tinha de se socorrer muita gente que nem casa tinha” foi fazer pequenas intervenções.

 

A primeira fase dos trabalhos de “reconstrução” limitou-se a pequenas reparações nas igrejas da Matriz, Conceição e Santo António, nos Espalhafatos.

 

A segunda fase correspondeu à recuperação das igrejas de Castelo Branco, Angústias, Praia do Almoxarife e Feteira, promovendo reconstruções parciais e recuperação de pequenos danos.

 

Finalmente, a terceira e última fase “é a que estamos agora a viver” com a construção de quatro novas igrejas.

 

“O desalento, o desânimo e a vontade de desistir eram grandes porque as pessoas sentiam que se calhar não conseguiam levar por diante os projetos aprovados mas hoje, de uma maneira geral, as pessoas percebem que afinal vai tudo para a frente”, sublinhou Marco Luciano, lembrando, naturalmente que “quem já está a ver a sua obra a começar estará mais contente” do que os que “ainda têm de esperar”.

 

Apesar do desfecho ser “positivo” o Ouvidor da ilha do Faial não deixa de lamentar “os atrasos sucessivos no processo de decisão”, embora reconheça que a “complexidade de algumas questões de natureza técnica” e até mesmo “a mudança radical no ordenamento do território” aconselhassem “alguma cautela que naturalmente dificultou a tomada de decisão”.

 

A Diocese de Angra, tal como o Portal da Diocese já avançou espera que as obras comecem até ao final do primeiro semestre.

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