Por Renato Moura
Olhando uma análise de sangue, o médico da ilha disse à mãe da criança: “Com estes resultados ele já devia estar morto!” O rapazito, com uns sete anos, ali em pé, firme e hirto, pensou: “Vou morrer; só estou é atrasado!”; continua vivo, mais de 65 anos depois.
O Director de cardiologia de um hospital público, após aturados exames, declarou ao doente com mais de 60 anos: “Tem de ser operado ao coração”. “Mas isso é arriscado”, disse o doente. “Mais arriscado é continuar como está”. Depois de operado e recuperado, no mesmo hospital público, indagou do cirurgião quais as limitações futuras e a resposta foi: “Foi operado para fazer a sua vida normal, caso contrário não valeria a pena”; e ele tinha razão; 10 anos depois o coração «reparado» ainda está impecável.
Em primeiro dia de férias, longe da ilha, o telefone foi o meio para um médico informar um cidadão da sua lista, de que estava canceroso dos intestinos. A angústia amaldiçoou a totalidade das férias. Meses mais tarde um gastrenterologista, face ao resultado do exame aos pólipos, deu-lhe os parabéns.
Lisboa: antes da pandemia. Um filho ansioso quer levar o pai aflito a um serviço de urgência. Ambulâncias de muitas corporações, ainda que para usar e pagar, indisponíveis. Consegue uma do INEM, a doença não só é avaliada e confirmada, como dada conta dos longuíssimos tempos de espera, logo na triagem, nos hospitais públicos. Como a opção do doente sempre fora ser levado a um hospital privado, o INEM foi-se embora; e o doente teve de seguir de automóvel particular, de pijama e pantufas; entrou de cadeira de rodas, saiu uma hora e tal depois, pelo seu pé.
Será que é razoável um médico fazer caretas demolidoras da réstia de fé do doente perante uma radiografia ou exame auxiliar de diagnóstico?! Tem explicação que um doente cheio de dores recorra a uma urgência e o médico faça entender que chegou no dia errado à hora errada?! Será boa solução falar alto, ou vociferar, para explicar que a doença é para tratar noutro local e que diminuir a dor não cura a doença?! Será solução demorar para evacuar, se não há meios para tratar… ou não se sabe?!
Apesar de fundados receios de cancro, um especialista, num hospital privado, disse: “Calma, seja lá o que vier a confirmar-se, vai-se tratar”. Certeiro tratamento: primeiro psicológico, depois medicamentoso. Abençoado pagamento.
Também pagamos aos médicos dos hospitais públicos, com os nossos impostos. Muitos deles fazem do trabalho uma missão empenhada e nobre; alguns recebem o vencimento (às vezes alto de mais) dum “apenas” emprego.
As coincidências com a realidade são autênticas.
Sempre me tentam provar que quem “bota a boca no trombone”, pode lixar-se. Arrisco-me. Mas quem não tem coragem para protestar, ou não tem onde, merece que alguém dê voz e lance a debate a indignação temerosamente abafada.
E era tempo de o Governo dos Açores perceber que nas pequenas ilhas onde não há hospitais privados, os médicos colocados deveriam, para além de principescamente pagos, ser competentíssimos. E ainda humanamente impecáveis no trato, a exemplo de tantos enfermeiros, técnicos e pessoal auxiliar. Não sei se os médicos fizeram alguma cadeira de psicologia. Nalguns não parece! Mas só com medicamentos não vai!
Que Deus proteja a quem precisar.