Eucaristia foi adiada para o dia 30 de abril. Horário da Vigília Pascal poderá ter de ser antecipado para uma melhor vivência da celebração
O clero da vigararia nascente só renovará as promessas sacerdotais no dia 30 de abril por causa do agravamento da pandemia no concelho de Ponta Delgada.
A Eucaristia presidida pelo bispo de Angra prevista para esta segunda-feira, na Igreja Matriz de São Sebastião, uma das duas freguesias mais afectadas pela Covid-19 neste momento no arquipélago, levou ao adiamento da celebração por razões sanitárias.
“Parece-me uma decisão acertada pois não havia condições para fazermos esta celebração com todo o simbolismo que ela implica” reconhece.
“Já no ano passado não houve a celebração, também por causa da pandemia. Esta é uma celebração com muito significado. O ideal seria estarmos todos na Missa Crismal, que se celebra quarta-feira em Angra, mas o território descontinuo impede-nos de participar por razões de ordem logística. Por isso, esta celebração de forma descentralizada, iniciada pelo nosso bispo há cinco anos, ganha uma importância maior”, refere ainda.
“Na ordenação sacerdotal damos o nosso sim, mas é importante que o renovemos não só em termos pessoais mas também para expressarmos a nossa comunhão com o prelado através da renovação das nossas promessas”, esclarece destacando que “o dia 30 de abril, no final do Conselho Presbiteral em São Miguel, também será um momento simbólico”.
Também as celebrações do Tríduo Pascal deverão sofrer algumas alterações nomeadamente na antecipação do horário da Vigília Pascal, particularmente nas comunidades de São Pedro e Matriz de São Sebastião, adiantou ao Igreja Açores o ouvidor, monsenhor José Medeiros Constância.
“Na nossa ouvidoria, no geral, as celebrações far-se-ão mas um pouco mais cedo, sobretudo na cidade, pois com o recolher obrigatório é possível que se possam antecipar algumas celebrações do tríduo nomeadamente a hora da Vigília Pascal”, refere o sacerdote ao sublinhar que “todas as celebrações decorrerão com a normalidade própria deste tempo”, isto é, “o cumprimento das regras sanitárias, como sempre temos feito”.
“Em geral, como em toda a parte, há uma certa alegria nas comunidades cristãs, pois as pessoas têm a possibilidade de celebrar dentro da igreja, ainda que em menor número e com a supressão de alguns ritos a que as pessoas estavam habituadas”, refere.
Questionado sobre as consequências desta pandemia na prática religiosa e na vivência das comunidades cristãs, o ouvidor, que é também o presidente do Instituto Católico de Cultura, refere que há “um antes e um depois da pandemia” que deve fazer a Igreja refletir sobre o seu papel evangelizador “no aqui e agora”.
“Antes da pandemia a nossa vivência pastoral era uma coisa e agora será necessariamente outra”.
“O vírus provocou uma alteração concreta e real na vida quotidiana das pessoas, que atingiu a saúde física e psíquica, que teve impactos fortes ao nível do emprego e das condições sociais das famílias e das pessoas. Hoje, os problemas são outros e diversificados e nós, como Igreja, teremos todos de fazer uma pergunta: quais são os verdadeiros problemas das 18 comunidades desta ouvidoria e como é que elas podem contribuir para a vida dos homens e mulheres que aqui residem” destaca monsenhor José Medeiros Constância.
O sacerdote lembra a importância da vida pastoral ir para além das celebrações litúrgicas, que “são muito importantes” mas a vida de uma comunidade “tem de ter outra expressão”.
“A comunidade cristã tem de se reconfigurar, mobilizando-se e repensando-se no que concerne ao conceito de pertença e presença pois o digital sendo importante não é suficiente”, acrescenta.
“A revitalização das comunidades passará necessariamente pelo reencontro físico, pela presença e pela unidade”, diz, por outro lado.
“Este é um momento de apelo à unidade: a pandemia distanciou as pessoas, a começar por nós padres, que nos reunimos menos. Há aqui um grande apelo à unidade e temos de nos reagrupar” salienta lembrando que há #desafios que têm de ser encarados e que dizem respeito aos problemas concretos das pessoas”.
“Temos de ser próximos e esta proximidade tem de ser real e efetiva pois só tornando-nos próximos dos que estão sozinhos, dos que estão doentes, dos que estão marginalizados é que nos afirmamos como verdadeiras comunidades cristãs”, conclui.
“Não posso nem quero dar orientações, antes de uma reflexão em conjunto, mas há desafios que têm de ser encarados e, em Ponta Delgada, que tem zonas muito populosas e com muita juventude, tem que fazer este discernimento”.
A Páscoa é a festa central dos cristãos e já no século II há notícia da sua celebração anual; tem as suas raízes na saída do Povo de Israel do Egito, relatada no livro bíblico do Êxodo, e estava ligada a um calendário lunar, não ao atual calendário solar de 12 meses: nos primeiros séculos, as Igrejas do Oriente celebravam a Páscoa como os judeus, no dia 14 do mês de Nisan, ao passo que as do Ocidente a celebravam sempre ao domingo.
O Concílio de Niceia, no ano 325, apresentou prescrições sobre o prazo dentro do qual se pode celebrar a Páscoa – o primeiro domingo depois da lua cheia que se segue ao equinócio da primavera (4 de abril, em 2021).