O Papa afirmou que a assembleia sinodal em curso, no Vaticano, se insere na dinâmica de mudança iniciada por São João XXIII, que convocou o último grande Concílio (1962-1965), numa transformação “essencialmente pastoral”.
“Não se trata apenas de mudar a moda, trata-se de uma mudança de crescimento e em favor da dignidade das pessoas. E aí é que está o progresso teológico, da teologia moral e de todas as ciências eclesiásticas, incluindo a interpretação das Escrituras, que têm progredido de acordo com o sentir da Igreja”, indicou, numa entrevista à agência de notícias argentina Télam, publicada na noite de segunda-feira.
Francisco inaugurou a 4 de outubro a primeira sessão da XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, com o tema ‘Para uma Igreja sinodal: comunhão, participação, missão’; uma segunda etapa vai decorrer em outubro de 2024.
“O núcleo da mudança é essencialmente pastoral, sem negar o essencial da Igreja”, apontou.
O Papa destacou que quaisquer mudanças, na Igreja, devem acontecer “sempre em harmonia”, porque as “ruturas não são boas”.
“Ou progredimos pelo desenvolvimento ou terminamos mal. As ruturas deixam-te fora da força vital do desenvolvimento. Gosto de usar a imagem da árvore e as suas raízes: a raiz recebe toda a humidade da terra e puxa-a para cima através do tronco. Quando alguém se separa disso, acaba seco e sem tradição. Tradição no bom sentido da palavra”, afirmou.
Questionado sobre a “complementaridade entre a tradição e progresso, o pontífice sustentou que “o progresso é necessário e a Igreja deve inserir estas novidades com uma reflexão muito séria, do ponto de vista humano”.
“A Igreja tem de estar muito atenta, com os seus pensadores em diálogo. E sublinho isto: devemos dialogar com todo o progresso científico. A Igreja deve dialogar com todos, mas a partir da sua identidade, não a partir de uma identidade emprestada”, precisou.
Francisco considera que, ao longo da história, a Igreja “tem mudado em muitas coisas”, na forma de “propor uma verdade que não muda”.
“Ou seja, a revelação de Jesus Cristo não muda, o dogma da Igreja não muda, mas cresce, desenvolve-se”, insistiu.
“Quem não está neste caminho é aquele que dá um passo atrás e se fecha em si mesmo. As mudanças na Igreja ocorrem neste fluxo de identidade, que tem de ir mudando à medida que os desafios se vão apresentando”.
O Papa sublinha a dimensão pastoral da Igreja, “com as portas abertas para os outros”, e fala da sua espiritualidade, “aquela piedade simples” que aprendeu na sua infância.
“A consciência religiosa cresceu muito, é outra coisa, amadureceu, mas a forma de me expressar com Deus é sempre simples. Não consigo ser complicado”, assumiu.
(Com Ecclesia)