Trabalhos já registaram 70 intervenções, em sessões à porta fechada
As primeiras sessões de trabalho do Sínodo dos Bispos sobre a família, a decorrer no Vaticano, ficaram marcadas por vários pedidos de mudança na linguagem da Igreja sobre família e sexualidade, revelaram os responsáveis da sala de imprensa da Santa Sé.
70 participantes intervieram entre a tarde de segunda-feira e a manhã de hoje, em reuniões à porta fechada de que o Vaticano apresentou uma síntese, em conferência de imprensa e através da página oficial na internet.
Os porta-vozes da assembleia geral extraordinária revelaram aos jornalistas que uma das propostas de hoje foi a passagem de uma linguagem “defensiva” para um discurso centrado “na atração e na beleza do amor de Deus que se vive na família”, também através dos meios de comunicação social.
Um dos intervenientes no Sínodo sublinhou que o uso de expressões como “viver em pecado”, “intrinsecamente desordenado” ou “mentalidade contracetiva” não ajuda a atrair as pessoas “à Igreja ou a Cristo”.
Segundo comunicado divulgado pela sala de imprensa da Santa Sé, em discussão esteve a questão do “valor essencial da sexualidade”.
“Fala-se tanto, de forma crítica, da sexualidade fora do matrimónio que a sexualidade conjugal parece quase a concessão a uma imperfeição”, pode ler-se.
Os participantes na assembleia não têm questionado a “doutrina” da Igreja, mas refletem sobre “a pastoral, ou seja, o discernimento espiritual para a sua aplicação, de forma a enfrentar os desafios da família contemporânea”.
Neste sentido, foi pedido “respeito” para situações como as uniões de facto, procurando considerar “elementos de santificação e de verdade” nas mesmas.
Os porta-vozes indicaram que várias intervenções se centraram na necessidade de “acompanhamento dos casais em dificuldade”, para que não se sintam abandonados pela Igreja.
O cardeal britânico D. Vincente Nichols falou aos jornalistas, durante a conferência de imprensa, e pediu “paciência” para que se possa definir melhor o “quadro geral” desta assembleia extraordinária, que tem decorrido num “verdadeiro espírito de abertura”.
O responsável adiantou que os trabalhos têm analisado a “lei da gradualidade” moral, já discutida no Sínodo de 1980 sobre a Família, recordando que São João Paulo II escreveu na exortação apostólica ‘Familiaris Consortio’ (1981) que “o caminho gradual não pode identificar-se com a ‘gradualidade da lei’, como se houvesse vários graus e várias formas de preceito na lei divina para homens em situações diversas”.
A caminhada para o casamento também ocupou várias das intervenções, com pedidos de exigência e propostas de um tempo de preparação, uma espécie de ‘catecumenado’, como acontece no Batismo
Uma das intervenções aludiu às “experiências de dificuldade”, presentes nas cartas do Novo Testamento, que as primeiras comunidades cristãs tiveram na aplicação do ensinamento de Jesus sobre o matrimónio.
A situação das famílias no Médio Oriente ou o contributo de movimentos como o Caminho Neocatecumenal, o Renovamento Carismática e os Focolares foram outros temas abordados.
A terceira assembleia geral extraordinária do Sínodo dos Bispos prolonga-se até ao próximo dia 19 para debater os ‘desafios pastorais sobre a Família no contexto da evangelização’; no Vaticano estão 253 pessoas dos cinco continentes, entre cardeais, bispos – incluindo D. Manuel Clemente, presidente da Conferência Episcopal Portuguesa -, religiosos, peritos, casais e representantes de outras Igrejas.
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