Diretor da pastoral familiar na diocese de Angra elogia caminho sinodal
O Sínodo, que terminou este domingo em Roma, foi um “enorme sim à família” sem ignorar que ela “está ferida” e que há problemas que têm de ser atendidos pela Igreja, disse esta tarde o Diretor do Serviço Diocesano da Pastoral Familiar ao Sítio Igreja Açores, à margem da sessão comemorativa dos 50 anos de presença das Equipas de Nossa Senhora em São Miguel.
“Os dois anos em caminho sinodal são um grande sim à família, sobretudo porque para muitos este modelo de família cristã estava ultrapassado e com esta discussão recolocou-se a família no centro das atenções e do debate da igreja”, disse o Cón. José de medeiros Constância.
“Acentuou-se a necessidade de uma teologia do matrimónio, com mudanças pastorais e, sobretudo fez-se com que as famílias fossem protagonistas o que pode contribuir para a sua mobilização, para que elas possam ser melhores, ainda que nalguns casos diferentes”, acrescentou ainda o sacerdote.
“Não se deixou de discutir com abertura todos os problemas, o que é francamente positivo”, sobretudo porque durante este período os padres sinodais sublinharam “o bom que a família é, o bom que ela tem para hoje e para o futuro no sentido que o Papa fala de deixarmos um legado à humanidade e esse legado ser o da família”.
Sobre os temas fraturantes do sínodo, nomeadamente o acesso dos recasados aos sacramentos da reconciliação e da comunhão, o Cón. José de Medeiros Constância prefere expressar uma opinião como “cristão e padre” para destacar que este sínodo também significou “um caminho para a comunhão eucarística”.
“Como cristão e como padre, para mim os cristãos recasados que estão integradas na comunidade, que tomam parte das actividades formativas da comunidade, que praticam dominicalmente, que se dão ao outros e que dão passos de comunhão eclesial, não vejo porque não possam comungar”, destacou.
“Ou seja, um casal divorciado recasado, que tem fé, que vive a sua fé, que está inserido numa comunidade em militância, de prática regular, tem que ser claramente admitido e aceder à comunhão eucarística”, precisou.
Por isso, este apelo dos padres sinodais “ao discernimento” para que todos os casais que estão em situação de dificuldade sejam integrados e cada vez mais integrados “é decisivo” e “muito importante”.
“Até agora dizíamos que não estavam excomungados, mas agora há um grande apelo para que os casais se integrem e até possam aceder à comunhão eucarística, o que é muito positivo”, sublinha o sacerdote que elogia, por outro lado, “o reforço da sacramentalidade do matrimónio”.
“Só quem acredita em Cristo pode compreender que o matrimónio é um sim em Cristo, para não ficarmos numa visão legalista ou canónica”, conclui.
Questionado sobre se este documento poderia servir de “carta conforto” ao Santo Padre para ultrapassar algumas posições mais conservadoras, o Cón. José de Medeiros Constância frisa que “o debate criou esta opinião e esta vontade de irmos neste sentido” o que a par das declarações do papa Francisco “pode favorecer esta leitura”.
O sacerdote destaca, ainda, uma outra consequência deste Sínodo e que é o facto da organização da pastoral se poder vir a fazer “em chave familiar”.
“Se a família é a igreja doméstica, então a organização da igreja tem que ser feita a partir da família”, conclui lembrando que os padres sinodais “estiveram bem” ao criticarem toda a ordem mundial instalada que desestabiliza a família quer do ponto de vista material, social quer do espiritual.
O Sínodo terminou este domingo com um relatório final composto por 94 pontos, onde se reforça a “beleza da família”; a necessidade de misericórdia no acolhimento às famílias em dificuldades; o reforço do seu acompanhamento e uma aposta mais forte da igreja na preparação dos jovens para o matrimónio.
O relatório conclui-se com um pedido ao Papa para que avalie a oportunidade de um “documento sobre a família”, e denuncia as políticas e os sistemas económicos contrários às famílias, em particular as que vivem em situações de pobreza e exclusão.
O documento apela, por outro lado, aos católicos comprometidos na política que tenham como prioridade “a defesa da vida e da família”, a liberdade de educação e religiosa, bem como a “harmonização entre o tempo para o trabalho e a família”.
Os bispos alertam para as consequências do inverno demográfico, fruto de uma “mentalidade contracetiva e abortista” e promovido por “políticas mundiais de ‘saúde reprodutiva’, que ameaça os laços entre gerações”.
O texto refere-se aos problemas ligados à solidão, à precariedade e às formas de “exclusão social” provocadas pelo atual sistema económico, em particular no que se refere ao desemprego juvenil.
Os participantes no Sínodo sobre a família fizeram 425 nas reuniões gerais que se iniciaram a 5 de outubro.