Participantes encerraram debate geral com observações sobre «caminho penitencial» para divorciados
A assembleia geral extraordinária do Sínodo dos Bispos entrou esta sexta-feira numa nova etapa após mais de 250 intervenções, desde que começou, em busca de novas soluções “pastorais” para responder às questões das famílias contemporâneas.
O porta-voz do Vaticano, padre Federico Lombardi, disse aos jornalistas que as últimas sessões de trabalho com todos os participantes começaram a debater o “caminho penitencial” a que poderiam recorrer os divorciados que se voltaram a casar.
Em comunicado, a sala de imprensa da Santa Sé precisa que durante as intervenções livres do debate se sustentou a importância de que esse caminho “seja acompanhado por uma reflexão sobre os que ficaram sós e que frequentemente sofrem em silêncio e estão marginalizados”.
A assembleia assinalou também a necessidade de “proteger os filhos” dos que se divorciaram das “repercussões psicológicas” desta separação.
O tema foi abordado, entre outros, pelo cardeal André Vingt-Trois, um dos presidentes-delegados do Sínodo, para quem “parece cada vez mais necessária uma pastoral sensível, uma pastoral guiada pelo respeito das situações irregulares, capaz de oferecer um apoio concreto para a educação das crianças”.
Um dos padres sinodais, filho de divorciados (o cardeal Christoph Schönborn, arcebispo de Viena), falou do “estigma” que ele e os seus pais sentiram por esse facto.
Os participantes no Sínodo apelaram a um maior acompanhamento da Igreja dos “viúvos e viúvas do divórcio”, como foi referido na conferência de imprensa desta sexta-feira.
O padre Lombardi revelou que durante os trabalhos à porta fechada se debateu o “papel da fé para a validade da celebração do sacramento do Matrimónio”, uma questão que levanta “aspetos problemáticos”, porque não é “simples” e exige um “exame aprofundado”.
O tema foi abordado pelo agora Papa emérito Bento XVI em janeiro de 2013, num discurso aos membros do Tribunal da Rota Romana.
A respeito do debate sobre o acesso dos divorciados católicos em segunda união à Comunhão, uma das intervenções recordou que quando São Pio X (Papa entre 1903 e 1914) determinou que a Primeira Comunhão fosse ministrada às crianças a partir dos sete anos de idade, isso foi considerado “extremamente revolucionário”.
“O facto é que há exemplos de coragem por parte de um Papa na reflexão ou introdução de novidades no que diz respeito à práxis do acesso à Eucaristia”, acrescentou o padre Lombardi.
O padre Manuel Dorantes, porta-voz para os meios de língua castelhana, observou que a assembleia falou do direito “inalienável” que os pais têm de escolher a educação que querem dar aos seus filhos.
Na oração da manhã, o bispo de Wabag (Papua-Nova Guiné), D. Arnold Orowae, elogiou as “muitas famílias católicas que acreditam nos valores do Evangelho, os seguem na sua vida familiar, ensinam a fé às crianças e são exemplo que outras famílias podem ver e imitar”.
O início do dia foi reservado aos chamados ‘ouvintes’, os quais abordaram a “tutela dos direitos da família e a defesa da vida”, bem como a urgência de “ouvir mais os leigos na busca de soluções para os problemas das famílias”.
Estas intervenções apelaram a uma explicação mais profunda do planeamento natural familiar, “realçando o seu valor positivo”.
Os franceses Olivier e Xristilla Roussy, um dos casais que falou perante a assembleia geral, revelaram que a sua opção por estes métodos lhes trouxe “profunda alegria”, ao contrário do que acontecia com a contraceção artificial.
Os trabalhos do sínodo prosseguem agora em grupos linguísticos denominados ‘círculos menores’ e na segunda-feira vai ser publicado o relatório que sintetiza a semana de debates com toda a assembleia (‘relatio post disceptationem’).
Mensagem do sínodo para famílias cristãs perseguidas
Entretanto, hoje, os participantes na assembleia extraordinária do Sínodo dos Bispos enviaram uma mensagem às famílias atingidas pelos conflitos militares.
“Em particular, elevamos ao Senhor a nossa súplica pelas famílias iraquianas e sírias, obrigadas – por causa da fé cristã que professam ou pela pertença a outras comunidades étnicas ou religiosas – a abandonar tudo e a fugir rumo a um futuro privado de qualquer certeza”, assinala o documento publicado pela sala de imprensa da Santa Sé.
Os 253 participantes unem-se ao Papa para mostrar “profunda proximidade” a todas as famílias que “sofrem por causa dos numerosos conflitos em curso”.
“Convidamos todas as pessoas de boa vontade a oferecer a necessária assistência e ajuda às vítimas inocentes da barbárie em curso, pedindo ao mesmo tempo à comunidade internacional que se empenhe para restabelecer a convivência pacífica no Iraque, na Síria e em todo o Médio Oriente”, pode ler-se.
O texto cita Francisco para sublinhar que “ninguém pode usar o nome de Deus para cometer violências” e que “matar em nome de Deus é um grande sacrilégio”.
A mensagem do Sínodo agradece a solidariedade das organizações internacionais e dos países que estão a ajudar as vítimas das guerras, evocando as “famílias dilaceradas e sofredoras” em todo o mundo, que “sofrem violências persistentes”.
“Queremos assegurar-lhes a nossa constante oração para que o Senhor misericordioso converta os corações e dê paz e estabilidade a quantos sofrem agora a provação”, acrescentam os participantes.
O texto conclui-se com uma oração à Sagrada Família de Nazaré, para que faça de todas as famílias uma “fonte de esperança para o mundo inteiro”.