Pastoralista açoriano afirma que se trata de um momento que “implica todos” e aponta para o desejo de uma “igreja estruturada a partir das bases”
A primeira sessão da XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, sobre o tema ‘Para uma Igreja sinodal: comunhão, participação e missão’, vai decorrer de 4 a 29 de outubro em Roma, mas todas as igrejas particulares estarão unidas e “implicadas” neste processo de discernimento, pautado “pela abertura, expectativa e esperança”.
“Vivemos um momento de grande abertura, expectativa e esperança. Naturalmente é uma esperança realista, porque todos sabemos que a Igreja não muda de um momento para o outro mas é uma esperança para um novo momento de afirmação da Igreja no mundo, em Portugal e na nossa diocese” refere ao Igreja Açores Monsenhor José Constância.
O sacerdote, pastoralista e membro da Comissão Diocesana para a Caminhada Sinodal, sublinha que a concretização da sinodalidade materializa-se “numa igreja diocesana construída a partir das bases, que deverão participar numa relação de fraternidade, isto é, na capacidade de fazer comunhão e perdão e que se projecte num horizonte de esperança, trabalhando preferencialmente com a juventude”, explica o sacerdote em declarações ao programa de rádio Igreja Açores, que vai para o ar este domingo, depois do meio-dia na Antena 1 Açores e no Rádio Clube de Angra.
“Estamos todos metidos dentro deste acontecimento. Este sínodo foi preparado ao nível das bases, das dioceses, depois dos países e entre países, com uma troca final de impressões de todos os continentes. O confronto, o debate, o discernimento sobre o tema da comunhão, da participação e da missão convoca-nos a todos” diz ainda.
Para a diocese perspetiva “um trabalho conjunto na relação entre pessoas e estruturas para tentar ultrapassar problemas em aberto”, refere, salientando o papel da escuta e do silêncio, para promover um verdadeiro discernimento comunitário.
Este sábado o Para presidiu à Vigília ecuménica de oração ‘Together’ (juntos), pela próximo Sínodo dos Bispos, apelando a uma assembleia sem “ideologias” nem “polarizações”.
“Pedimos que o Sínodo seja um kairós [tempo oportuno] de fraternidade, um lugar onde o Espírito Santo purifique a Igreja de bisbilhotices, ideologias e polarizações”, disse Francisco, na homilia da cerimónia, que decorreu na Praça de São Pedro.
“Peçamos ao Espírito o dom da escuta para os participantes na o Sínodo: escutar Deus, até ouvir com Ele o clamor do povo; escutar as pessoas, até insuflar nelas a vontade à qual Deus nos chama”, acrescentou, citando o discurso que fez por ocasião da vigília de oração em preparação para o Sínodo sobre a Família, a 4 de outubro de 2014.
Perante responsáveis de várias comunidades cristãs e milhares de jovens, o Papa destacou a importância de estar “juntos”, unidos pela mesma fé, agradecendo a presença de todos e o empenho da comunidade ecuménica de Taizé na organização do encontro de oração.
Francisco deixou uma mensagem particular aos jovens: “Obrigado por terem vindo rezar por nós e connosco, em Roma, perante a Assembleia Geral Ordinária dos o Sínodo dos Bispos, na véspera do retiro espiritual que o precede”.
“Caminhemos juntos, não só os católicos, mas todos os cristãos, todo o Povo dos batizados, todo o Povo de Deus”, apelou.
A vigília de oração ecuménica decorreu na presença do patriarca ecuménico de Constantinopla (Igreja Ortodoxa), Bartolomeu, do arcebispo de Cantuária (Igreja Anglicana), Justin Welby, Anne Burghardt, primeira mulher a assumir o cargo de secretária-geral da Federação Luterana Mundial e outros responsáveis de Igrejas e comunidades cristãs.
A oração comunitária na Praça de São Pedro incluiu momentos de escuta da Palavra de Deus, louvor e intercessão, cânticos de Taizé e momentos de silêncio.
A reflexão apontou várias dimensões do silêncio, num “mundo cheio de ruído”, para ouvir a voz de Deus e tornar possível “a comunicação fraterna”.
“Ser sinodal significa acolher-nos assim, na consciência de que todos temos algo para testemunhar e aprender”, sustentou Francisco, apontando à necessidade do “discernimento”.
O Papa falou ainda do papel do silêncio no “caminho da unidade dos cristãos”, como fundamento da oração.
“Ao caminharmos para o importante aniversário do grande Concílio de Niceia [325], pedimos que saibamos adorar unidos e em silêncio, como os Magos, o mistério de Deus feito homem, certos de que quanto mais próximos estamos de Cristo, mais unidos estaremos um com o outro”, disse.
No momento das intercessões, Elijah Brown (Aliança Mundial Baptista) rezou por “todos os que sofrem com a violência e a guerra na Ucrânia, Afeganistão, Mianmar, Paquistão, Haiti, Nicarágua, Congo, Síria, Sudão, Etiópia e em muitos outros lugares do mundo”.
Os doze representantes das Igrejas cristãs presentes na celebração receberam sementes, como sinal das “sementes de união e sinodalidade”, para as plantar em casa.
A cerimónia desenvolveu-se em torno de quatro dons: “gratidão pelo dom da unidade e pelo caminho sinodal, pelo dom do outro, pelo dom da paz e pelo dom da Criação”.
O programa evoca ainda o ‘Tempo da Criação’, iniciativa de oração e ação ecuménica que decorre até 4 de outubro, festa de São Francisco de Assis, com uma decoração especial da Praça de São Pedro.
No início da tarde de sábado, a Basílica de São João de Latrão, em Roma, acolheu uma oração de louvor e adoração, seguida de uma peregrinação a pé até ao Vaticano.
A primeira sessão da XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos vai decorrer de 4 a 29 de outubro de 2023; Francisco decidiu que a mesma terá uma segunda etapa, em 2024.
O Sínodo dos Bispos pode ser definido, em termos gerais, como uma assembleia de representantes dos episcopados católicos de todo o mundo, a que se juntam peritos e outros convidados, com a tarefa ajudar o Papa no governo da Igreja.
(Com Ecclesia e Vatican News)