É o templo judaico mais antigo de Portugal
A sinagoga de Ponta Delgada, o mais antigo templo judaico português, vai reabrir em abril transformada em museu e arquivo documental da memória judaica nos Açores, anunciou hoje o presidente da associação de amigos da sinagoga.
“As obras já estão concluídas. Estamos agora numa fase de organização e finalização dos conteúdos, que poderão ser observados por todos a partir do final do mês de abril, altura em que será inaugurada a sinagoga de Ponta Delgada”, afirmou José de Almeida Mello, em declarações à agência Lusa.
Fundada em 1836, a sinagoga de Ponta Delgada, na ilha de São Miguel, está localizada na Rua do Brum, na baixa da cidade, num edifício que passa despercebido, já que na altura a legislação portuguesa proibia que os templos não católicos tivessem símbolos no exterior.
Desde 1970 que o imóvel estava votado ao abandono, mantendo no seu interior muito do espólio e objetos usados nas cerimónias religiosas, que foram entretanto recuperados e voltarão a ser expostos quando reabrir a sinagoga.
Entre os objetos recolhidos está documentação em hebraico do século XIX e uma cadeira em madeira usada para realizar circuncisões, que foi oferecida por um antepassado do ex-presidente da República Portuguesa Jorge Sampaio.
José de Almeida Mello referiu que esta obra é o culminar de décadas de mobilização de esforços de várias entidades e personalidades nos Açores, no país e no estrangeiro, sobretudo nas comunidades de emigrantes.
As obras de recuperação da sinagoga, orçadas em 215.500 euros, começaram em fevereiro de 2014 e visam musealizar o antigo espaço de culto, com os seus elementos decorativos e rituais, bem como instalar o arquivo documental da memória judaica açoriana.
A sinagoga incluirá, ainda, uma pequena biblioteca, gabinetes de trabalho e salas de exposição.
“Chegaram hoje mais de um centena de livros que foram oferecidos pela família Bensaúde, descendente de judeus”, revelou José de Almeida Mello, convicto de que a reabertura da sinagoga de Ponta Delgada voltará a pôr a cidade e o arquipélago na rota mundial da herança judaica.
Em 2009, a Comunidade Judaica de Lisboa, proprietária do imóvel, assinou com a Câmara Municipal de Ponta Delgada um protocolo nos termos do qual cedeu o edifício à autarquia por um período de 99 anos, ficando o município encarregado de o reabilitar e ali instalar um espaço museológico e uma biblioteca, mas mantendo o local de culto.
O projeto de arquitetura é de Igor França e o programa científico do espaço museológico foi entregue à historiadora Susana Goulart Costa, docente na Universidade dos Açores.
Segundo disse José de Mello, a sinagoga de Ponta Delgada pretende não só contar a história dos judeus em São Miguel, como nas restantes ilhas dos Açores.
O arquipélago chegou a dispor de várias sinagogas nas ilhas de São Miguel, Terceira e Faial, mas atualmente resta apenas a de Ponta Delgada e o cemitério isrealita em Santa Clara (igualmente no concelho de Ponta Delgada), datado de 1834.
CR/Lusa