Por Renato Moura
O local da Fonte do Frade fica no centro da Ilha das Flores. Por aquela zona passavam então muitos dos que cruzavam a ilha a pé, a caminho das freguesias, frequentemente debaixo de denso nevoeiro e também de noite.
Outrora, durante as longas noites do serão, à luz do candeeiro, contavam-se histórias envoltas em mistério, que convenciam adultos e aterrorizavam crianças. E assim, na Fonte do Frade, dizia-se aparecer um padre a cavalo, acompanhado de um cão com uma cesta na boca, no interior da qual estaria uma chave. Acreditando-se não se tratar de seres deste mundo, daí o medo!
Acontece que em 1933, a 14 de Setembro, dia de exaltação da Santa Cruz, se celebrou no referido local uma missa campal, que precedeu a bênção e colocação de uma cruz no Monte dos Frades. Foi iniciativa do P.e Alfredo Menezes Santos, descendente do Pico e ao tempo capelão da Santa Casa da Misericórdia de Santa Cruz. Segundo a imprensa da época a cerimónia foi animada por várias filarmónicas, teve a participação de milhares de fiéis provenientes de toda a ilha e ficou assinalada como a maior romaria desde sempre realizada. Seguiram-se as refeições de convívio.
A festa perdurou anos, mas interrompeu-se. Roque de Freitas Moura, que em rapazinho, num dia de intenso nevoeiro, também tivera medo, julgando estar a ver os tais seres do outro mundo, que depois percebeu ser o P.e Mota e os seus animais, dinamizou, com um estratagema curioso, um grupo de pessoas, que retomaram a Festa da Cruz em 1964. Conhecida como Festa do Mato, congregou muitas centenas de pessoas de todas as localidades da Ilha, muitas vindas a pé em autêntica peregrinação. No fim da celebração religiosa e convívio, era nomeada uma comissão para a realização da festa no ano seguinte.
Foi a Comissão de 1967/68 que levou a cabo a edificação, no Fonte do Frade, da ermida de Nossa Senhora das Flores, com donativos de toda a Ilha, estando ainda vivo, pelo menos, um dos que participou nessa recolha, José Nunes Garcia. Com projecto do P.e Francisco Victorino de Vasconcelos, a ermida foi inaugurada em 28.07.68. Durante muitos anos se realizou a celebração religiosa, a partilha dos almoços entre centenas de participantes, ao que se seguiam provas desportivas e outros divertimentos. As celebrações foram escasseando ao longo dos anos e o entusiasmo das pessoas esmorecendo.
A ermida lá continua, agora com aspecto renovado, mantendo luz acesa durante toda a noite: quebra a todos a monotonia do ermo e aos cristãos é sinal de Deus que nos acompanha nos caminhos.