Milhares de peregrinos prosseguem a sua romaria à Serreta. Reitor do Santuário salienta “compreensão e civismo” dos peregrinos. O padre José Júlio Rocha pregou o novenário. Este sábado convidou os peregrinos a dizerem sim a Jesus como Maria.
O arquipélago dos Açores vive hoje a sua principal romaria mariana com a festa de Nossa Senhora dos Milagres na Serreta, na ilha Terceira. Apesar das restrições impostas à participação de peregrinos pela pandemia, são milhares os que já passaram pelo Santuário da Serreta, que terminou este sábado o novenário preparatório da festa.
“A festa tem corrido bem até ao momento, como tínhamos previsto. As novenas com o número máximo de fiéis, dentro das regras de restrição, 120 e um número incontável a acompanhar virtualmente pelos meios telemáticos”, afirmou este sábado o reitor do Santuário, padre João Pires, em declarações ao Igreja Açores.
“Para prevenir aglomerações descontroladas montámos corredores de segurança, nestes últimos três dias, para que todos possam cumprir as suas promessas com segurança máxima” salienta sublinhando a mobilização de cerca de 60 voluntários que fazem o acolhimento no interior e exterior do santuário, todos da Serreta.
“Os fiéis têm mostrado compreensão e civismo no respeito pelo cumprimento das normas” recorda o sacerdote.
“Em relação a 2019 a afluência não é comparável, todavia as pessoas já começam a ganhar confiança e esperança de que virão tempos melhores. Já se sente que o fim do desconfinamento está próximo mas que é necessário não baixar a guarda depois de tanto sacrifício” refere ainda o padre João Pires.
“Que todo este tempo de espera nos tenha tornado mais fortes e resilientes na busca sincera de Deus e do Seu reino”, conclui.
A festa que tem como tema “A beleza de caminharmos juntos em Cristo: Eu sou o caminho, a verdade e a vida” atingiu este sábado o nono dia da preparação, com o fim do novenário com pregação do padre José Júlio Rocha, assistente diocesano da Comissão Justiça e Paz e do Movimento da Mensagem de Fátima e pároco em Porto Martins e Fonte Bastardo, na ilha Terceira.
Neste último dia, o sacerdote refletiu sobre o papel de Maria na história da salvação e desafiou os cristãos a aprenderem com ela a dar a Jesus o lugar central nas suas vidas.
“O verdadeiro cristão não é o que tem um papel na Igreja; não é esse papel que nos faz cristãos mas sim a que distância está Jesus do nosso coração” referiu o padre José Júlio Rocha na homilia assente numa catequese a partir do simbolismo da escultura Pietà de Michelangelo e do Magnificat, na qual discorreu sobre o sofrimento de Maria, o seu silêncio, a sua discrição, mas também a confiança, a sua ação e o amor a Deus, num verdadeiro itinerário sobre a fé.
O sacerdote que ao longo de nove dias pregou aos peregrinos de Nossa Senhora dos Milagres- os que puderam participar fisicamente e os que seguiram as transmissões da Vitec Azores, no cabo e no facebook- convidou ainda os cristãos a transformar o amor pela Eucaristia no amor ao próximo.
“À imagem de Jesus e de Maria não é apenas na missa que somos cristãos; é lá fora”, disse o padre José Júlio Rocha, doutor em Teologia Moral a partir da liturgia proclamada hoje.
“O cristão não pode estar de pantufas, sentado na poltrona de comando na mão a ver o mundo passar e a acontecer. O cristão tem de ser agente de transformação”.
“A missa é o corolário da vida Cristã; não se entende a vida cristã sem a prática do amor celebrado na partilha da palavra do pão e do vinho, em redor do altar; mas também não se é cristão se não se levar este amor aos outros e isso são as obras que fazemos” explicitou.
No final da Eucaristia, o reitor do Santuário da Serreta deixou uma palavra de agradecimento.
“Esta novena foi um verdadeiro combustível para a s nossas almas. Todos os que aqui estiveram, física ou espiritualmente, agradecemos ao padre Júlio” porque “ ajudou-nos a fazer caminho com Maria rumo à salvação que nos conduz a Jesus Cristo, Ele que é a nossa plenitude”.
Este domingo, dia principal da festa, haverá quatro missas solenizadas: às 9h00 (padre Gaspar Pimentel, santa Lúzia da Praia); às 11h00 (padre Nelson Pereira), às 14h00 (padre Davide Barcelos, Arrifes) e às 16h00 (D. João lavrador, bispo de Angra), de “forma a que todos possam participar sem problemas”.
A solenidade de Nossa Senhora dos Milagres teve origem no século XVII e está ligada a vários momentos difíceis da história do arquipélago e de Portugal, com as comunidades a virarem a sua esperança para Maria.
De modo particular destaca-se o período em que Portugal se viu envolvido na guerra entre a França e a Espanha contra Inglaterra. Numa altura em que a Ilha Terceira não tinha qualquer tipo de fortificações e estava quase indefesa, a esperança das autoridades e das pessoas voltou-se para a intercessão de Nossa Senhora dos Milagres, cuja imagem estava colocada na igreja das Doze Ribeiras.
Ficou a promessa de que “caso a ilha não sofresse qualquer investida inimiga”, a comunidade iria promover uma festa anual em honra de Nossa Senhora, o que veio a acontecer.
A primeira celebração dedicada a Nossa Senhora dos Milagres aconteceu a 11 de setembro de 1764 mas esta devoção afirmou-se definitivamente a partir de 1842.
Se esta peregrinação começou com um pedido de intercessão ou proteção contra a guerra, hoje as orações das pessoas vão sobretudo ao encontro de dificuldades sociais como o desemprego, a doença e a crise nas famílias.