Assembleia Sinodal com todas as dioceses decorreu hoje em Fátima e defendeu a valorização dos órgãos consultivos das dicoeses
O Encontro Sinodal nacional, promovido hoje em Fátima pela Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), defendeu a necessidade de “ativar e fortalecer os órgãos de consulta” da Igreja Católica, alargando a participação e responsabilidade dos católicos.
Os 300 participantes das várias dioceses, divididos por 36 grupos, apresentaram as conclusões dos encontros que mantiveram ao longo do dia, incluindo a proposta de criar e tornar obrigatórios os “conselhos pastorais em todas as paróquias e/ou unidades pastorais” das dioceses portuguesas.
No segundo momento de debate entre os participantes, os vários grupos deixaram sugestões de implementação das propostas do Sínodo 2021-2024, que visam alargar os espaços de escuta e participação, visando uma “liderança partilhada, próxima e criativa”, a todos os níveis.
“A sinodalidade é possivel e basta olhar para esta assembleia para perceber que quando há boa vontade para falar e ouvir, e estas pessoas mostram que têm esta vontade, quando nós tornamos prática a sinodalidade, colocando as pessoas a dialogar umas com as outras estamos a viver e a tornar a sinodalidade possivel” referiu o bispo de Angra como uma primeira ressonância deste encontro, que levou a Fátima mais quatro açorianos.
“Levo comigo a palavra corresponsabilidade de todos no processo sinodal” afirma, por seu lado, Francisco Almeida Medeiros, um dos elementos da equipa sinodal de Angra, que se deslocou a Fátima.
“Destaco, por outro lado, a importância da mudança de mentalidades na Igreja e a importância da participação de leigos: homens, mulheres, jovens, crianças… Não se trata de uma ruptura com o passado mas de uma descontinuidade de estruturas e de processos que já estão obsoletos ” afirmou ainda o advogado, que é o coordenador do Conselho Pastoral da paróquia de São José em Ponta Delgada.
“Há um enorme caminho a fazer. Estamos a trocar muitas ideias mas há algumas que se estão a individuar e que são muito importantes: a escuta, a criatividade das bases, a vontade de conversão são sinais muito interessantes que colhemos neste encontro” refere o padre José Júlio Rocha, Vigário para o Clero e membro desta equipa sinodal.
“Não queremos mudar a Igreja, queremos apenas mudar procedimentos que já percebemos não estão a resultar. A perspetiva é agir a partir do pensamento e da reflexão feita pelas bases e não do topo. A Igreja está no mundo pensa e vê este mundo e a sua forma de agir tem de ser adequada a cada tempo”, esclarece ainda.
“Creio que a ressonância fundamental é que tudo isto pede uma conversão atual: que este caminho seja formativo a ordem a sermos verdadeiros discípulos de Cristo com uma participação a três níveis muito forte de todos, em especial dos leigos, seja a nível da Igreja Portuguesa, seja a nível diocesano seja a nível local, nas paróquias, onde tudo começa”, referiu por seu lado outro dos participantes insulares, Monsenhor José Medeiros Constãncia.
“Ver como o ESpírito fala a cada pessoa, e tomar o pulso a esta dimensão nacional é muito importante” refere por outro lado o padre Dinis Silveira, outro dos membros da equipa sinodal diocesana.
“Há um mar imenso de coisas e embora tenha muitas reservas em relação a algumas opções, o maior receio que tenho é que a sinodalidade possa transformar-se apenas numa moda e não vá ao amago da questão” referiu ao Igreja Açores.
“O que quero dizer é que este processo tem de passar pelas bases e ser por ele assumido, com estabilidade e fundamneto que passa pela conversão pessoal e pastoral. Se conseguirmos dar este salto em ordem à constituição de comunidades maduras, conscientes e disponiveis para dar resposta a tantos problemas, então sim valerá a pena. A sinodalidade pode ser então uma oportunidade fantástica”, refere o sacerdote que é ouvidor em São Jorge e integra também esta equipa, que conta ainda com a participação de Carmo Rodeia, que hoje apresentou com o padre Eduardo Duque as ressonâncias do documento final da segunda sessão da Assembleia do Sínodo, em nome da equipa sinodal da Conferência Episcopal Portuguesa.
Os participantes assumiram o desejo de que se dinamizem os conselhos pastorais, aos vários níveis, procurando “potenciar as estruturas de sinodalidade existentes”, com maior representatividade dos vários membros da comunidade.
O número 107 do Documento Final da XVI Assembleia Geral do Sínodo dos Bispos, aprovado pelo Papa, recorda as “experiências de reforma e boas práticas já existentes, como a criação de redes de conselhos pastorais ao nível de comunidades de base, paróquias e zonas, até ao conselho pastoral diocesano”.
O Conselho Pastoral Diocesano é um órgão de corresponsabilidade com a missão de “investigar e ponderar o concernente às atividades pastorais da diocese e propor conclusões práticas”, segundo determina o Código de Direito Canónico.
A valorização do método sinodal, em particular a “conversação do Espírito” nos vários níveis da vida da Igreja, foi outra questão referida em várias intervenções.
Os grupos apontaram as áreas do acompanhamento e acolhimento como prioridades para as comunidades católicas, pedindo ainda mudanças nos “modelos de formação”, em particular nos seminários.
A valorização das famílias e a criação de “novas formas de agir” foram outas das medidas de “concretização” da sinodalidade.
A iniciativa teve como objetivo refletir sobre o documento final do Papa Francisco e da XVI Assembleia Geral do Sínodo dos Bispos sobre a sinodalidade e a sua aplicação prática nas comunidades.
Destinado aos membros das Equipas Sinodais e dos Conselhos Pastorais de cada diocese, este encontro contou também com a presença de vários bispos de Portugal.
A manhã de trabalhos iniciou-se com as palavras de abertura de D. José Ornelas, presidente da CEP, seguindo-se uma apresentação do documento final do Sínodo 2021-2024, trabalhos de grupo e dois plenários.
Um dos grupos sugeriu que o encontro nacional se repita em 2026 para apresentar “boas práticas” implementadas.
O programa do dia foi encerrado por D. Virgílio Antunes, vice-presidente da CEP.
“Gostaria de destacar a presença em grande número de todos nós. Para mim, para todos, é um sinal evidente de que estamos desejosos de dar continuidade a este processo de sinodalidade e que percebemos o seu alcance”, referiu o bispo de Coimbra, no final do Encontro Sinodal nacional.
Perante 300 participantes, das várias dioceses portuguesas, o responsável católico admitiu que a “receção” do Sínodo 2021-2024 seja mais rápida do que o habitual, por responder a uma vontade partilhada por muitas pessoas.
“Nós, em Portugal, desejamos uma Igreja viva, desejamos uma Igreja convertida, uma Igreja humilde, uma Igreja evangelizadora, e estamos disponíveis para construir uma Igreja sinodal”, apontou.
O bispo de Coimbra sublinhou a necessidade de promover uma “espiritualidade sinodal”, promovendo o “fortalecimento de uma fé vivida em Igreja”.
“É uma Igreja em caminho, em que todos os seus membros são chamados à participação e, portanto, há corresponsabilidade, no respeito por aquilo que são os carismas e os dons do Espírito Santo em ordem aos diferentes ministérios”, precisou.
Para o vice-presidente da CEP, o encontro de hoje “renova a esperança de que a Igreja tem caminho e a Igreja tem futuro”.