Seminaristas entusiasmados com as “mudanças” da equipa formadora e do modelo formativo elegem como desafio saber viver numa comunidade reduzida

Foto: Igreja Açores

Uma semana depois do ano letivo ter começado no Seminário, os seis alunos residentes estão confiantes no sucesso da nova caminhada e elegem como principal desafio entenderem-se como comunidade

São seis os alunos que residirão no Seminário Episcopal de Angra de forma permanente juntamente com o Reitor e o Diretor Espiritual, os dois líderes da equipa formadora que integra pela primeira vez leigos (uma psicóloga e uma família) e o tamanho reduzido desta comunidade é apresentado por todos os seminaristas como um dos grandes desafios deste ano letivo que começou na semana passada.

Além da chegada de uma nova equipa formadora, o Seminário iniciou este ano um novo modelo formativo para os candidatos ao Seminário, mantendo-os nas suas residências, onde serão acompanhados pelo pároco e pelas famílias, em articulação com a equipa formadora. Os dois novos alunos, a frequentar o ano zero, são de São Miguel e só irão ao Seminário em momentos determinados pelo calendário escolar. Foi ainda criado um novo modelo para aqueles que concluem a formação académica, humana, espiritual e pastoral, que se realiza ao longo de sete anos. Os três finalistas do Seminário foram colocados em três paróquias e durante este ano lectivo vão desenvolver trabalho pastoral com os respetivos párocos, também em articulação com a equipa formadora. Esta semana, por exemplo, estão no Seminário de Angra para recolher orientações e depois iniciarem o trabalho pastoral antes da ordenação diaconal com vista ao sacerdócio.

A comunidade de seminaristas está, assim, reduzida a seis pessoas: quatro a frequentar o 5º ano e duas a frequentar o terceiro.

Foto: Igreja Açores/EM

“Não será fácil viver com as condições de uma casa gigante com um corpo tão pequeno, mas com o exemplo do novo Reitor, creio que os laços `familiares´ serão reforçados e assim ajudar nesta caminhada. Isto, claro, se todos contribuirmos para tal” refere Fábio Silveira, do Pico, aluno do quinto ano e neste momento o aluno mais velho a frequentar o Seminário.

“Evidentemente, a questão mais desafiadora que nos é colocada é a vivência comunitária numa comunidade onde, na maior parte do ano, estarão presentes seis seminaristas”, refere também Gonçalo Furtado, da ilha do Faial, aluno do terceiro ano de Teologia.

“Esta vivência obriga-nos a olhar a vida comunitária com outros olhos e perceber que talvez seja necessário diminuir o meu ego e colocar de parte a minha razão para acolher a diferença dos meus colegas. Esta atitude tem que ser comum a todos”, afirma ainda.

“ A vida comunitária torna-se muito mais pessoal e obriga-nos a ver o colega como um irmão que necessita da minha compreensão”, refere.

“Com uma comunidade tão pequena, temos a oportunidade de nos conhecermos melhor, de nos apoiarmos uns aos outros e de crescermos juntos nesta nossa caminhada” refere Mário Jorge, da ilha das Flores , a frequentar o 5º ano.

“ A palavra de ordem, está a ser e espero continuar a ser, dedicação, tanto da nova equipa formadora como de nós enquanto comunidade” diz ainda.

“ Uma comunidade mais pequena concretiza um ambiente mais familiar, pelos vínculos da corresponsabilidade, da fraternidade e da comunhão” diz Elson Medeiros, aluno do 5º ano de Teologia, natural de São Miguel.

“Este novo ano perspetiva-se desafiante, pois vai ser um tempo de aprendizagens, de conhecimento de novos métodos aplicados à nossa formação, que espero serem os motores da renovação da diocese, pois seremos, se Deus quiser, os futuros pastores” refere, por seu lado, Dinis Toledo, da ilha Terceira, aluno do 5º ano de Teologia.

“Este modelo familiar de comunidade poderá ser o exemplo do que deverão ser as comunidades paroquiais de futuro, mais unidas e atentas às dificuldades e alegrias de cada um dos seus membros”, acrescenta.

“Apesar de ser uma reflexão precoce, posso adiantar que as variadas mudanças que se verificaram na equipa formadora, no corpo docente e no modelo educativo favorecerão diretamente a formação, seja pela virtude intrínseca dessas mudanças, seja porque, ao menos nos farão refletir em estruturas há muito intocadas”, refere, por seu lado, Afonso Silveira, de São Miguel, que atualmente frequenta o 3º ano e, por isso, será um dos seis residentes em permanência na casa.

“Que estas mudanças sejam acompanhadas por um profundo movimento de renovação espiritual que deverá nortear as restantes dimensões” refere ainda.

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O novo modelo formativo é sublinhado por todos que reconhecem, agora, que o modelo anterior poderia estar “obsoleto e decadente”.

“Iniciamos agora um novo ano que se mostra cheio de novidades (…) após tempo de grande sede numa casa de formação académica e humana com um sistema obsoleto e decadente”, refere Fábio Silveira.

“Caras novas, cargos diferentes, residentes diferentes, que geram estranheza, numa primeira instância, mas que são reflexo de novos tempos que se aproximam, e se há que haver uma mudança, há que haver experiência, e em vez de desmotivados, devemos sentir-nos motivados e com força, sendo nós mesmo, cobaias desta nova fase de projetos e viragem com vista ao rejuvenescimento de uma Diocese `instalada´”, adianta ainda.

As mudanças na composição da equipa formadora são igualmente motivo de regozijo por parte dos alunos residentes.

“ Pela primeira vez temos leigos a integrá-la, e sobretudo mulheres! … são ótimos sinais dos tempos” refere Elson Medeiros.

“Progressivamente a Igreja açoriana vai sendo iluminada com as luzes do Concílio; cada vez mais a nossa Igreja vai entrando em diálogo com o mundo, numa dinâmica de inclusividade” esclarece ainda o aluno do 5º ano que salienta “que este novo modelo estará mais aberto ao diálogo e proporcionará melhores condições para o nosso desenvolvimento integral”.

“ A minha expectativa é que adquiramos um maior sentido de responsabilidade e de maturidade a longo prazo; é um modelo que se foca e que se interessa na nossa formação, não só académica, mas sobretudo humana, espiritual e pastoral. A perceção que tive, foi que passámos de um modelo hierárquico, a um modelo colegial; de um modelo regrado e pautado para um modelo do diálogo e da corresponsabilidade”, conclui.

“A minha impressão acerca da grande mudança na estrutura da equipa formadora foi bastante curiosa. Posso até compará-la aos dois sismos que ocorreram na segunda-feira, dia 25 de setembro. O primeiro sismo equivale ao momento em que recebi a notícia desta reformulação e o segundo evento ao momento em que me deparei com toda aquela esperança utópica, que acabou por se chocar contra a realidade. As mudanças irão acontecer, mas não serão da noite para o dia e é óbvio que não se irá mudar tudo de um momento para o outro. É necessário muita reflexão e introspeção”, afirma Gonçalo Furtado.

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O seminário terá cinco alunos a residir fora: dois no chamado ano propedêutico e três finalistas,  já candidatos ao diaconado.

“Os que saem terão o privilégio de ter uma primeira aproximação pastoral na vida das comunidades, no mundo…, que decerto os  enriquecerá” refere Elson Medeiros.

“Não se pode negar, que desanima em parte, sabermos que estamos chegando ao fim, e nos faltam algumas etapas que anteriormente eram alento na caminhada, como as instituições de Leitor e Acólito que ocorriam durante o 5º ano, e o Diaconado durante o 6º – pequenos patamares que encaminham para o fim desta longa caminhada e que de certo modo dão ânimo para continuar. Observamos atentamente este futuro próximo dos nossos colegas finalistas, e os frutos que se extraem” ressalva Fábio Silveira.

“O novo modelo de acesso ao seminário em regime propedêutico, revela prudência e cuidado na seleção dos candidatos a esta casa”, afirma ainda o seminarista do 5º ano.

“Sem sombra de dúvida, é preciso analisar estes novos métodos e aprender com os resultados” refere, por outro lado, Gonçalo Furtado ciente de que se os resultados forem menos bons não haja medo de “voltar atrás”.

“Uma coisa é certa: não podemos ter vergonha ou medo de voltar atrás! Caso constatemos que algum destes novos métodos ou alguma destas novas mudanças não funcionem como esperado, temos que estar abertos a retroceder”, conclui.

O novo ano letivo já começou. Na missa de ação de graças por este ano, o bispo diocesano abordou a exigência da formação que deve ser ministrada nos seminários, que será uma “preocupação da diocese todo este ano”.

Foto: Igreja Açores/Seminário de Angra

“Precisamos de Seminários para o nosso tempo e de presbíteros igualmente”, afirmou.

“Os seminários hoje devem ser abertos à comunidade e adaptáveis, inclusivos, culturalmente sensíveis e centrados na formação integral dos futuros sacerdotes” disse o prelado destacando que um seminário de estilo tridentino “já não serve.”

“São cada vez maiores e mais complexos os desafios do mundo contemporâneo, como o secularismo, as mudanças nas estruturas familiares e as questões éticas em evolução. Nós somos mais complicados… Isso significa que os seminários devem oferecer uma formação integral que prepare os futuros sacerdotes não apenas teológica, mas também emocional e pastoralmente, tudo baseado numa forte espiritualidade” esclareceu.

“A capacidade de relacionamento com pessoas de diferentes origens e uma compreensão profunda dos desafios enfrentados pela sociedade atual são demasiado exigentes para não se investir seriamente”, disse ainda desafiando os seminaristas a não olharem apenas para a ordenação presbiteral como “uma meta” mas para uma formação “continua que dura toda a vida”, concluiu.

Esta instituição de ensino e formação foi inaugurada no dia 9 de novembro de 1862, no Convento de São Francisco de Angra, depois de 328 anos da fundação da Diocese de Angra, e dava cumprimento à “norma tridentina e ao desejo do clero quanto à fundação de um seminário”.

Um século antes o então bispo de Angra, D. Frei José da Avemaria, já exigia que “sem a competente certidão de frequência, aproveitamento e capacidade dos pretendentes, não podiam ser admitidos às Ordens, neste bispado”.

Ao longo de 161 anos de existência, o Seminário Episcopal de Angra formou diversas gerações de alunos, praticamente todos os sacerdotes açorianos, sete bispos, e foi a principal e única escola de formação superior de centenas de homens, que influenciaram a cultura e a sociedade açorianas, era a única instituição de ensino superior do arquipélago antes da criação da Universidade dos Açores.

Por ocasião do 150º aniversário, recebeu a Insígnia da Ordem de Mérito pelo presidente da República, para além da Medalha de Ouro do Município de Ponta Delgada, e do Diploma de Reconhecimento, da Câmara de Angra do Heroísmo.

 

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