Reduzido número de alunos não faz esmorecer empenho na defesa da instituição
O Seminário Episcopal de Angra asinala hoje o 153º aniversário com uma Missa de ação de graças, presidida pelo Reitor, numa altura em que o reduzido número de alunos -14- levou a instituição a tomar algumas medidas que entrarão em vigor já no próximo ano.
Entre elas está a admissão de alunos que iniciam o ciclo de estudos do ensino secundário – 10º ano-, cujas aulas frequentarão no ensino regular, mas que serão acompanhados no seu crescimento e discernimento espiritual dentro do Seminário.
“Nunca fechámos realmente as portas aos alunos do secundário, mas deixou-se de apostar nisso. Presentemente queremos relançar esta abertura com maior empenho. Há muitos jovens que colocam o problema vocacional durante o secundário e que depois esmorecem a ideia, sobretudo quando chega o tempo das matrículas para a Universidade”, disse o Reitor numa entrevista publicada no Sítio Igreja Açores, a propósito da Semana dos Seminários que começou este domingo.
“Penso que isso vai trazer mais alunos ao Seminário e vai permitir um acompanhamento mais cedo do processo vocacional. A experiência de alguns dos que fizeram esse percurso confirma esse propósito. Já nos chegaram respostas positivas”, precisou o Pe Hélder Miranda Alexandre.
O Seminário Episcopal de Angra foi inaugurado no dia 9 de Novembro de 1862 no Convento de S. Francisco de Angra, passados 328 anos da fundação da Diocese.
Dava-se assim cumprimento à norma tridentina e ao desejo do clero quanto à fundação de um Seminário nesta Diocese.
No entanto, já um século antes D. Frei José da Avemaria, bispo de Angra, exigia que “sem a competente certidão de frequência, aproveitamento e capacidade dos pretendentes, não podiam ser admitidos às Ordens, neste bispado…”.
Volvidos 153 anos o Seminário Episcopal de Angra, formou diversas gerações de alunos. E, daqui saíram sete bispos e praticamente todos os sacerdotes açorianos. O reconhecimento doi trabalho do Seminário foi de resto reconhecido a nível nacional com a atribuição da Insignia da Ordem de Mérito pelo Presidente da República, para além da Medalha de Ouro do Municipio de Ponta Delgada e do Diploma de Reconhecimento, da Cãmara de Angra do Heroísmo.
Por outro lado, foi a principal e única escola de formação superior de centenas de homens que influenciaram a cultura e a sociedade açorianas.
Antes da criação da Universidade dos Açores, esta era a única Instituição de ensino superior do Arquipélago.
À sombra do Seminário nasceu o Instituto Açoriano de Cultura, que promoveu as Semanas de Estudo dos Açores, um dos momentos mais altos de reflexão política, social, cultural e económica dos Açores e alguns dos fundadores da própria Universidade ensinaram no Seminário.
“A influência do Seminário é difícil de calcular, e penso que é muito maior que aquilo que se pensa, se tivermos em conta todo o trabalho feito localmente por aqueles que aqui foram formados”, adianta por outro lado o Reitor que não deixa de apelar ao empenho de todos, a começar pelos sacerdotes e pelas familias, para ajudarem o Seminário a crescer, seja no número de alunos seja na sua componente formativa.
“Posso dizer com toda a convicção que se trabalha aqui muito a sério. São muitas as noites que me sinto esgotado, mas feliz. Tanto os professores como os alunos sentem isso na pele. Mas não se pode exigir que uma comunidade pequena, como a nossa, faça o mesmo que outras do passado. A realidade é outra”, refere ainda o responsável.
O esforço por uma formação de qualidade constitui, de resto, um dos distintivos desta Instituição.
“As pessoas precisam de padres sábios, mas que sejam verdadeiros pastores atentos aos mais fracos e necessitados”, refere o Pe Hélder Miranda Alexandre.
A reafirmação permanente de que o Seminário é o “coração da diocese” encontrou sempre eco nos diferentes prelados. É assim com D. António de Sousa Braga e também já o é com o seu coadjutor, D. João Lavrador, que na primeira visita à diocese, depois da nomeação, fez questão de visitar a instituição e presidiu a uma missa na Capela de Nossa Senhora da Natividade.
“O D. João Lavrador foi reitor do Seminário de Coimbra e o D. António do Seminário de Alfragide. Por isso, sabem muito bem o que é esta realidade, as suas potencialidades e os seus problemas” sublinha o Reitor, agradecendo “A familiaridade” do D. António e “apoio tão forte” do D. João que “ nos entusiasmaram muito e dão-nos confiança. Sinto realmente que não estamos sozinhos”.
Pendente neste aniversário continua, no entanto, o reconhecimento curricular do plano de estudos do Seminário pela Universidade Católica portuguesa.
“É complexo”, diz o Pe Hélder Miranda Alexandre, pois se a nível canónico “cumprimos todos os requisitos, a nível civil é uma questão difícil”, na medida em que “precisamos de mais doutorados e produção científica, mas a maioria dos nossos professores já tem uma infindável lista de compromissos pastorais. E esse não é só um problema dos Açores. Também a faculdade de Teologia da UCP tem lutado muito para se manter aberta”.
Há ainda a questão financeira que tem de ser considerada.
“Se alguns dos alunos frequentarem dois anos no Continente, coloca-se em causa a nossa sobrevivência, mesmo económica. Não é possível, para a nossa Diocese, aguentar duas frentes”.
Questionado sobre se é essa falta de reconhecimento do título académico que afasta os jovens do Seminário, o sacerdote adianta que o problema “é mais profundo” e que “não é por aí que se resolvem os problemas dos sacerdotes. Isso é mito”.
“Penso que aumentaria o número de leigos, mas não o de seminaristas. Se assim fosse, já teríamos vários no Continente. Na prática, para a maioria dos casos, a licenciatura não traz grandes benefícios, o que não retira a injustiça da situação. O problema está para quem é professor ou assume responsabilidades civis, mas não para os párocos”.
De resto, é bom assinalar que o problema do número de alunos se verifica ao nivel da frequência. Embora haja menos seminaristas com vista ao sacerdócio, a verdade é que a Diocese tem sido uma das que mais presbiteros tem ordenado. Só no episcopado de D. António de Sousa Braga, nos últimos 19 anos foram ordenados 54 sacerdotes.
O aniversário do Seminário coincide com a Semana dos Seminários e por isso as atividades são muitas. Neste momento há dois seminaristas a desenvolver trabalho vocacional na ouvidoria da Povoação, em São Miguel e na próxima quarta feira os restantes 12 sairão para outras ouvidorias, dois a dois, a saber Pico, Graciosa; Zona Poente de Ponta Delgada, Capelas, Ribeira Grande e Fenais de Vera Cruz.
(Noticia atualizada às 15h20)