A experiência implica mudanças que integram leigos na equipa formadora e ano propedêutico passado entre o Seminário, a família e a paróquia de origem
O novo ano letivo no Seminário de Angra começa no dia 20 de setembro com seis alunos nos terceiro e quarto anos e dois novos alunos, no `ano zero´, que iniciarão um modelo formativo novo. Os dois novos seminaristas, que frequentarão o ano propedêutico, cumprirão o ano entre o Seminário e a residência da família, integrados na comunidade paroquial onde sempre viveram. Haverá igualmente mudanças na composição da equipa formativa que passa a contar com leigos: uma psicóloga e um casal, para além do reitor e diretor espiritual.
“Esta nova dinâmica pretende alargar os protagonistas na caminhada, isto é, queremos ter mais gente a contribuir para o discernimento dos candidatos ao sacerdócio e, simultaneamente, mais condições para os próprios candidatos poderem crescer humana e espiritualmente”, refere o padre Emanuel Valadão Vaz, o novo Reitor do Seminário Episcopal de Angra.
“Esta solução é muito desafiante e pode dar frutos: é preciso que o Seminário esteja mais no imaginário dos jovens e, quanto mais pessoas estiverem envolvidas, melhor” acrescenta, ainda, salientando que estes são os primeiros passos que a instituição, em colaboração estreita com o bispo diocesano, pretende desenvolver.
Os dois seminaristas, em regime externo, por assim dizer, integram a comunidade mas não residem permanentemente na casa.
“Vamos ter em outubro um encontro com eles e a nossa grande prioridade é que eles durante este ano zero possam trabalhar a sua humanidade para poderem melhor discernir esta atração que têm por Jesus; atração não por serem padres mas por servir Jesus. Ser padre é uma consequência desta atração por Jesus que se vai gizando à medida que vamos descobrindo e personalizando”, acrescenta o padre Emanuel Valadão Vaz que era até agora ouvidor eclesiástico da ouvidoria da Praia onde foi desenvolvida uma escola de formação cristã centrada na oração, no estudo da Palavra de Deus e no aprofundamento dos grandes temas que atravessam o mundo como as questões ambientais, a família ou o modelo de desenvolvimento social que a Igreja defende.
Os novos alunos terão algumas aulas no Seminário de forma presencial e a maioria por zoom, em casa. Continuarão a desenvolver a sua atividade em são Miguel, de onde são naturais, nomeadamente das paróquias da Covoada e da Fajã de Cima, ambas na ouvidoria de Ponta Delgada.
Já os seis alunos que frequentam o curso de Teologia, no terceiro e quinto anos, vão ter a acompanhá-los a equipa formadora que será composta pelo Reitor, pelo diretor espiritual, padre Nelson Vieira, por uma psicóloga- Raquel Oliveira- e por uma família- Lúcio Sousa e Andreia Rocha-, que dia-a-dia acompanharão todos os seminaristas, internos ou externos.
“Vamos ter reuniões todas as semanas e embora só fique eu e o diretor espiritual a residir no Seminário, estarão sempre presentes”, confirmou o novo Reitor. A começar já no dia 19 de setembro, véspera do inicio das aulas.
“Vamos estar com eles e falar sobre o novo ano”, diz.
“Este trabalho conjunto vai ser importante para nos sintonizar com o mundo concreto e real e, sobretudo, com o nosso papel que é de escuta mas também de preparação para a escuta e essa preparação faz-se de um aprofundamento da nossa condição humana, de pessoas” explica o padre Emanuel Valadão Vaz.
“Todo o processo vocacional tem de ser um processo evolutivo; nós não podemos querer pessoas no seminário apenas por questões numéricas; quem está no seminário tem de estar disponível para fazer esta caminhada, procurando a conversão” refere ainda, lembrando que a presença dos vários carismas vocacionais pode facilitar um melhor conhecimento do mundo e da realidade que espera um jovem sacerdote, depois da formação no Seminário.
“Os padres não são super homens e neste caminho podemos ir trabalhando e discernindo a melhor forma de conseguirmos responder às situações que se nos deparem. No fundo, temos que nos ir desconstruíndo, retirando o que está a mais e acrescentando aquilo que são Paulo nos diz para sermos homens novos, aqueles que se aproximam mais de Jesus”, esclarece.
“Esta opção pela presença na equipa formadora de uma família insere-se na perspetiva de que o Seminário é um espaço onde existem comunidades idênticas às que existem na vida lá for, que nos possam ajudar a ver e a ter algumas perspetivas que nós padres podemos não ter”, enfatiza.
Raquel Oliveira já foi professora de psicologia no Seminário e acompanhou vários seminaristas; o casal é atualmente responsável pela equipa do Sector Açores Centro do Movimento das Equipas de Nossa Senhora e tem três filhos, tendo para trás uma vida de comunhão em Igreja desde a catequese aos grupos de jovens.
“Este modelo aproxima-se mais do que é o realismo da vida, que tem problemas, resistências, que muitas vezes se não houver contributos de fora nós não conseguimos ver. Quem está inserido no mundo, na vida familiar, na vida profissional, etc pode ajudar-nos a ver mais longe” acrescenta o padre Emanuel Valadão Vaz.
Durante o ano permanecerão ligados ainda ao Seminário mais três alunos, naturais de São Miguel, que já concluíram os estudos académicos e aguardam a ordenação diaconal em ordem ao sacerdócio. Vão ser acompanhados pelo Seminário mas a partir da integração em paróquias, onde serão auxiliados pelos respetivos párocos.
“Antes de serem ordenados queremos que eles contactem com as comunidades, com a vida real, de forma a que também possam crescer no seu discernimento e na verdadeira vocação”, refere ainda o padre Emanuel Valadão Vaz.
“Esta opção formativa, que dá agora os primeiros passos, visa promover uma caminhada série, coerente e exigente e na qual percebamos algumas alterações que podem consolidar melhor as razões da nossa opção pelo sacerdócio”, conclui o reitor que continuará a ser o coordenador dos padres do Prado em Portugal, movimento de espiritualidade a que está ligado de há algum tempo.
Este modelo que o Seminário vai desenvolver assenta nas novas regras da Ratio Fundamentalis, aprovada em dezembro de 2016, 46 anos depois de ter sido criada, procurando uma formação integral dos futuros padres e o cuidado da sua maturidade psíquica, sexual e afetiva, procurando unir de modo equilibrado as dimensões humana, espiritual, intelectual e pastoral, através de um caminho pedagógico gradual e personalizado.
A entrevista ao padre Emanuel Valadão Vaz pode ser ouvida na integra no domingo, depois do meio-dia, no Rádio Clube de Angra e na Antena 1 Açores.