A delegação de Portugal é composta por 160 pessoas e seis sem-abrigo vão estar com o Papa numa audiência privada
Portugal vai participar com uma delegação de 160 pessoas na celebração do ‘Jubileu das Pessoas Socialmente Marginalizadas’, entre 11 e 13 de novembro, seis dos quais vão ser recebidos pelo Papa.
Entre os participantes de Portugal encontram-se algumas pessoas que “vivem na rua, outras em quatros que as instituições conseguiram alugar” e outras residem nas próprias instituições.
“Pessoas em processo de procura de novo projeto de vida, mais digno para a sua condição de ser pessoas” disse o presidente da Cáritas à Agência Ecclesia, assinalando que existem outras pessoas que ainda estão “nessa busca e este encontro poderá ser muito importante”.
De Portugal participam cinco Cáritas diocesanas, nomeadamente a de Lisboa, a Comunidade Vida e Paz, a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, O Ninho e O companheiro.
A celebração do jubileu dedicado às pessoas sem-abrigo e as que se encontram em diferentes situações de precariedade e pobreza é o último grande encontro antes das celebrações que encerram o Ano Santo Extraordinário, a 20 de novembro.
Do programa para além da audiência privada com o Papa Francisco, onde participam seis elementos da delegação portuguesa, o Jubileu de Pessoas Socialmente Marginalizadas vai propor aos participantes catequeses, a celebração do sacramento da Reconciliação e a Missa de encerramento, no domingo, dia 13.
“Quando se encerrarem as portas santas, espero que não se fechem as portas do coração e as que se abriram que se mantenham no mesmo dinamismo”, desejou Eugénio Fonseca no contexto da dinâmica gerada pelo Ano Santo da Misericórdia.
Um dos objetivos deste jubileu é mostrar às pessoas que há “sempre um caminho para a integração e para a regeneração”, no entanto muitas entidades que trabalham no terreno embora não desistam consideram ser difícil a integração social dos sem abrigo.
Nos Açores o número tem vindo a crescer. Só em Ponta Delgada a Associação Novo Dia retirou da rua nos últimos anos mais de uma centena de sem-abrigo. Mas um dos coordenadores da instituição , entrevistado pela Agência Lusa, alertou para as dificuldades de inserção destas pessoas na sociedade.
“Na associação temos cerca de metade dos sem-abrigo que são deportados, o que quer dizer que estas pessoas são mais desenraizadas e mais difíceis de intervir. São pessoas que perderam a família e perderam as referências culturais que tinham nos Estados Unidos da América ou Canadá”, disse Paulo Fontes.
A Associação Novo Dia disponibiliza três residências, abertas 24 horas, com cerca de 50 camas para pessoas em situação de exclusão social, nomeadamente sem-abrigo, mulheres em risco que são vítimas de violência doméstica, deportados, ex-reclusos e pessoas com problemas de álcool e drogas, utentes que são ainda apoiados em quartos na comunidade.
Paulo Fontes disse que os utentes da associação são na sua maioria homens e destacou haver “uma dificuldade extrema” em integrar no mercado de trabalho estes utentes, tendo em conta “a difícil conjuntura que se vive em várias áreas” económicas, nomeadamente na construção civil.
“Tínhamos de apostar na região em maiores respostas de formação e de capacitação de competências para as pessoas que são excluídas para ver se elas se reinserem e não ser só a atitude assistencialista, que é importante, mas temos de criar ferramentas para as pessoas voltarem ao mercado de trabalho”, defendeu, reconhecendo que há casos de sucesso de integração.
Segundo o sociólogo, a associação “tem tentado tirar as pessoas da rua”, mas “é preciso criar mais repostas específicas” para estas situações.
O conceito de sem-abrigo abrange “todos aqueles que não têm alojamento próprio e condigno. Temos mais de cem pessoas nesta situação que ajudamos. Agora, aqueles que estão a dormir na rua, sem teto são já poucos. Neste momento são cinco ou seis pessoas”, disse, salientando que a intervenção é feita tendo em conta que cada caso é um caso.
Paulo Fontes disse que estes utentes continuam “a sofrer de um certo estigma e discriminação” e, “basicamente, a integração é feita com apoio da Segurança Social”.
“Ainda bem que temos o Estado Social e que vai garantindo o mínimo, mas se tivéssemos mais estratégias de formação…”, desabafou, considerando que esta área deve “evoluir mais”.
A associação conta ter em funcionamento no próximo ano um centro de acolhimento temporário de sem-abrigo, um equipamento que vai aumentar a capacidade de resposta e que será a primeira obra de raiz para o apoio àquela população-alvo.
Paulo Fontes adiantou que “as obras do equipamento já arrancaram” e disse que a associação ficará assim com 30 camas a serem geridas pela Novo Dia, que atualmente tem 15 num edifício arrendado, e outras 30 a serem geridas pela Cáritas da ilha de São Miguel, além de oficinas para formação tendo em vista a reintegração social.
O novo equipamento está inscrito na Carta Regional de Obras Públicas e a empreitada é financiada pelo executivo regional.
(Com Ecclesia/Lusa)