Pelo padre Marco Sérgio Tavares
É normal, em muitas famílias, haver lugares marcados à mesa: o chefe de família tem o seu e esta prática nada tem haver com sociedades patriarcais. É mais que uma questão cultural. Diria que teológica. Também nas catedrais o Bispo tem a sua cátedra, cadeira. A nossa, que poucos diocesanos conhecem, este fim-de-semana ficou vaga, vacante, vazia. É importante reforçar: vazia. Os bispos são os sucessores dos Apóstolos. Por tempo indeterminado, essa sucessão está interrompida nos Açores. Não nos interessa saber o porquê de tal facto ter ocorrido. Importa ler este sinal no tempo em que ele precisamente ocorre. No início de um Advento, numa crise ainda pandémica, num país desgovernado e falido parlamentarmente, numa região com uma democracia irregular… tudo parece vazio, fazendo-nos recuar a outras sedes vacantes.
Ficou-nos na retina o helicóptero a sobrevoar Roma com Bento XVI, a caminho de Castelgandolfo aquando da sua renúncia e choro copioso do seu secretário particular; ou daquela Páscoa de São João Paulo II que agonizava minuto a minuto cronometrado pelos media em direto.
Não são só as cátedras episcopais ou papais que ficam vazias. Faz-se sempre impressão quando um ator, escritor ou músico parte para a eternidade… é uma cátedra vazia. No dia em que Amália Rodrigues faleceu o meu avô chorou… uma cátedra vazia… nas poucas vezes que presido à Eucaristia na minha terra natal consigo identificar os lugares vazios onde os mais antigos se sentavam na Igreja… cátedras vazias…
Costuma dizer-se que no mundo ninguém é insubstituível. Neste mês da saudade, em relação aos laços familiares, não concordo. No que diz respeito à Religião, Política, Economia, já nem tanto. Não faltam candidatos aos lugares.
Nos conclaves não me parece que haja acordos “políticos “escritos para alguém ser eleito para o “trono” de Pedro. No complexo processo de nomeação de bispos na Igreja Católica, o direito Canónico insiste que as pessoas envolvidas na consulta devam fornecer informações sob sigilo. O Núncio apostólico até elabora uma terna (três candidatos) para enviar à Santa Sé com toda a informação recolhida. Seria interessante saber, salve seja, quem sob o “suposto” sigilo se considera episcopável e quais aqueles que o Povo de Deus presente nas paróquias, acha capazes de tal missão.
Entre nós, de Santa Maria ao Corvo, será eleito um administrador diocesano e uma sede vacante. Quando se entrega ao Ordenado o báculo pastoral, o Bispo ordenante diz: “recebe o báculo, símbolo do múnus de pastor, e cuida de todo o rebanho no qual o Espírito Santo te constitui como Bispo para regeres a Igreja de Deus. À chegada de Dom João Lavrador à nossa Diocese o clero ofereceu-lhe um báculo que, certamente, levou consigo. Sabe-se que há na nossa Diocese outros báculos guardados. Quem os usará de novo? É que mesmo aquando da visita de um Bispo, este terá que pedir ao residencial a permissão para usar o báculo nalguma celebração litúrgica no território sob a sua jurisdição.
Por agora, os báculos estão encostados à parece ou arrumados em estojos de sacristias. Queira Deus que o nome do nosso futuro Bispo não tarde.
“Não vos deixarei órfãos”. Palavra certa. Mas a Igreja vive de sinais.
Estamos em sede vacante.