Secretário de Estado do Vaticano apela ao diálogo diante da erosão do multilateralismo

Foto: Vatican Media

Cardeal Pietro Parolin discursou num evento no âmbito da 79ª Sessão da Assembleia Geral das Nações Unidas

O secretário de Estado do Vaticano discursou esta segunda feira no Summit of the Future durante a 79.ª sessão da Assembleia Geral das Nações Unidas afirmando que é necessária “uma cúpula de esperança” diante de uma crise do multilateralismo.
O cardeal Pietro Parolin indicou o “diálogo, a eliminação da pobreza e a regulamentação da inteligência artificial” como passos para construir o futuro.

“A paz é aquela que somente o diálogo pode construir. Depois, a eliminação da pobreza, a promoção do desenvolvimento humano integral, a igualdade e a dignidade soberana das nações, a eliminação total das armas nucleares e o cancelamento da dívida” afirma o Cardeal Secretário de Estado citado pelo Vatican News.

O discurso de D. Pietro Parolin foi marcado por amplas referências à realidade atual, com as suas dilacerações, as suas oportunidades, bem como aos seus riscos. O secretário de Estado do Vaticano, que estará nos EUA até a próxima segunda-feira, dia 30, participará da Semana de Alto Nível 2024, junto com chefes de Estado e de governo reunidos na sede das Nações Unidas em Nova York e também celebrará a Missa pelos 60 anos da Santa Sé na ONU.

Segundo o Secretário de Estado do Vaticano, o atual contexto global parece ter colocado o sistema multilateral em grave crise. Prova disso é a “erosão da confiança entre as nações”, como tem sido evidenciado pela crescente intensidade dos conflitos.

“Esta Cúpula deveria ser fonte e motivo de esperança”, afirma Parolin, citando o Papa. Depois, dirige seu olhar para o futuro, que, afirma, deve ser construído com base em princípios como “a intrínseca dignidade divina de cada indivíduo”, “a promoção do desenvolvimento humano integral”, “a igualdade e a dignidade soberana de todas as nações e o estabelecimento de confiança entre elas”.

A estes princípios devem corresponder ações em diversas áreas. Em primeiro lugar, “a eliminação da pobreza”, objetivo que deveria ser prioritário porque “o desenvolvimento é o nome da paz”, sublinha o cardeal Parolin.

“Um futuro pacífico e próspero requer vontade política para utilizar todos os meios possíveis para alcançar o desenvolvimento sustentável.” Isto inclui “a reforma das instituições financeiras internacionais, a reestruturação da dívida e a implementação de estratégias de cancelamento da dívida”.

Em segundo lugar, prossegue, está a busca da paz: um objetivo que, sublinha o secretário de Estado, “requer a implementação de um desarmamento geral e, em particular, a eliminação total das armas nucleares”. Ou seja, é necessário “deixar de lado as restritas considerações geopolíticas e resistir aos fortes lobbies económicos para defender a dignidade humana e garantir um futuro em que todos os seres humanos possam desfrutar de um desenvolvimento integral, quer como indivíduos, quer como comunidades”.

O cardeal defendeu ainda uma ampla e profunda regulamentação da Inteligência Artificial.

A Santa Sé “deseja um quadro regulamentar para a ética da IA” que aborde, entre outras coisas, “a proteção de dados, a responsabilidade, os preconceitos e o impacto da IA ​​no emprego”.

Acima de tudo, acrescenta Parolin referindo-se às jovens gerações, “é um imperativo garantir a todos  um futuro digno, assegurando as condições necessárias – entre as quais um ambiente familiar acolhedor – para facilitar a prosperidade, enfrentando ao mesmo tempo a miríade de desafios que a dificultam, entre os quais aqueles resultantes da pobreza, conflitos, exploração e dependência”.

No final do discurso, o cardeal centrou-se no Pacto para o Futuro da ONU, que a Santa Sé reconhece como importante embora expressando “reservas” sobre alguns conceitos utilizados. Em primeiro lugar, os termos “saúde sexual e reprodutiva” e “direitos reprodutivos”.

“A Santa Sé considera que estes termos se aplicam a um conceito holístico de saúde, que abrange, cada um a seu modo, a pessoa na totalidade da sua personalidade, da sua mente e de seu corpo, e que favorecem a conquista da maturidade pessoal na sexualidade e no amor recíproco e no processo de tomada de decisões que caracterizam a relação conjugal entre um homem e uma mulher de acordo com as normas morais”, esclarece o secretário de Estado .

“A Santa Sé – continua – não considera o aborto ou o acesso ao aborto ou aos abortivos como uma dimensão destes termos”. Quanto ao “género”, a Santa Sé sempre entende o termo “como baseado na identidade sexual biológica que é masculina ou feminina”.

(Com Vatican Media)

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