Secretária-geral da Cáritas Europa alerta para impacto “tremendo” dos cortes na ajuda humanitária internacional

 

Foto: Caritas Wien/Elisabeth Sellmeier

A secretária-geral da Cáritas Europa alertou hoje para o impacto “tremendo” dos cortes na ajuda humanitária internacional e do investimento em armamentos, que alimentam os conflitos.

“As pessoas que se encontram em zonas de conflito e de emergência são as que estão a passar os momentos mais difíceis e são as mais atingidas”, disse Maria Nyman, em declarações citadas pela Agência Ecclesia.

A responsável participa num conjunto de eventos que assinalam a Semana Nacional da Cáritas 2025, a decorrer até domingo, em Portugal.

Já em final de fevereiro, a confederação internacional da Cáritas lamentou a “onda de cortes” na ajuda humanitária, falando numa “traição à responsabilidade global”, particularmente dos governos dos EUA e Reino Unido.

Questionada sobre o fim do apoio da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID) a vários projetos, Maria Nyman admite que a decisão da administração Trump “está a ter um impacto tremendo” nas organizações da Cáritas, mas “acima de tudo, nas pessoas que vivem em situação de pobreza, marginalização e exclusão”.

“Para as organizações da Cáritas, isto significa cortes em programas para muitas pessoas, pode significar cortes no pessoal, mas o que estamos a tentar fazer é realmente garantir que estamos a trabalhar para obter isenções ao congelamento”, explica.

A responsável indica da instituição católica de solidariedade e ação humanitária indica que, além da USAID, há uma tendência “semelhante” para diminuir o financiamento à cooperação internacional, na Europa.

Maria Nyman adverte que “as necessidades vão aumentar”, num cenário de maiores tensões geopolíticas, num cenário em que o défice de financiamento humanitário “já era muito grande”.

“Pedimos às instituições europeias que se aproximem e mostrem que estão a liderar, a defender os valores e a solidariedade que são tão necessários no momento atual”.

A secretária-geral da Cáritas Europa admite ser “cada vez mais difícil” dar ênfase a uma política que se baseie na “dignidade humana”, falando num “momento muito difícil”.

A entrevistada assume que, no plano política, a “prioridade é dada à segurança, também no sentido da defesa”, mas sustenta que “o financiamento não pode ser retirado da resposta humanitária ou dos serviços sociais”.

“Nenhum decisor político deve pensar em investir na defesa em detrimento do investimento nesses serviços e apoios fundamentais”, insiste.

Maria Nyman recorda que a Cáritas é a maior responsável pelo apoio humanitário na Ucrânia e está a trabalhar em todos os países vizinhos, apoiando também a chegada dos refugiados, após mais de três anos de guerra.

“Obviamente, a necessidade continua a ser enorme. A situação continua a ser muito má. Continuam a registar-se ataques diários na Ucrânia. Não ouvimos falar tanto sobre isso, mas a situação não está a melhorar, de forma alguma”, afirma.

Para a entrevistada, o processo de reconstrução vai ser “muito, muito longo” e a confederação da Cáritas “está pronta para continuar a apoiar” a população ucraniana.

Maria Nyman acompanhou ontem a apresentação de um novo estudo da Cáritas Portuguesa, que alerta para uma prevalência “estruturalmente elevada” de situações “extremas” de exclusão social, no país.

“A Cáritas em Portugal está a fazer um trabalho incrível e estão muito empenhados também a nível europeu, no nosso trabalho e na defesa dos direitos”, refere a responsável.

‘Pobreza e exclusão social em Portugal: uma visão da Cáritas’ é um estudo coordenado por Nuno Alves, do Observatório da Cáritas, que alerta para o aumento da privação habitacional e do número de pessoas em situação de sem-abrigo, para o crescimento de pedidos de ajuda por parte de imigrantes e para a falta de progressos no combate à pobreza e exclusão.

(Com Ecclesia)
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