Secretária-Geral da Cáritas de Espanha destaca desafios e estratégias no combate à pobreza a partir da proximidade

Natália Peiro defende o valor da comunidade na resposta aos problemas sociais concretos

Foto: Igreja Açores/CR

A Secretária-Geral da Cáritas de Espanha realizou, esta sexta-feira, uma conferência no auditório do Campus da Terceira da Universidade dos Açores, sobre os desafios crescentes da pobreza e as estratégias para uma atuação mais eficaz da Cáritas a nível nacional.

Durante a intervenção, feita no âmbito da realização do Conselho Geral da Cáritas que termina este sábado em Angra, destacou que a pobreza afeta de forma preocupante os jovens, com 37% deles em risco de pobreza, assim como os idosos com mais de 65 anos, o segundo grupo etário mais vulnerável, em que 20% vive em risco permanente de pobreza, por causa dos baixos rendimentos e da dificuldade de acesso a cuidados de saúde. Esta é, de resto, uma das novas expressões da pobreza depois da pandemia do Covid 19.

“Num momento em que os fundos públicos e o investimento do estado nas questões sociais tendem a diminuir e as próprias comunidades, cada vez com menos crentes, também registam uma diminuição de donativos, a aposta tem de ser outra e a comunidade tem de se empenhar nas causas sociais” referiu Natália Peiro.

A dirigente, considerada entre 100 mulheres espanholas com influência, recordou que é importante que a identidade da rede Cáritas se mantenha e isso exige formação de quadros e de voluntários . No contexto digital, apontou a aposta na comunicação como sendo “fundamental” para o sucesso da rede Cáritas. Desde logo, os voluntários devem ter uma informação muito clara e precisa sobre quais os objetivos e as estratégias a desenvolver por pertencerem a grupos Cáritas. A este propósito, e porque o organismo em Espanha tem vindo a perder voluntários, tem havido uma aposta na diversificação do perfil do voluntário Cáritas, procurando-se que os jovens possam aderir e com essa adesão possam captar novos jovens.

Por outro lado, referiu que a legislação social é cada vez mais complexa e uma das tarefas da rede Cáritas é garantir o apoio jurídico às famílias mais vulneráveis, que hoje também mudaram o seu perfil. Isto é, “os pobres hoje trabalham, ganham pouco e os encargos tornaram-se mais caros e, por isso, não conseguem ter dinheiro para aguentar o nível de vida” refere Natália Peiro. Entre os mais vulneráveis e os novos pobres está a população migrante, com baixos rendimentos e dificuldades acrescidas.

“Não podemos deixar de fazer a defesa dos mais pobres” referiu, “sem cair em instrumentalizações político-ideológicas”.

Natália Peiro alertou, ainda, para os perigos da “comercialização da ação social”, que pode gerar competição prejudicial entre instituições, assim como a redução progressiva de fundos públicos e de contribuições privadas, reflexo da menor prática religiosa.

A dirigente defendeu ainda um maior envolvimento dos sacerdotes na dinamização da ação social da Cáritas.

“Só com o seu apoio podemos pensar numa maior sensibilização das comunidades”, referiu.

No final da conferência deixou ainda algumas sugestões de boas práticas desenvolvidas pela Rede Cáritas de Espanha com 70 Cáritas diocesanas e mais de 2,5 milhões de beneficiários, seja de ajuda material seja de projetos específicos que os possam tirar da pobreza, através de qualificação para o emprego, combate ao insucesso escolar, que afeta sobretudo as famílias com baixos recursos, entre outros.

“Pensar localmente é sempre uma estratégia mais adequada” disse ainda.

A conferência terminou com um apelo à necessidade de uma maior solidariedade e envolvimento da sociedade no combate à pobreza, reforçando o papel essencial da Cáritas na promoção da dignidade humana.

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