Sacerdote da diocese do Porto foi o pregador do primeiro turno do Retiro do Clero diocesano, que decorreu esta semana em São Miguel
As sete cartas às sete igrejas da Ásia, que integram o Livro do Apocalipse, foram o ponto de partida para as interpelações feitas pelo padre Amaro Gonçalo Lopes, pregador do primeiro turno do retiro do Clero, que decorreu esta semana em São Miguel e no qual participaram cerca de duas dezenas de sacerdotes de São Miguel e Santa Maria.
“Estas cartas apresentam uma espécie de radiografia espiritual de comunidades diversas e aquilo que é dito a cada uma das igrejas é também dito pelo Espírito Santo a todas as igrejas, o que, no momento em que nos encontramos a discutir a sinodalidade, é muito interpelador” refere o sacerdote numa entrevista ao Sítio Igreja Açores que pode ouvir na íntegra este domingo depois do meio-dia na Antena 1 Açores e no Rádio Clube de Angra.
“As cartas apontam para a questão da escuta daquilo que o Espírito diz aquelas igrejas e continua a dizer hoje a todas as igrejas e que deve ser assimilado por cada uma” enfatiza sublinhando uma questão transversal que se coloca a todos e que é a da conversão.
“O mundo não vai de feição mas Cristo diz sempre arrepende-te, reconsidera o teu caminho e este apelo não é à igreja no sentido genérico ou abstracto mas é a cada um de nós”, acrescenta.
“Não podemos querer uma igreja muito diferente se não nos convertermos” esclarece ainda identificando “elogios e censuras” numa igreja “que é poliédrica” e que , por isso, precisa “de aprender a não estar à espera das decisões de Roma para se resolver”.
“Ao longo da história a igreja teve situações muito diversas e se estivermos, agora, à espera de encontrar alguns consensos para darmos alguns passos, se calhar , estamos a ir pelo caminho errado”, alerta.
“Jesus apresenta-se de maneira diferente em função da realidade concreta; a inculturação do evangelho em cada realidade é um caminho que precisamos de percorrer. É claro que é preciso estarmos todos atentos a todos, mas sem perder esta realidade concreta” adverte destacando o mal da autorreferencialidade que é tanto maior quanto menor for a vocação missionária da igreja.
“Muitas vezes os nossos problemas internos resolvem-se com a nossa vocação missionária. As questões internas precisam de ser resolvidas mas é a atenção à realidade das pessoas que relativiza os nossos próprios problemas”, diz , por outro lado.
“Precisamos de um renovado ardor, afeto e amor por Jesus e pelo Povo de Deus” sobretudo no continente Europeu onde se percepciona “um certo cansaço da fé, uma certa tibieza que nos arrasta e que nos contamina e diminui a nossa paixão missionária”.
“Sem ela continuaremos a manter uma estrutura para dar resposta aos problemas emergentes mas falta-nos depois o evangelho encarnado para levar esta paixão aos irmãos”, prossegue.
“Muitas vezes, cumprimos funções, desdobramo-nos em atividades e não damos testemunho deste amor, desta amizade radicada em Cristo” diz.
“Nós andamos a fazer coisas de nosso Senhor mas sem olharmos para nosso Senhor, um pouco como aquele pai que se mata a trabalhar pelos filhos mas que depois não olha para os filhos” diz ainda.
“Precisamos de cuidar espiritualmente da oração, fazer uma boa celebração, que não seja apenas uma rotina” conclui.
A entrevista do padre Amaro Gonçalo Lopes, que é pároco na Senhora da Hora e em Guifões na diocese do Porto, passa na Antena 1 Açores e no Rádio Clube de Angra este domingo depois do meio-dia.